Final

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Quando sua mãe e sua irmã chegaram em casa, Ana até pensou em contar o que tinha acontecido, mas pensou "minha mãe vai rir de mim e dizer para eu crescer e tomar vergonha na cara, melhor ficar quieta". Mas ainda assim, não se sentia bem em lidar com a possibilidade daquela presença maldita novamente. Então conversou com a sua mãe, na intenção de convencer ela a levar ela e sua irmã à casa de sua avó, onde se sentiria mais protegida.
-Mãe, a gente pode ir pra casa da vó hoje a tarde?
-Por que, filha?
-Nada não, só queria ir lá mesmo.
-Tudo bem, vou ver com ela se vocês podem ir então.
Tânia, sua mãe, que não sabia o real motivo do querer de sua filha, apenas concordou e perguntou a sua mãe se suas filhas poderiam passar a tarde com ela, que como toda boa avó, disse que sim.
-Sua vó disse que vocês podem ir, então se arruma e ajuda a sua irmã se arrumar, que a hora que eu sair pra trabalhar agora a tarde eu levo vocês.
-Tudo bem então.
Ana se sentia mais segura agora sabendo que não estaria sozinha, mas mal sabia ela o que ainda estava pra acontecer.

~•~

Durante a tarde, nada de diferente aconteceu. O progresso de uma tarde na casa de sua avó fluiu como sempre para Ana, mas ela não sabia que a borboleta ainda voltaria para a assombrar.

~•~

No fim da tarde, Tânia voltou do trabalho pela casa de sua mãe, para buscar as filhas, que retornaram tranquilamente para casa. Ambas ficaram mais algum tempo sem fazer nada e depois foram se arrumar para dormir depois de jantarem.
Ana se arrumou primeiro, tomou um banho e pôs seu pijama, indo para seu quarto, onde dormia com sua irmã, que tinha tomado banho depois dela, sendo a última da casa a tomar banho. Porém, Valentina, irmã de Ana, cometeu um erro terrível, deixando a janela do banheiro aberta.
No meio do silêncio da madrugada, a borboleta, encontrando a janela do banheiro aberta, adentrou novamente a casa, podendo vagar pelos cômodos já que a porta do banheiro estava aberta, porém, as portas dos quartos estavam fechadas, e é aí que temos a certeza de que essa não era uma simples borboleta.
Com seus movimentos suaves, a borboleta foi capaz de abrir a porta do quarto onde as meninas calmante dormiam, e foi diretamente em direção a Ana, pousando sobre seu nariz graciosamente.
Como? Ainda não se sabe, mas essa borboleta foi capaz de prender todas as possibilidades de respiração de Ana, o que a fez acordar, vendo apenas as asas e cabeça da borboleta em cima de si. Mas àquela altura, já era tarde demais para a pobre garota com fobia de insetos.
Ana não conseguia se mover, e por isso, a hipóxia foi a atingindo e a mesma acabou por perder sua consciência silenciosamente ao lado de sua irmã, que nem sonhava com o terror que acontecia ao seu lado.

~•~

No dia seguinte, Tânia acordou e foi chamar suas filhas. Valentina acordou rápido, mas Ana nem se mexia. Achando estranha a atitude da garota, a mãe se aproximou e foi tentar a chamar balançando a mesma, que não respondia aos estímulos, estava mole, desfalecida. Quando olhou atentamente para o rosto da filha, Tânia pode perceber um pó cinzento no nariz da garota, e ao encostar na pele da mesma levou um susto. Sua filha estava extremamente gelada
Sem saber bem o que fazer e não entendendo a situação, Tânia, com sua força de mãe, pegou sua filha no colo e a levou até o carro, no qual entrou e dirigiu até o hospital que ficava bem próximo a casa em que moravam.
Chegando lá, a mesma disse às enfermeiras que havia uma emergência, e as mesmas correram para ajudar a mulher desesperada por ter encontrado sua filha gelada, desfalecida e com algum pó estranho no rosto. Mas como já lhes disse, era tarde para Ana.
Ao ser examinada pelo médico que ali estava de plantão no momento, o mesmo pode confirmar as suspeitas da mãe, que se encontrava desesperada na recepção do hospital. Sua filha estava morta.
Quando recebeu a notícia, Tânia desabou em choro. Ela simplesmente não poderia aceitar que sua filha tivesse falecido tão jovem, com ainda 16 anos. E em um breve momento de lucidez, mediante a toda a situação, ela perguntou:
-O que era o pó no rosto dela?
Por mais que não esperasse que nada acontecesse, Tânia tinha noção de que sua filha não passava por um bom momento psicológico, e suspeitava que a mesma tivesse cometido suicídio, então aquilo poderia ser alguma droga que a mesma teria usado para tirar a própria vida. Mas a resposta do médico a deixou extremamente surpresa.
-Não era nada demais, era só pó de asa de borboleta.
Tânia não sabia o que pensar. Porque sua filha morta teria pó de asa de borboleta espalhado pelo rosto?
Ela esperava um dia talvez encontrar uma resposta, mas naquele momento, tudo que ela queria era apoio de sua família, afinal, a fatalidade não era algo que ela desejava ou sequer esperava que acontecesse.

~•~

O velório estava correndo de forma normal, pessoas tristes e muitos conhecidos que haviam comparecido para prestar suas condolências à família dilacerada pela morte de um de seus mais jovens membros.
Mas uma coisa que aconteceu deixou Tânia espantada. Uma borboleta. Daquelas cinzentas, bem escuras, que parecem feitas de poluição, adentrou a capela mortuária, e depois de dar uma volta pelo ar do local, pousou exatamente sobre o nariz da defunta, onde ficou por alguns segundos e depois levantou voo para o lado de fora novamente, deixando para trás somente um pó cinzento que caira de suas asas no véu que cobria o rosto da garota morta.
Depois disso, Tânia nunca mais olhou para uma borboleta da mesma forma. Ela pensava "será que uma borboleta poderia ter matado a minha filha? Mas como?". E por mais que tentasse ignorar seu pavor, o laudo de asfixia na certidão de óbito a fazia querer surtar.
Não podendo fazer nada em relação a situação, ela apenas se restringiu a sofrer em silêncio e manter suas dúvidas e certezas para si, já que seria vista por todos como louca caso dissesse a alguém que uma borboleta havia asfixiado sua filha até a morte.
Então essa mãe viveu o resto de seus dias com pavor de borboletas, ainda se lamentando pela perda de sua primogênita e se mantendo calada, afinal, ela não sabia se a mesma borboleta que matou sua filha ainda estava por aí, e poderia, caso ela dissesse alguma coisa, retornar a sua vida, mas agora para caçar ela.

The Curse of the Butterfly Onde histórias criam vida. Descubra agora