Há muitas pessoas na minha escola. 4614 alunos, sem contar com professores e funcionários, e eu nem conheço metade. No entanto, há uma pessoa que sempre me chamou á atenção, porque sempre esteve lá e, ainda assim, nunca lhe dirigi a palavra.
Blake Turner.
Ele é bastante reservado, apesar de até ser popular, o que me intriga um pouco. Não é o quarterback nem nada do tipo – até porque não joga futebol – mas também não é o mais "insignificante". Se eu sempre tive um fraquinho por ele? Não sei se se pode considerar isso, mas sempre o achei bonito, para dizer o mínimo. Tem os olhos verde-escuros, um cabelo preto incrível (que fica melhor ainda quando ele ajeita a franja pondo-a para trás) e um sorriso que só vi uma vez mas que me ficou gravado no cérebro.É exatamente por isso que quando o vejo entrar na mesma sala que eu, mal consigo acreditar nos meus olhos. E quando ele passa mesmo ao meu lado para ir para o fundo da sala, passo-me por completo.
Hoje tiveram a brilhante ideia de juntar duas turmas. Adivinharam! A minha e a dele. Neste momento devem estar a questionar-se que raio quero eu dizer. Pois eu esclareço: querem que façamos um trabalho destinado a ser apresentado no fim de ano á escola. Em pares.
Misturados.
Para "promover a complementaridade inter-turmas e entre os alunos".
São ideias destas, vindas dos professores, que me fazem questionar se eles foram da minha idade ou já nasceram com 45 anos e a dar aulas. Parece que não sabem o que é ser socially akward.
Pois, Lilith. Talvez não saibam mesmo.
Os nomes, bem como os temas, vão ser sorteados. Em cima da mesa estão dois montes de papéis pequenos, com os nomes de cada um dos...40 alunos que estão aqui dentro. Novamente, mais de metade são pessoas que nunca vi. Sim, adoro a vida.
O único aspeto positivo deste sorteio é que me tira dos ombros o peso, constrangimento e tudo o que possam estar a imaginar dos ombros. Especialmente tendo em conta a minha maneira de ser. Se nos deixassem por nossa conta para nos juntarmos eu ia ficar sozinha. Até dou duas vertentes:a) Ninguém ia sequer perceber a minha existência, portanto ia ser deixada solamente sola.
b) Eu, Lilith Miller, não ia falar com ninguém por mim. Socially akward.Como veem, não me está a apetecer estar aqui, especialmente porque ele está aqui. Apesar de estar longe, sinto, de alguma forma, a sua presença. E isso irrita-me mais ainda.
Os professores estão a fazer um suspense completamente desnecessário a tirar os papeis, e contam-se pelos dedos as pessoas que estão a gostar da experiência. Mudo o meu peso para o pé esquerdo e acabo por encostar-me sem querer a alguém. Quando me volto a endireitar e levanto os olhos para pedir desculpa, quase grito.
Ele está aqui. Tipo, ao meu lado...e nem sei como. O seu ombro está a centímetros da minha cabeça. Quando foi que ele se tornou tão alto?
Sinto-me subitamente nervosa, nervosa como não me sentia desde que tive de ir tirar o dente do siso e de ficar horas sob efeito de anestesia. Não me julguem, ok?Quanto á minha situação, não é bem a mesma que a dele, mas também não é a pior. Tenho um grupo pequeno de amigas e ninguém mexe muito connosco. Para mim, é o suficiente...quase sempre. Tipo, agora, não é suficiente. Nem de perto, nem de longe.
Faltam já poucos nomes, quatro, para ser mais precisa, e dois temas.
– Blake Turner. – A professora Davis anuncia e ele põe o braço no ar. – Boa...vais trabalhar com... – ela tira um papel da outra caixa e o meu coração bate forte dentro do peito. Os meus olhos ficam colados na sua mão. – Lilith Miller.
Boa! Vou trabalhar com ele. O rapaz que me deixou com as pernas a tremer só por ter estado ao meu lado por pelo menos 10 minutos.
