Capítulo 1

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O sol estava começando a se esconder atrás de uma cortina de nuvens baixas, tingindo o céu de um laranja profundo. Eu dirigia por uma estrada longa e sinuosa, cercada por uma vegetação densa e verdejante. As árvores, altas e robustas, se erguiam ao longo dos dois lados da estrada, suas copas entrelaçadas formando um túnel de sombras que dançavam à medida que o veículo passava. O som da música de Taylor Swift, "The Last Great American Dynasty", preenchia o carro, a melodia suave e nostálgica contrastando com a minha confusão mental interna. O GPS, com sua voz monotona e precisa, indicava a próxima curva enquanto eu lutava para processar a realidade de estar a caminho de Ravenholt. A cidade parecia estar no fim do mundo, um refúgio improvável e inesperado, mas, de alguma forma, era exatamente onde eu precisava estar. A herança da casa de minha avó paterna, uma figura que eu nunca conheci e que, até onde eu sabia, nunca fez questão de se conectar com minha família, era um conceito estranho e perturbador.
Havia mais de um ano desde o falecimento de meus pais, e a ausência de minha avó no enterro e em qualquer momento subsequente só havia alimentado um misto de desconfiança e apatia em relação a ela. Nunca houve cartas, telefonemas ou visitas; ela parecia ser uma sombra distante na nossa vida, um enigma não resolvido. Agora, de alguma forma, essa mesma pessoa havia deixado para mim uma casa em um lugar que nunca tinha ouvido falar. O que poderia ter levado a essa decisão? Por que agora?

A estrada parecia interminável, e eu me sentia deslocada, um espectador involuntário de um destino que havia me lançado em meio a um cenário desconhecido. A cada quilômetro percorrido, o sentimento de incerteza crescia, misturado com uma pontada de esperança. Espero que essa cidade e essa casa escondam algo que possa ajudar a redefinir minha vida, dar um novo significado ao que parecia perdido. Quando o GPS anunciou a aproximação da entrada principal de Ravenholt, o ambiente ao redor começava a mudar. As árvores se afastavam para revelar uma visão mais ampla da cidade. Eu respirei fundo, tentando afastar o turbilhão de emoções e me concentrar na estrada à frente, na expectativa de encontrar um lugar que pudesse, de alguma forma, ser o refúgio que eu tanto precisava.  A visão era um contraste marcante com o caos urbano de Nova York. A rua comercial se estendia diante de mim, uma sequência de edifícios rústicos com uma arquitetura antiga que pareciam um cenário de um filme antigo. Restaurantes acolhedores e boutiques elegantes se alinhavam lado a lado, e o brilho dos letreiros de lojas de vinis e bibliotecas criava uma sensação de nostalgia e tranquilidade.
Eu passei por uma pequena livraria cujas janelas exibiam uma coleção de volumes encadernados que pareciam saídos de outra época. As ruas eram limpas e bem cuidadas, e a atmosfera era palpavelmente mais tranquila do que o frenesi habitual da cidade grande. Era como se eu tivesse atravessado para um cenário de conto de fadas, onde o tempo corria mais devagar e o ritmo da vida era um pouco mais gentil. Dirigi até um restaurante que parecia mais um bar do que um local sofisticado. A placa de madeira rústica acima da porta, com o nome "Steve's Bar", parecia convidativa e acolhedora. O aroma da comida fresca que emanava do local fez meu estômago revirar com fome. A viagem de mais de dezoito horas desde Nova York havia sido um teste de resistência, alimentada apenas por uma combinação tenebrosa de salgadinhos industrializados, energético e refrigerante. Eu mal podia esperar para experimentar algo que não fosse um pacote de batatas fritas ou uma lata de bebida açucarada.

Estacionei o carro e entrei no restaurante, sendo imediatamente envolvida por um aroma reconfortante de pratos caseiros. O ambiente estava acolhedor, com uma decoração mesclada entre verde escuro e vermelho vinho que combinava perfeitamente com o charme da cidade. Uma luz suave iluminava as mesas de madeira e o som de conversas amigáveis e risadas preenchia o espaço. O calor e o aroma eram uma verdadeira salvação após a longa jornada. Sentei-me em uma banqueta em frente o balcão e comecei a folhear o cardápio, ansiosa por algo que pudesse restaurar a energia e o ânimo que haviam sido drenados pela viagem. O que quer que este lugar tivesse a oferecer, eu estava pronta para aproveitar cada momento desta nova fase, na esperança de que, finalmente, encontrar algo mais significativo e pessoal pudesse me ajudar a desenterrar minha carreira.

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