Todos já devem ter ouvido falar sobre as lendas do folclore brasileiro. Histórias consideradas irreais, frutos da imaginação criados com as mais diversas intenções, como afugentar, distrair, manipular, amedrontar, justificar, e por aí vai. O que não sabem, é que muitas delas estão erradas, e que a partir de hoje, poderão decidir qual delas irão contar aos seus filhos antes de dormir. As conhecidas e mágicas histórias cheias de propósitos ou as histórias verídicas que são frutos de uma família disfuncional?
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Era lua cheia do mês de junho. Uma noite um tanto fria, mas confortável e convidativa para as comemorações. Músicas temáticas, danças de quadrilha, fogueiras, balões e muita comida típica do mês. Noites em que moças e rapazes se esqueciam dos problemas e brindavam com seus copos cheios de quentão em pura alegria.
O palco estava montado para as apresentações e uma bela morena de cabelos pretos e olhos castanhos aguardava sua vez. Após os aplausos recebidos pelos sanfoneiros, a garota subiu e silenciou o público. Primeiro, com sua beleza estonteante jamais vista. Depois, com a voz mais pura e doce jamais ouvida.
Todos estavam rendidos e hipnotizados pela jovem, até mesmo ele, o homem mais sedutor da terra. Vestia roupas e sapatos brancos, além de um belo chapéu no topo de sua cabeça, o que lhe conferia um charme ainda maior. Mas diferente daquela moça virgem e pura, era a encarnação da tentação. Não havia donzela capaz de resistir ao seu magnetismo. Seu arsenal de sedução deitava todas as belas jovens, que perdidas de amor, entregavam sua pureza sem qualquer objeção.
Uma vez ao ano, numa única noite de lua cheia de junho, ele elegia a mais formosa da festa e a presenteava com um filho em uma noite mágica e cheia de paixão. Uma madrugada onde os suores trocados eram transformados em lágrimas ao amanhecer, assim como toda a paixão era substituída pela mágoa. O momento em que todas as perfeitas curvas tocadas com um entusiasmo avassalador, passariam gradualmente a ganhar um volume indesejado, carregado de rancor e ressentimento pelo abandono. O choque térmico dos corpos quentes numa despedida fria, onde sem qualquer remorso, ele fazia seu caminho de volta ao rio, já saciado de todos seus desejos carnais e sem se importar com as sementes plantadas em cada visita.
Mas algo aconteceu naquela noite. Quando ouviu aquela voz e mirou aqueles olhos, sentiu o que jamais havia sentido. Sem saber seu nome, chamou-a de perdição. Não conseguiu desviar os olhos uma única vez e ouviu cada palavra como se fosse uma prece. Aquela era sem dúvida a mais bela das belas mulheres que já vira, emanava a maior das purezas já sentida dentre todas as que dissipara com sua imoralidade. Seu timbre o conduzia ao mais belo dos sonhos já sonhados.
Aguardou ao término da apresentação, sem de fato desejar que sua voz fosse silenciada.
– Geoffre – se apresentou, enquanto lhe tomava a mão e a acariciava com um beijo.
Pode-se dizer que seu efeito sobre ela foi o mesmo causado a todas que corrompera. Seus olhos se arregalaram em sutil espanto com a atração causada por aquele homem. Suas pupilas se dilataram e os olhares se conectaram como duas forças inseparáveis.
– Iara – respondeu, deslumbrada com o gentil rapaz.
A noite seguiu como todas as noites de lua cheia junina. A paixão avassaladora preenchendo o vazio e o silêncio da madrugada. Os mesmos suores trocados e uma nova semente plantada. O que não aconteceu, foi a fria despedida. Diferente de todas as centenas de luares, aquele homem não retornaria ao rio sozinho. Geoffre, apelido oriundo de seu nome científico, Inia Geoffrensis, o boto-cor-de-rosa, sabia que seria impossível suprir todo o seu desejo e paixão numa noite fugaz. Levaria com ele aquela dama, impedindo que qualquer outro a possuísse.
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É tudo culpa da lua cheia?
Short StoryUm conto do folclore brasileiro, que narra a verdadeira origem das mais famosas lendas. Todos já devem ter ouvido falar sobre as lendas do folclore brasileiro. O que não sabem, é que muitas delas estão erradas, e que a partir de hoje, poderão decidi...