Capítulo 1 - O anúncio

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Na ala leste da maior construção localizada no reino de Khord, o herdeiro do trono observava a vista, apoiado na varanda de seu quarto.
A visão do grande jardim do castelo era tão comum ao rapaz, que já havia decorado até o nome de cada planta exótica espalhada pelo ambiente. Apesar de tudo, era uma visão que sempre valia a pena observar.

Um papel um pouco amassado estava em sua mão. Mesmo a distância, podia-se enxergar um símbolo brilhando bem no centro, uma coroa real dourada, destacando o simples papel como um documento oficial do reino.

Muitos pensamentos diferentes passavam na cabeça de Alexander Lightwood, o herdeiro legítimo do reino de Khord, filho primogênito de Robert Lightwood, que tinha falecido há pouco mais de 3 meses. A invasão dos rebeldes na parte mais nobre do império ainda era um problema que martelava sem parar em sua mente.
Sua mãe, Maryse Lightwood, estava fazendo o melhor para lidar com o que podia do reino.
Era uma excelente rainha, mas o povo pedia por mais autoridade, mais firmeza.
O povo pedia por ele, para assumir o seu cargo e acabar com os problemas.

Alexander não era muito conhecido por sua paciência. Fora das câmeras, o seu estresse era perceptível a vários metros de distância, onde camareiras e guardas saiam do caminho o mais rápido possível, para não darem de frente com o explosivo herdeiro.
Nos últimos dias, o seu humor piorou consideravelmente. Sua mãe, juntamente com o conselheiro Hodge, tomou uma decisão desesperada, em busca de entreter os súditos de Khord com a única coisa que os deixariam vidrados por um tempo.
Normalmente, Alexander não se importava muito com as decisões do conselho e da rainha que envolvessem suas aparições em público ou até mesmo no jornal.

Dessa vez, porém, era diferente, ela queria que ele se casasse, e ainda pior do que isso, ele deveria escolher o futuro príncipe ou rainha consorte em um espetáculo assistido para todo o reino, onde cada interação, cada conversa ou movimento seria filmado e transmitido para os cidadãos, tornando sua pouca privacidade, se é que ele tinha uma, ainda menor.

Uma leve batida na porta da varanda tirou o jovem de seus pensamentos, para quebrar sua privacidade desse modo, ele já sabia quem deveria ser.
Ao se virar, ele encontrou com quem já esperava, sua irmã, Isabelle Lightwood. Ela estava em pé, com os braços cruzados, olhando em sua direção com o rosto sério.

- Alec - começou ela, com a voz firme. - Eu ainda não entendi o motivo de toda essa birra. Uma hora ou outra isso iria acontecer.

O rapaz a encarou, mesmo com a luz baixa, conseguia enxergar o olhar decidido da mulher. O cabelo estava preso em um coque, alguns fios estavam soltos, o que indicava que ela ainda não estava pronta para descer até o salão de jantar. Maryse sempre exigia que todos estivessem perfeitamente alinhados, como estátuas expostas, até mesmo nos jantares informais onde somente eles comiam.

- Eu imaginei que aconteceria - respondeu ele, grosseiramente. - Mas não com uma multidão assistindo cada passo que eu dou, e ainda escolhendo e torcendo pelos seus preferidos, como se eu não tivesse algum direito de escolher meus sentimentos.

Isabelle se aproximou dele, os braços ainda cruzados, e a expressão ainda mais fechada.

- Escolher sentimentos, Alec? Não é como se você ainda tivesse dezessete anos, deixe essas bobagens de sentimentos para o Max e assuma seus compromissos. Quisera eu ter uma seleção.

O rapaz ficou aborrecido, era algo tão simples de compreender, por que ela não tentava ao menos enxergar o seu lado? As vezes, gostaria que ela fosse mais velha, teria poupado muitas preocupações e dores de cabeça.

- Você ao menos já sabe como seu futuro marido é, minha irmã, não se esqueça disso. Eu nunca vi nem sequer conversei com qualquer uma das pessoas que serão selecionadas hoje, não tente comparar as situações. E se quer tanto assim uma seleção, fique a vontade, pode tomar o meu lugar! Eu não me importo!

Você sabe que eu não posso - Ela retrucou, levantando a voz - meu casamento também foi decidido por outra pessoa, e você sabe bem, até ajudou a escolher. Então não vejo motivo para quando chegar a sua vez, você simplesmente ficar dando ataques.

Alec passou resmungando por sua irmã, entrando no quarto. Não adiantava o quanto ele falasse que tudo foi armado pelo próprio Hodge, ela sempre se lembraria que ele teve parte nisso.

- Tudo bem, não vou discutir com você Isabelle. Agora saia, já está quase na hora de descer para o jantar e você ainda está desarrumada. Eu preciso tomar um banho.

Ele sabia que ela não deixaria essa discussão encerrada, e na primeira oportunidade de retomar o assunto, ela voltaria. Mas por agora, ele estava sem vontade nenhuma de discutir. Jogou o papel em cima de sua mesa, onde vários livros e papéis amassados estavam jogados e suspirou. Tocou o sino que ficava perto do batente do banheiro, e uma portinha bem discreta, localizada no canto mais afastado do quarto, se abriu.

Um homem de aparência mais velha, trajado com um terno simples preto apareceu. Ele não tinha mais cabelos, e a barriga saliente estava apertada pela camisa. O nome do homem era Valentim.

-Pois não, alteza? O que precisa que eu faça?

-Valentim, poderia preparar a banheira? Eu preciso de um banho antes de descer para o jantar, e separe uma roupa formal para o jornal. Hoje será o dia do anúncio.

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⏰ Última atualização: Jul 27, 2023 ⏰

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