– Lilith?... – chamam-me novamente e só aí ponho o braço no ar. Depois de ele olhar para mim. Ele sabia que era eu?
– Vocês vão ter de escrever sobre...a violência nos relacionamentos. Pode abranger o que quiserem. – O professor Morris toma a palavra.
Depois disso, formou-se o último par, por óbvia exclusão de partes, e toda a gente foi dispensada. Olho para ele de relance e respiro fundo, sem saber bem como abordá-lo. É que toda a gente saiu com os respetivos pares, a conversar, e em direção á biblioteca. Só aí estão dois problemas: nós não falamos um com o outro e não me parece que algum de nós vá tomar iniciativa, e também não vamos ter lugar aqui para começar a estruturar o trabalho.
– Então...como vamos fazer isto? – pergunto sem saber bem como construí a coragem para tal. A verdade é que alguém tinha de abrir a boca. Ele não respondeu. – Olha, Blake, sei que não estás muito feliz por trabalhar comigo, mas não é como se tivesses outra opção...– resolvo brincar, numa tentativa de aliviar a pressão, quebrar o gelo. Não adiantou.
Saímos da sala e o silêncio permaneceu. Eu não disse mais nada.
Tentei não dizer.
– Sabes onde é o gabinete da prof. Davis? – a minha nova pergunta faz com que ele forme um ponto de interrogação na testa, talvez por pensar que eu sou chatinha, talvez por não perceber o sentido da questão. Não sei o que lhe vai na cabeça e acho que nunca vou perceber. – Esquece. Encontro-o eu própria. – Digo, virando-lhe as costas e sigo pelo corredor.
– É no segundo piso, a porta escura ao fundo do corredor. Mas não sei se ela vai lá estar. – Ele finalmente fala. OH MEU DEUS! Ele fala!
– Hum...obrigada. – volto-me novamente para ele, que continua no mesmo sítio. Bem, isto é que é relutância! – Vou tentar falar com ela, ver se é possível mudar de par. Sabes, resolver o teu problema.
Não consigo evitar o sarcasmo ao responder-lhe. Ele solta o ar que estava a prender.
– Não...não precisas de fazer isso. Eu nunca disse que trabalhar contigo seria um problema. – mostra-se ofendido. Juro que cada a dia percebo menos os rapazes. Primeiro, olha para mim quando mais ninguém ali dentro sabia da minha existência, depois finge que eu não existo quando estou a tentar falar com ele, e agora que estou a tentar livrá-lo do sofrimento que seria estar comigo diz-me que estou enganada. A sério, como é que é suposto pensar ao pé dele? Depois é tão...ugh...irrita-me a forma como me olha. Malditos olhos verdes!
– Como devo interpretar o teu silêncio há 5 minutos, então? – questiono, realmente confusa.
Como um peixe, ele abre a boca, mas fecha-a logo a seguir. Intrigante.
– Temos pouco tempo, então seria bom que te decidisses. Era melhor começar, pelo menos a fazer um brainstorming, já hoje. – Sugiro e ele solta uma risada nasal, dirigindo-se a mim. Confesso que isso me surpreendeu.
– Sim, tens razão...ahm...em tua casa? A biblioteca deve estar cheia. – Dou de ombros, numa tentativa de assumir uma postura indiferente. Porque é que sou assim?
– Pode ser. Temos a tarde, sempre dá para alguma coisa. Dá-te jeito? – pergunto e ele continua a andar dando-me resposta sem recorrer a palavras. Com poucos passos conseguiu alcançar-me e ultrapassar-me.
– Vens? – quando ouço a sua voz e vejo que está a segurar a porta do corredor para mim, a minha postura desaparece e tenho de fazer um esforço descomunal por não sorrir.
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Long Stories Short
RomanceAqui vão encontrar várias histórias, umas maiores que as outras, com diversas personagens mas um tema: o amor. Divirtam-se!