2 - Um show de incompatibilidade

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Luciano estava naquela reunião fazia meia hora. Em dias normais, ele era um dos que mais interagia com os assuntos, expressando sua opinião e dando novas ideias a cada minuto. Naquela tarde de quinta-feira, tinha sentado em um canto, escorado a cabeça na janela e dividia sua atenção a um casal que conversava em um dos bancos do campus lá em baixo, seu ex-bloco de anotações e talvez uns 10% de sua consciência realmente prestava atenção na reunião.

Era um daqueles dias melancólicos, onde a sombra era fria demais para usar apenas uma camiseta e o sol era fraco, mas quente o suficiente para iluminar o rosto do brasileiro e trazer aquela sensação reconfortante, como se estivesse enrolado em suas cobertas. O chão lá fora estava coberto por folhas secas e às vezes o vento era forte o suficiente para arrastá-las pelo caminho, rodopiando e fazendo pequenos redemoinhos antes de tocar o chão e serem amassadas por algum aluno que caminhava apressadamente para sua próxima aula.

A biblioteca não estava cheia naquele dia. Na verdade, além de seu pequeno grupo de colegas, os poucos estudantes presentes se espalhavam pelas mesas solitárias, lendo ou fazendo algum trabalho acadêmico. Era em dias como aquele que todos eram obrigados a conversar bem baixo, porque a bibliotecária tinha uma espécie de ouvido apurado que determinava o que era adequado ao ambiente e o que era barulho.

Luciano passava sua tarde junto da organização formada por alguns estudantes de cursos diferentes, da qual fazia parte. Fazia quase um ano que ele participava dos encontros, era uma comissão que incentivava a interação social entre os alunos, fazendo eventos ao longo dos dias letivos para que mantivessem os cursos em harmonia, até mesmo durante os exames finais, quando qualquer um tinha vontade de xingar até mesmo os professores.

- Ah, si, estávamos conversando que também seria interessante fazer uma festinha das nações! - a garota colombiana comentou, finalmente deixando seu desenho de lado e se empolgando com a sugestão, gesticulando com as mãos conforme apresentava a proposta. - Podemos pedir para os alunos que façam uma barraquinha com comidas típicas, música, roupas, objetos e coisas que lembram o país deles.

- Olha, não é uma super novidade, mas também não é uma má ideia. - Honda, que nem participava de fato da organização, mas veio depois de muita encheção de saco do seu colega de quarto, comentou. - Seria super legal já que hoje nossa universidade recebe boa parte dos alunos do programa de intercâmbio e convivemos diariamente com eles. É uma ótima solução também para que os estudantes conheçam e respeitem a cultura de todos.

- A gente pode iniciar a feira com alguma coisa nossa, tipo umas boas-vindas - Théo, um aluno tocantinense, comentou, enquanto jogava algum jogo de seu celular.

- E como seria isso? Uma palestra? - a única que parecia estar realmente anotando as sugestões dos estudantes perguntou, ajustando seu óculos sobre o nariz e prendendo os fios em um coque de cabelo preso com um lápis.

Em geral, eles sempre eram assim. Participavam das reuniões, jogavam conversa fora e dividiam sua atenção a alguma outra coisa. Catalina, a aluna colombiana, por exemplo, vivia desenhando peças de roupas para seu portfólio, isso quando ela não estava costurando um monte de tule colorido no meio das reuniões. Já Luciano era responsável pelas brincadeiras e comentários fora de hora, apesar de que naquele dia não teve o mesmo ânimo e passou boa parte da reunião calado.

Mesmo sendo um grupo de dispersos, ainda eram criativos e persistentes o suficiente para fazer seus planos concretizarem, e sempre eram um sucesso entre os alunos.

- Não, por favor - Luciano reclamou, esfregando o rosto com as mãos, cansado das que já era obrigado a assistir. - Já não basta a palestra infinita do nosso querido diretor que não sabe a hora de calar a boca.

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⏰ Última atualização: Jan 04 ⏰

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