Cheguei no Brasil com cinco anos de idade e sabia falar japonês, português e italiano. Duas dessas línguas eram completamente inúteis para mim e eu tive que me acostumar com o povo maluco desse país.

 No Japão, ninguém abraçava ninguém, no máximo faziam uma reverência para mostrar seu afeto e respeito. Então, quando cheguei na casa dos meus avós, quase fiquei sufocada com a quantidade de contato humano que eu recebi. Eram beijos para cá, abraços para lá e uma Naomi completamente confusa.

 "Elisa! Finalmente você voltou para casa." - Minha avó falava. - "Eu e seu pai estávamos preocupados."

 "Preocupados? Eu estava completamente perdido! Você passou anos fora de casa e agora volta para cá casada e com uma filha!" - Meu vô reclamou.

 Eu ouvia toda a discussão com o meu pai que tentava fingir que não entendia nada, mas nós dois sabíamos que ele já tinha aprendido o português muito bem.

 "Querida, você gostaria de tomar um sorvete?" - Meu pai perguntou.

 "Não, papai! Quero ficar aqui com a vovó e com o vovô."

 Meu pai desistiu de tentar me convencer a não ouvir o sermão de meus avós e pensou que eu esqueceria tudo. Mas, eu não esqueço de nada. Especialmente do início da minha vida no Brasil.

 Passamos uns quatro anos morando com os meus avôs até que meu pai conseguiu achar um bom emprego e pagar uma casa só nossa. Porém, eu me apeguei demais aos velhinhos, que com o tempo também não conseguiam mais sair de perto de mim.

 "Tem certeza mesmo que você vai querer se mudar, minha filha?" - Minha avó perguntava.

 "Sim, mamãe. A senhora já não acha que passou da hora de eu e o Lorenzo termos uma casa própria?"

 "Ela tem razão." - Meu vô disse. - "Mas sentirei muito a falta de vocês, especialmente da pequenina."

 Duas semanas depois, meus pais e eu estávamos morando na casa nova, mas todo final de semana eu estava de volta na casa de meus avôs.

 "Aaaah, finalmente a minha pequenina está de volta!" - Meu avô dizia ao me abraçar.

 "Venha, Naomi! A vovó fez aquele bolo que você adora." - Minha vó me chamava da cozinha.

 E assim, os anos foram se passando. Nunca mais voltei ao Japão e também nunca conheci a família do meu pai.

 Entrei em um colégio e desde o início meus pais se preocupavam demais, o que só piorou depois que eu fui ficando mais velha. Eles notavam que as minhas notas estavam sempre muito altas e eu não fazia muito esforço para isso. Falavam que talvez eu fosse superdotada mas eu não acredito nessas coisas... Eu somente aprendia com facilidade.

 Por sempre ser a melhor da classe eu sofria bullying no colégio, mas isso não me incomodava tanto. Sempre tinha meus amigos do meu lado, especialmente minha melhor amiga Cassandra.

 Eu e Cas sempre estudamos juntas desde o jardim e ,por causa disso, tanto nós quanto a nossa família eram muito amigas. Andávamos juntas para todos os lados e quase sempre eu estava em sua casa ou vice e versa.

 Cas estudava muito para tirar notas altas, diferente de mim, que não estudava nada. Eu sempre a ajudei com tudo que podia no colégio mas ela se destacava sozinha. Cassandra tem os cabelos castanhos e os olhos esverdeados, porém ela sempre quis ser loira dos olhos azuis, ou melhor dizendo, uma Barbie. Ela era linda, inteligente e educada, um doce de pessoa até com quem não merecia, fato que me dava nos nervos às vezes.

 "Você tem certeza que vai emprestar seu dever para ele? Na última semana ele quebrou sua garrafa de água e nem pediu desculpa!" - Eu dizia.

 "Ah, não faz mal. Não consigo mentir para ele ou ser grosseira, então vou emprestar logo." - Cas falou.

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