The Scandal of England

01. be lilith, not eve.

  O outono estava mais frio que o normal, o céu estava cinzento, em contraste com a coloração alaranjada das árvores, as rajadas de vento pareciam mais fortes, como lobos uivando pelos corredores do palácio de Hampton.

  Eu tentava ao máximo não fazer barulho, finalmente tinha me livrado de lady Anne, que insistia em me ensinar as novas técnicas do bordado francês, como se eu ligasse para isso. Lady Anne era uma boa pessoa, mas aulas de bordados todas às sextas eram entediantes. Continuei meu percurso na ponta dos pés, como uma criminosa, caminhando pelo jardim, observando minha adorável madrasta sentada numa espreguiçadeira, me olhando feio por interromper seu precioso banho de sol, fiz questão de dar meu melhor sorriso à ela. A rainha Diane não conseguia superar o fato de ter um casamento fadado ao fracasso, apesar de ter cumprido seu dever como esposa e dado um herdeiro ao meu pai - o rei, ela não foi capaz de conseguir engravidar novamente e o fato de meu pai assumir minha mãe, sua própria dama de companhia, foi arrebatador para ela. A realidade é que mesmo após dezesseis anos de meu nascimento, Diane ainda não tinha superado o fato de eu ter sido legitimada como princesa real e insistia em me chamar de Lucrezia Caravaggio quando meu pai não estava por perto, todavia, eu não me importava, e ainda uso do meu privilégio para provocar a megera.

  Meu caminho foi estendido, até porque se eu passasse por ela, Diane não perderia tempo em me dedurar para papai, dizendo que eu estava perambulando pelo palácio durante as aulas de bordado. Depois da grande volta que fui obrigada a dar, me dirigi para uma área afastada do palácio, num quartinho vagabundo e excluído, atrás de uma das torres mais altas. Andei sorrateiramente até uma janelinha com o auxílio de um tronco, me equilibrei, levantando-me para enxergar dentro do quarto.

  Eu sabia exatamente o que ia encontrar, até porque era para isto que eu fugia todas as sextas feiras das aulas de bordado. Meu meio-irmão, Edward, se encontrava todas as sextas antes do chá das cinco com uma garota chamada Olivia, obviamente escondido, porque rainha Diane teria um infarto ao saber que seu filhinho está se enroscando com uma menina sem o sangue azul. Edward não sabia que eu sabia, nossa relação não era das melhores, antes , mas a presença de Diane fez com que meu irmão começasse a me ver como uma impostora também, conforme fomos crescendo, nossa relação se deteriorava com o tempo. E hoje sobrevivemos de provocações e tentativas - na grande maioria das vezes, falhas - de colocar um ao outro em maus lençóis. Descobrir o caso do meu irmão com uma prostituta foi tudo que eu precisava.

  Hoje estava disposta a fazê-lo perceber que eu sei, desci do tronco, procurando por uma mini pedra para arremessar no vidro sujo. O barulho fez com que Edward saísse de cima da garota, olhando instantaneamente para a janela, deixei que ele visse meu rosto, antes de correr.

  Saí correndo, em meio à risadas contidas, buscando por abrigo, infelizmente meus saltos me impossibilitaram de correr o mais rápido que pude, mesmo de costas escutei os passos apressados de Edward atrás de mim. Eu o conhecia até pelo barulho de seus passos.

— Lucrezia! — ele gritou.

  Eu gargalhei, correndo o mais rápido que pude, mas infelizmente, fui traída por meus sapatos, e caí, sendo rapidamente alcançada por Edward. Deitei na grama fofa de barriga para cima, tentando acalmar meu coração.

— Você sabia que espionar os outros é errado, irmãzinha?

  Edward deitou-se ao meu lado, uma carranca formada em seu rosto enquanto ele me encarava com os grandes olhos verdes repletos de raiva.

— O que você estava fazendo aqui? Ou melhor, como você encontrou este lugar?

— Você me subestima muito, Edward. Deveria ser mais cauteloso se quer continuar seu caso com uma prostituta. Sua querida mãe adoraria saber o que o garoto dourado dela faz às sextas-feiras ao invés de estar treinando.