Incompreensível

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Jisung nunca esperou ser exatamente moldado no esperado socialmente há séculos desde que… Sei lá, desde que a sociedade tem um molde pré-definido de o que é esperado de cada um dos indivíduos que participa desta. Ele só nunca esperou, também, não se encaixar fora do molde. 

Seus pensamentos não eram, sequer de longe, seus melhores amigos. Para retratar com realidade, quanto mais pensava, mais podia se ver se odiando. Sua mente fazia um excelente trabalho, diferente de si como um todo.

Porque Jisung sempre se esforçou para atender às exigências, mesmo quando não se achava bom o suficiente para algo, ou experiente o suficiente. Mesmo com os elogios, nada parecia real, e dizia isso também por si próprio, não se sentia qualificado para ser um humano, diferente de tantos outros que pareciam nascer sabendo. Era tudo… Estranho demais dentro de si.

Sequer se via gostando do que gostava, amando quem amava, se divertindo com suas diversões. Era tudo vago demais, quase como se estivesse se forçando a ser minimamente entusiasta por tudo. Mas não conseguia, sentia que nunca conseguiria. E não saber o que lhe impedia de aproveitar cada momento o deixava louco. 

Sentia que nunca ia saber qual era o seu lugar no mundo, se é que em algum momento teve ou terá algum. 

E ele se contentava em não fazer diferença, em ser apenas mais um. Quantos outros também não são, não é? 

O que lhe incomodava era não saber quem era, por si próprio, para si próprio. Só queria se conhecer o suficiente para ser especial dentro dele mesmo. 

E não era como se não tentasse de tudo, sequer a terapia ajudava em sua autodescoberta em determinado ponto, não seria mudar seus grupos de interações que ajudaria, certo?

Porque não era como se gostasse de fumar, a forma como a fumaça inalada queimava sua garganta a cada tragada e como alguns cigarros lhe deixavam tonto o irritava e o tornava fisicamente incapaz de aproveitar enquanto sob o efeito. Com a maconha era diferente, ele se sentia fora de si, como um telespectador de si próprio, e com aquilo ele já era acostumado, o seu problema era o tesão que parecia se acumular com o efeito, e ele não tinha ninguém para dar um jeito naquilo, e sequer queria quando a sobriedade lhe atingia. Com o álcool era um caso parecido, ele precisava estar muito afim para se dar bem com ele, o que era um caso raro, e quando acontecia, só combinava com uma cama e boas horas de sono. Fora as drogas, tinham as danças consideradas inapropriadas para os momentos e os livros criticados pelas pessoas. Talvez a falta de uma paciência verdadeira lhe fizesse tão anti-social daquela forma. E era isso, era esse quem ele era.

Por mais que gostasse da presença de alguém, por mais que precisasse de alguém ao seu lado, nunca encontraria quem preenchesse todos os requisitos, quem estivesse ali sem um motivo maior. Sabia exigir demais, queria um namoro sem ter que namorar, queria alguém do seu lado simplesmente por gostar de si sem que o sufocasse, e aquilo era quase impossível. Havia tido uma pessoa que chegou perto, mas sentimentos românticos aconteceram e acabaram com tudo, e ele tinha ficado mais uma vez para trás, ele e seu coração partido pela perca de uma amizade, era assim que continuaria sendo.

Jisung não conseguia se conectar, não queria criar raízes, não se sentia digno de nada daquilo, e ele se esforçava, mas parecia ser tudo em vão. Sequer o curso em que estava na melhor universidade o bastava, porque não era o que queria, não era o que sentia vontade de fazer, não era quem ele era realmente. 

E o que era ele, se não feito para agradar? Quem era ele, já que não conseguia se encontrar?

E ele corria atrás de respostas todos os dias, e elas sempre estavam mais e mais distantes. Poderia correr atrás de saber tudo sobre si todos os dias, e seus pés sangrariam, cairiam, mas ele não encontraria respostas. Nunca encontrou e nunca irá. Estava destinado a ser sempre um pobre coitado perdido sem ter como encontrar respostas para perguntas que ele ainda não tinha. 

Park Jisung estava em uma busca incessante. Buscava saber quem ele era, como era, do que gostava, o que queria fazer, quem ele queria ser, e nada parecia certo. Se sentia um erro, programado com essa configuração exata que tanto o fazia se sentir mal consigo próprio. A todos os momentos, em todos os seus dias.

Ele só queria a afirmação certeira de que aquilo, um dia, iria passar. De que ele, um dia, iria se encontrar, iria saber quem era, iria associar seu rosto ao seu nome. Iria ter um rosto e um nome próprio, finalmente iria ser alguém. Alguém do qual não se esqueceria facilmente, qual não se esqueceria de jeito nenhum,

No momento poderia negar, mas só queria um abraço quente e confortável, qual pudesse ter o rosto enterrado nos ombros de alguém e chorar suas mais infantis mágoas, queria ser acolhido como uma criança que é amada e tem importância, queria ser algo para alguém, e de preferência que fosse para si próprio, assim enxugaria suas lágrimas quando tivesse terminado de chorar e faria florescer novamente em seu rosto um grande sorriso, seria tudo para si, e talvez mais um pouco. Não queria se arrepender de ter se conhecido, como fazia todos os dias, perdido dentro de si, um intruso que não sabia quem era, como um pensamento indesejado, como um desejo invasivo. 

Queria ser ele próprio, antes de tudo. Queria saber quem ele era, apenas para ser capaz de lhe reconhecer, sequer precisava se amar. Ele já amava demais aos outros, para que precisaria de amor para si? Ele se virava com o pouco que tinha, como fazemos com a comida da geladeira ao fim do mês.

Jisung não só queria apenas ser alguém, como queria ser alguém qual conhece, ainda que o mínimo.

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⏰ Última atualização: Jul 24, 2023 ⏰

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