Em meio às ruas agitadas de São Paulo, onde o frio corta a pele e as batalhas de rima queimam a madrugada, Aurora vive dividida entre a correria da faculdade de Psicologia e a paixão pela cultura do rap. Quando recebe o convite da sua melhor amiga L...
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O sol mal havia rasgado a neblina da manhã quando meu celular vibrou outra vez.
Eu não dormi direito. Revi aquele vídeo no feed do Brennuz tantas vezes que já sabia a legenda de cor. A notificação daquela marcação ainda piscava na minha mente como luz de palco. Sabe quando algo acontece na sua vida e você sabe, no exato momento, que nada mais será como antes?
Era isso.
Levantei da cama com o corpo mole, mas com o coração diferente. Tomei banho devagar, deixei meus cachos secarem ao natural, coloquei uma blusa velha da faculdade que dizia "Psicologia é resistência" e fiquei sentada na beira da cama olhando pro celular como quem espera algo... mesmo sem saber o quê.
E então vibrou de novo.
📩 Mensagem de @brennuz_
Meus dedos gelaram. A garganta secou. Não era sonho.
Abri a conversa.
brennuz_: Yo, bom dia psico do verso 👊🏽 Não costumo mandar mensagem pra geral, mas precisava dizer que tua rima ontem foi coisa séria. Muita gente chega pra aparecer. Tu chegou de verdade.
Eu li. Re-li. Encostei o celular no peito, como se pudesse absorver as palavras direto na alma. Respirei fundo e respondi com um leve tremor nas mãos.
auroraversa: Bom dia! Caramba, não sei nem o que dizer direito... obrigada de verdade. Eu só fui ver a Levinsk, nem pensava rimar. Mas parece que alguma coisa dentro de mim pediu palco.
A resposta veio quase de imediato. Como se ele tivesse mesmo parado o dia pra falar comigo.
brennuz_: Isso é arte, mermo. Quando o verso encontra o peito, a gente vira instrumento. Escuta só: vai rolar uma cypher fechada mês que vem, só convite. Se tu tiver afim, me dá um salve. Vai colar gente grande. E a cena precisa de voz com conteúdo.
Cypher. Fechada. Brennuz. Me convidando.
Fechei os olhos e precisei respirar umas três vezes antes de responder. Meu estômago se revirava entre medo e euforia.
auroraversa: Tô dentro. Mesmo tremendo, eu vou. Obrigada pela confiança, de verdade.
brennuz_: Tremer faz parte. Mas tu nasceu pra falar o que o mundo cala. Tamo junto, Aurora. Até breve. E cuida dessa mente aí, psico também sangra. 🖤🔥
Bloqueei a tela. Segurei o celular nas mãos. Sorri. Chorei um pouco. Me encarei no espelho. Pela primeira vez, sem precisar fingir força.
A faculdade ainda me chamava, os textos de Jung me esperavam na estante. Mas agora, as vozes da rua também chamavam. E eu queria ouvir todas elas. Traduzir em rima. Em sessão. Em verso.
Porque talvez, no fim, psicologia e poesia sejam a mesma coisa: Tentar entender o que o mundo sente, mas não sabe dizer.