⭑ Tatuagem de Âncora.

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Olá a você que encontrou isso aqui, no capítulo abaixo podem haver erros já que o capítulo não passou por revisão.

Atenção: Abaixo contém menção a crise de ansiedade, caso esse tema lhe for um gatilho evite fazer a leitura.

Um mês se passou desde que o contrato foi assinado. E continuamos trabalhando, muitas melodias, letras, muitas coisas foram arquivadas e descartadas.

Nesse um mês, nós havíamos conhecido Angeline. Uma garota francesa com sotaque forte, ela estava fazendo um intercâmbio e aparentemente era uma amiga de longa data de Jesse.

Em uma das festas que fomos, em um bairro repleto de universitários, a garota de fios ruivos e olhos esverdeados apareceu com algumas amigas; e enquanto eu estava ocupado bebendo e fumando com uma galera, Clinton havia sumido. No dia seguinte descobri.

— VOCÊ FICOU COM A MINA MESMO ELA TENDO UM NAMORADO? PORRA, CLINTON — O grito de Christian apenas piorou a minha ressaca.

— Quem namora é ela, eu estou solteiro. E bem, não sendo eu quem vai receber um par de chifres, tranquilo. — Justificou e eu ri, sentindo o olhar julgador do loiro sobre mim.

— Que foi? É engraçado, Kras. Não sou eu quem estou no meio dessa merda — Dei de ombros e ele ergueu o dedo do meio pra mim. — Tão carinhoso… — cantarolei e mandei um beijo para ele.

— Vocês são gays pra cacete! — Clinton reclamou.

— Além de ser talarico, é homofóbico! Cuidado cunhadinho, vai ser cancelado… — advertiu o loiro em tom divertido.

E graças a essa experiência de Clinton, uma das músicas para o primeiro ep da Chase surgiu; quando ele me contou sobre a tatuagem de âncora da garota, a ideia surgiu feito um estalar de dedos.

Recentemente, escrevi uma nova canção chamada "Run Away" que surgiu de um de meus diálogos com Jordan; a garota me contou sobre uma discussão que teve com os pais e sobre a sua sensação de sempre se sentir deslocada; eu lembro que estávamos sentados sobre o telhado de sua casa e então sugeri fugir. Para outro país, em que nós pudéssemos recomeçar. Uma tolice adolescente, que rendeu uma boa música.

Foi nos informado que inicialmente deveríamos lançar um ep, pois o investimento da gravadora na banda, não seria grande o bastante para um álbum logo de cara.

"Precisamos mostrar ao mundo um gostinho do que é a Chase Atlantic, conquistar um público de fato, e então estarão prontos para um álbum. Esse será o teste para saber se vocês valem o dinheiro investido, se houver um bom retorno, a gravadora irá anunciar logo um álbum".

As palavras de Hector em nossa última reunião, ecoaram em meu cérebro por dias, semanas. E agora, prestes a entrar novamente em uma sala de reuniões com ele, relembrava as letras e meu coração batia frenético no peito. Não podia deixar de crer que eu poderia ter escrito letras melhores, ter me esforçado mais…

Nem mesmo percebi quando me levantei da cadeira e caminhei com minha banda para dentro da sala de reuniões, acompanhando pela secretária que havia nos buscado e conduzido até a sala. Minhas mãos estavam trêmulas, eu transpirava e minha boca havia secado.

— Mitty… — disse Christian baixinho, me entregando um copo plástico com água.

Eu nem mesmo consegui sorrir em agradecimento a ele, quando segurei o copo e bebi tudo em somente um gole. Eu ouvia a voz de Hector, um tanto distante, eu brincava com os anéis em meus dedos. Mas só pude escutar as batidas de meu coração e as vozes de minha cabeça que repetiam que seria o fim, que a nossa carreira seria enterrada antes mesmo de iniciar.

Por minha culpa a nossa carreira seria atirada de um precipício, devido às minhas letras rasas, iríamos falhar e ser motivo de piada. Graças às minhas letras adolescentes, meus amigos teriam que abrir mão do sonho de tocar com uma banda e eu precisaria trabalhar em um fast-food, limpando mesas.

— Eu não quero ter que retirar chicletes colados debaixo de mesas do Burguer King — choraminguei.

