1 - Um começo explosivo

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Luciano corria como se sua vida dependesse disso, tentando não esbarrar nas pessoas enquanto atravessava o prédio. Tinha perdido completamente a hora porque aproveitou sua janela para tirar um cochilo na biblioteca e quando viu, faltava cinco minutos para sua aula começar. O maior problema era que a classe ficava praticamente do outro lado do campus. Desatou a correr e fez uma curva perigosa, na qual quase perdeu o equilíbrio e derrubou um funcionário de limpeza. Sem tempo, gritou um pedido de desculpas e continuou seu trajeto já refletindo o quão fodido estaria se perdesse mais uma aula.

Cortou caminho pela quadra poliesportiva bem no meio de um amistoso de vôlei. Ainda fez uma gracinha, pulou e cortou a bola bem na direção da quadra oposta. A torcida vibrou quando ele, um intruso que simplesmente apareceu correndo durante o jogo, marcou um ponto. Nem teve tempo de comemorar nada, porque precisava chegar naquela aula a tempo.

- Para de se mostrar Luciano! - uma menina loira gritou com seu sotaque bem marcante e ele só conseguiu dar risada. Sabia que mesmo irritada, a aluna inglesa sempre achava graça de suas palhaçadas.

Deixou o local ao som de gritos e reclamações. Finalmente entrou no prédio do auditório, subindo as escadas a cada dois degraus. Quando passou pela porta de madeira, o sinal estridente tocou e a porta atrás de si fechou. Ufa, essa foi por muito pouco.

- Parece que você se perdeu de novo, Silva. É melhor conhecer o campus logo, não tolerarei esses tipos de atrasos na minha aula. - O moreno encolheu os ombros quando escutou a voz serpenteosa que frequentavam seus piores pesadelos vindo de trás de si. Correu tanto que se esqueceu completamente que quem dava aquela matéria era ele, já vinha um tempo que aquele professor pegava em seu pé por pura birra. - Vai querer ajuda para achar o seu lugar?

O brasileiro suspirou, ajeitando a bolsa sobre o ombro e subindo as escadas do auditório, sentando no primeiro assento livre que achou. Teve que passar por algumas pessoas, pedindo licença e cumprimentando os colegas que conhecia. Sentia o olhar de seu professor na sua nuca que até causava arrepios, por isso tratou de calar a boca e afundar na cadeira.

Tudo isso foi porque no ano passado ele por acidente abriu um vídeo que enviaram para ele e o volume estava no máximo. Ele não sabia que era a porra de um gemidão e o pior, seu celular travou e foi no meio de uma apresentação de seminário. Desde então frequentar as matérias dadas pelo Sr. Thomaz era um verdadeiro inferno.

Apesar de todo desconforto gerado naquela matéria, tentava ao máximo prestar atenção, não podia pegar DP naquele semestre ou estaria fodido. A aula ser basicamente um podcast, sem sequer uma palavra escrita no quadro ou um slide, não ajudava em nada. Ele perdia o foco rápido, e mesmo que tentasse escrever o que achava importante, a voz tediosa o fazia perder interesse naquele assunto.

Quando deu por si, sua mente vagava sobre a última festa que foi. Sua banda teve o melhor desempenho dos últimos meses, até deu um autógrafo para uma garota muito linda. Eles encheram a cara em comemoração e aquilo o deixou tão animado que até esqueceu da aula do dia seguinte. Batucava a caneta no ritmo da sua última canção, refletindo sobre qual acorde melhor se encaixaria ali. Em geral, ele quem fazia os arranjos e seus amigos acatavam as ideias. Só foi voltar ao mundo real quando alguém ao seu lado bufou irritado com o barulho que a caneta fazia.

- ¿Podrías detener ese ruido de mierda?

Luciano o olhou confuso, mas não deixou de pensar que ele era até que bem bonitinho. Era um jovem loiro, o cabelo repartido no meio para não cair sobre os olhos. Era tão branco que estava na cara que era estrangeiro, além do fato de suas palavras saírem em espanhol. Tinha olhos cor de âmbar, e podia falar só pela sua expressão que estava impaciente. O homem falou tão rápido que sequer tinha certeza do que ouviu.

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