Luciano da Silva é daquele grupo de pessoas a quem chamam de "loucos sonhadores". Ele abandonou toda sua vida de garoto rico no Brasil, todo seu futuro de luxos e status social para perseguir um objetivo. Um sonho que, ainda em seus vinte e quatro anos, estava em projetos de se cumprir.
Quem poderia imaginar, o filho mais velho de um empresário, dono de grandes hectares de cafeicultura no Brasil, trabalhando como o barista de uma cafeteria perdida em uma pequena cidade. Ele se apaixonou pela arte em espuma de leite, do trabalho rápido e preciso na máquina de café semiautomática, da quantidade infinita de sabores explodindo na boca com tão somente acrescentar mais ou menos quantidade de algum ingrediente, da música de ambiente, a Bossa Nova junto de uma conversa amena. E também, há algum tempo, se apaixonou por outro barista.
Há dois anos Luciano participou de um torneio de baristas que era realizado a cada outono no hotel Príncipe de Gales, o mais prestigiado da cidade. O jovem oriundo do Brasil, o competidor que não conhecia ninguém, foi abrindo pouco a pouco seu caminho até a final. Seu carisma natural e suave compensava sua atitude descontraída e o pouco domínio do idioma. Uma pura precisão em sua arte e capacidade de criar deliciosos sabores em pequenas xícaras de café lindamente apresentadas. Luciano avançava com passos firmes ao troféu, até que se deparou com o outro competidor que procurava o prêmio.
Martín Hernández, que se gabava de ter café em vez de sangue em suas veias, fez uma entrada indiscutível como uma diva. E como se o cara realmente exalasse cafeína, vê-lo competir era uma injeção de energia.
-Tempo! - exclamou o competidor levantando a mão, dando sinal de que estava pronto para começar.
Começou a correr contra o cronômetro e também sua apresentação. Falando com os juízes, o barista começou com uma pequena palestra introdutória.
-Bem-vindos. Meu nome é Martín Hernández e hoje eu os convidarei a beber uma experiência. Estamos no outono, não é? Uma estação de ventos frios que pedem por um bom café, uma estação que sente falta do doce verão que deixou para trás, doce como chocolate acompanhado de uns toques do atrevido licor de café com laranja. Muito bem, vamos começar com esta poção outonal que transpassa o paladar encantando os sentidos.
Seu preparado consistia em um café grão arábica com adição de cacau intenso torrado. Depois de processar os grãos no moedor, o loiro adicionou o cacau ao café no porta-filtro, aplicando pressão para que ambos os sabores se fundissem, enquanto dava uma pequena explicação do porquê de sua escolha. O chiado no tubo de vapor, encarregado de vaporizar o leite, parecia aplaudir o trabalho caprichado do barista e esquentava o leite frio até convertê-lo em uma espuma fumegante.
Com a beleza de seu sorriso e a delicadeza de seus dedos longos, Martín acrescentou uma pequena, milimétrica, medida do licor de café sobre as xicarazinhas com os grãos já transformados em expresso. Deixando cair o leite vaporizado sobre o recipiente inclinado, desenhava soberbos padrões circulares que simulavam ser coroas de louro rodeando um coração. Por fim, decorou com uma finíssima fatia de laranja as bordas das xícaras já servidas. Olhando em seus olhos, com esse verde claro sob o trigal dourado que era seu cabelo, Martín explicava a história curiosa e interessante de seu grão selecionado.
Poderia ser confundido com amor à primeira vista, só que seria mais correto chamá-lo de "amor à primeira competição". Luciano esqueceu o nervosismo e a vontade de derrotar o rival para observar seu trabalho. Não somente sua beleza física ou seus dotes de barista chamaram sua atenção, Luciano viu algo mais. Viu a paixão por seu labor, viu amor e dedicação, se sentiu tocado por aquelas mãos grandes, mas suaves, massageado por essa delicadeza e seduzido por aquela voz profunda e melodiosa. Se sentiu deslizar pelo jarro de leite, convertido em cappuccino ao ser misturado com o café, com o cacau e com o toque cítrico da laranja, com inveja da xicarazinha que recebia todo o cuidado e concentração do loiro. Luciano quis provar o sabor do barista, seus lábios, sua pele, seu atrevido licor e tudo aquilo que pudesse ser degustado.
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Expresso e Latte [BrArg Collab] feat. Zulenha ((português))
FanfictionEste é o amor à primeira competição entre dois baristas que disputam para ser o melhor. Quando o amor desenha corações no pensamento, é muito difícil seguir alimentando seu orgulho. Colaboração com Zulenha (https://twitter.com/zulenha), feita para...