capítulo 1

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Leane

- Haaa!

Acabei de acordar, eu tive outro pesadelo. Sento-me na cama. O despertador marca 03:42h da madrugada, e desde que minha mãe faleceu a cinco anos atrás tenho tido esses pesadelos que acabam comigo, tem dias que durmo tranquila e esses dias são os melhores.

- Leane, pare de gritar. - Ouço os passos da minha tia subindo as escadas, a porta é aberta e o cheiro de álcool com a mistura de cigarro torna insuportável o ar no pequeno quarto. Tirando o fato de que a quantidade de umidade já é um problema.

- Desculpe! Não quis incomodar.

Minha voz não passa de um sussurro, odeio ser essa inútil, fraca e sem controle do meu corpo.

- Eu já estou de saco cheio de você e suas loucuras. O que eu podia esperar de você? Como fui burra. Deveria ter deixado a polícia tomar conta de você... A puta da sua mãe não foi nem capaz de ser inteligente e ir atrás do pai, se é que ela sabia quem é seu pai. - Se a pouco eu havia ouvido ela gritando, agora ela está a ponto de me deixar surda, eu suporto quando ela me ofende, mas quando ela começa a ofender a minha mãe, sinto algo crescer dentro do meu corpo...A irá me cega, tudo o que eu gostaria de fazer era bater nela com todas as minhas forças e fazer com que ela retirasse tudo o que havia falado. Me levanto, só para ter a noção que eu nunca conseguiria vence-la.

- Você me fez perder outro cliente, sua imbecil. - Sem nenhum aviso ela me dá um tapa no rosto, sinto minha pele queimar onde o golpe havia sido desferido. - Já é o segundo cliente nesta semana, eu não te suporto mais. Eu vou acabar com você se fizer isso de novo.

- Tia... - Esfrego meu rosto não sei se as lágrimas ou sangue escorre por minha face. Ela para de andar pelo quarto, e imediatamente seus olhos encontra aos meus. Quando cheguei nessa casa tudo era diferente. Minha tia era jovem e saudável, sua casa era mais bonita que a que eu morava com minha mãe. Seu sorriso era doce. Agora ela é uma sombra do que já foi, os cabelos que antes eram macios e cheirosos agora são oleosos, esta caindo. Ela veste a mesma roupa por vários dias deixando à mostra seu corpo que contém feridas e marcas.

- Eu já te disse para não me chamar assim. Você sabe o meu nome. Diga-o!

- Desculpe.

- Agora desça e arrume está imundice de casa.

- Sim senhora.

Espero até que ela saia, não gosto de dar as costas para alguém que passa o dia ameaçando me matar. Tantas as vezes ela já me machucou que não deixa espaços para dúvidas.

Lembrei que hoje é meu aniversário de dezoito anos! Dezoito anos, quantas garotas não sonha com esse dia? Quantas garotas não alcançam esse dia? Eu não tenho motivos para fazer desse dia algo especial, não tenho amigos, não tenho família, só tenho a minha tia que me trata feito um lixo, e isso já faz cinco anos, cinco anos eu vivo com ela, cinco malditos anos de humilhação e sofrimento, e eu só queria fugir daqui, mas não consigo.

Eu não trabalho pelo fato de viver trancada aqui. Depois que minha mãe faleceu não pude nem mais ir à escola! Antes que fique triste lembrando dos dias que passei com ela. Mantenho o foco na limpeza.

Depois de horas termino de arrumar tudo, vou até a cozinha ver se tem algo para comer. Mesmo com todas as dificuldades sorrio, posso fingir que estou de dieta. Não tem nada além de água e um saquinho de legumes picados, então resolvo me imaginar em algum programa de culinária, e pego o saquinho coloco na panela olho no armário e só tem um pacote de macarrão.

Isso está bom, vai dá para aguentar por mais alguns dias, eu estou faminta, ontem não tinha nada por isso fiquei com fome o dia inteiro. E quando tem eu agradeço meu Deus por esse alimento. Agradeço enquanto cozinho. E agradeço por ainda está viva.

VENDIDA: OS MONTENEGRO IOnde histórias criam vida. Descubra agora