— Do que você tá falando, Mitchel? Usou alguma merda antes de sair de casa? — Perguntou Clinton.

E só então me dei conta; estávamos em casa. Eu sequer havia notado que já havíamos voltado da reunião.

— Calma, Mitty… a reunião já aconteceu, estamos na sua casa. E correu tudo bem. — Christian disse, sua mão passeava por minhas costas, traçando alguns círculos, num contato firme e reconfortante.

— Eu acabei deixando meu nervosismo e ansiedade me engolir, foi mal — respondi simplista.

— Já pode relaxar, Mitty. Correu tudo bem. Na próxima semana a gravadora vai anunciar o lançamento do ep, de acordo com o número de vendas, os shows poderão ser marcados — meu irmão explicou e então soltei o ar que nem mesmo percebi estar segurando, eu finalmente poderia descansar.

[...]

No mesmo dia, um tanto mais tarde, saí com Jordan. Decidi contar a ela a novidade e precisava espairecer a cabeça.

— Hm, então… tudo bem por você se eu tiver escrito uma música sobre aquela nossa conversa aquele dia, Jo? Se quiser, posso te mostrar ela mais tarde… — hesitei.

— Claro, Mitty. Quem sou eu para impedir a sua liberdade criativa? Aposto que é uma música foda. E bem, não perderia a chance de ouvir antes dos seus futuros fãs por nada no mundo! — E sorriu largamente para mim.

Segurei sua mão, sorrindo em um agradecimento silencioso para ela. E então, ela se desvencilhou do meu toque para que pudesse abrir a porta do estúdio de tatuagem; ela havia marcado a sua primeira seção para uma tatuagem no braço.

Eu resolvi acompanhá-la, assistir todo o processo; durou quatro horas. Busquei um lanche para ela e quando saímos de lá, seguimos até a ponte da Baía.

Caminhar pela ponte à noite era uma experiência única. O local garantia excelentes vistas da cidade. E com Jordan sem poder beber, me contive em caminhar com ela de mãos dadas enquanto víamos as luzes da cidade e sentíamos em nossos rostos a brisa gélida da noite.

— Você anda muito quietinho, Mitty… diz aí qual a pedra no seu sapato? — Perguntou Jordan, sorrindo gentil.

— A mesma merda de sempre… — expirei pesadamente — a ansiedade e seus monstros. Hoje, durante a reunião com o chefe, eu sequer me lembro de uma palavra que o velho falou. Eu só fiquei submerso num monte de autossabotagem.

Senti sua mão apertar a minha mais firmemente e seus dedos deslizaram pelas costas de minha mão num carinho reconfortante.

— Eu sei como se sentiu, Mitty. Todas as vezes que fico na espera para saber se vou conseguir um trampo novo; toda maldita vez que divulgo meu trabalho para alguém. Enquanto as vozes da minha cabeça me dizem que minhas fotos são medíocres e sou uma fotógrafa amadora, que outras pessoas fazem fotos melhores e que é impossível eu continuar com essa carreira de modo independente; mesmo que isso se repita diversas vezes na minha cabeça quando estou conversando com alguém, ou respondendo e mandando e-mails, eu finjo que sou a melhor no que faço, finjo uma autoconfiança que não tenho. Evito ao máximo deixar minha ansiedade tomar conta de mim porque eu sei que quando fizer isso, não sairei da cama por semanas.

— Eu admiro você, Jordan — confesso.

— E não estou dizendo para não ir para a terapia ou coisa assim; pelo contrário, você precisa de tratamento e como alguém que já está na terapia há três anos, te garanto que é ótima! Tem me ajudado muito, inclusive, minha ansiedade diminuiu bastante. Você pode tentar olhar pra si mesmo de uma forma mais gentil, olhar para você com outros olhos, alguns mais apaixonados. Fará uma grande diferença. Se humanizar é importante, Mitty. Você não é um robô.

Eu sorri para ela e então refleti sobre suas palavras; mesmo quando fizemos o caminho até minha casa e mostrei para Jordan o ep, tentei acreditar e escutar realmente seus elogios sobre o meu e o trabalho de meus amigos naquele projeto.


Obrigada por ler até aqui.

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⏰ Última atualização: Jul 29, 2023 ⏰

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