Capítulo 1

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"Olha, eu vou ter que confessar... Eu fiquei surpresa quando você me chamou pra cantar com vocês." Euterpe se abaixou para pegar um fio e começou a enrolá-lo para ajudar. Davi e Gê estavam levando a bateria de volta para o teatro, enquanto Isa ficou no bar para terminar de guardar a mesa de som e os restante das coisas.

O Bar do Rogerinho já estava praticamente vazio e quase todo apagado. A apresentação da Nossa Banda foi um sucesso e animou a todos que estavam ali, incluindo aqueles que não gostavam tanto assim de música. Porém, já era tarde da noite, e as pessoas já estavam em suas casas.

"Ai, Euterpe! Que susto." Isa pulou quando ouviu a voz da mulher, mas sorriu ao fim. "Ah, não tinha outra opção. Sua voz é linda... Canto Belo tinha que te ouvir cantar. E foi uma honra pra gente, enquanto banda."

"Olha que assim eu vou ficar me achando..." Euterpe entregou o fio que estava enrolando para Isa. "Eu achei que nossas vozes ficaram muito bem juntas."

"Sabe que eu achei também?"

"Nós deveriam fazer isso mais vezes... Aliás, eu não te vi mais lá no teatro, depois que as férias da escola começaram."

"Ah... É que aconteceu tanta coisa, a Luara não estava bem, e as coisas do mestrado..."

Euterpe se aproximou e sentou-se na mesa próxima à Isa, porém, sem olhar para ela. "Bom, sua irmã já tá melhorando, entrou pro teatro, acho que você já pode voltar a aparecer por lá."

"Eu adoraria-"

"Te vejo amanhã então?" Euterpe ficou em pé.

"Euterpe. Eu vou voltar pra Ventura, pra fazer o meu mestrado. Não posso ficar aqui e  voltar para o teatro."

"Poxa, que pena. Você gosta tanto daqui. Dá pra perceber o quanto aqui te faz bem..."

"Dá, é?"

"Sim, fica estampado em você."

"Então, você tava prestando atenção em mim?"

"Tava."

Isa não conseguia entender a calmaria que emanava da voz de Euterpe, mas de alguma forma, fazia todo o sentido para ela, e ter descoberto que a mulher olhava para ela com atenção fez saltar algo dentro de si. Algo como borboletas.

"Eu posso saber o porquê?" Isa se aproximou mais e colocou a mecha azul de cabelo atrás da orelha de Euterpe.

"Você é linda, canta bem, é inteligente, você tem muitas qualidades. Qualquer pessoa olharia pra você com mais atenção."

"Uau..."

"Que foi?"

"Você disse tudo isso sem nem olhar pra mim."

"Ah, eu não posso."

"Não pode ou não quer?"

"Os dois."

"Eu estava começando a achar que você tava a fim de mim." Isa soltou uma respiração mais pesada junto com as palavras, tirando coragem para perguntar aquilo.

"Eu tô."

"E não vai dizer nada disso olhando pra mim?"

"Já disse, eu não posso. É complicado."

"Se você tiver com vergonha ou com medo de alguma coisa, não precisa. Eu sou bi, e depois que eu terminei com o Davi, eu realmente fiquei mais interessada em você."

"Você não entenderia."

Euterpe virou o rosto para a direção de Isa, mas não abriu os olhos. Ambas estavam a poucos centímetros de distância entrei si, e a mão de Isa descansou na de Euterpe.

Não olha assim pra mimOnde histórias criam vida. Descubra agora