Prólogo

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Igor

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Igor

O vidro escuro do carro preto importado desceu lentamente, dando vida à vista da construção de arquitetura moderna no outro lado da rua. Ali ficava o colégio Elite, cujo nome já deixava bem claro que só os filhos das famílias mais poderosas da Colômbia estudavam ali. Eu, agora como enteado do chefe da máfia colombiana, o poderoso Heros Rivera, faria o último ano do ensino médio naquele lugar, e aquele seria o meu primeiro dia de aula. Tentei adiar aquele momento o máximo que pude, fingindo ter dificuldade para aprender o idioma do país, assim poderia continuar estudando em casa e terminaria os meus estudos dessa forma. Fechado no meu próprio mundo. Até porque eu já estava atrasado nas matérias comparado aos alunos da minha idade. Afinal, depois de toda aquela tragédia que aconteceu comigo, perdi um ano escolar e só sobrevivi à base de terapia e remédios para tratar a bendita ansiedade que me consome até os dias de hoje. E era exatamente por isso que os meus pais estavam preocupados com a minha solidão, passando o dia todo trancado no meu quarto, eles temiam que a minha situação piorasse. Eles queriam que eu, agora aos dezessete anos, tivesse uma vida normal de adolescente. Que conhecesse novos amigos, e talvez, com muita sorte, me apaixonasse por outra garota.

No entanto, no fundo, tanto eles como eu, sabíamos que isso nunca iria acontecer. Da última vez que me apaixonei por uma garota incrível, ela morreu violentamente bem diante dos meus olhos, e a culpa foi toda minha. Se não tivesse fugido para ir até a casa da Alice para me despedir dela, ela e a sua família ainda estariam vivas. Tinha pesadelos direto com aquela noite. Eram horríveis. Não conseguia falar uma palavra com ninguém sobre o que de fato aconteceu, e isso só me fazia me sentir ainda pior. Eu amava a minha Alice. Ela era perfeita aos meus olhos, com o seu jeito doce e gentil com todos, sempre disposta a ajudar o próximo.

Para nós, ciganos, o verdadeiro amor só acontece uma vez na vida. E o meu foi tirado de mim cruelmente. Eu nunca mais saberia o que é o amor outra vez, estava fadado, ainda tão jovem, a viver sozinho para sempre.

— Vai dar tudo certo, filho! – meu pai tocou o meu ombro antes de eu sair do carro. — E qualquer problema, pode me ligar que eu virei correndo, okay? – Me olhou preocupado pelo canto dos olhos.

Meu pai sabia melhor que ninguém o peso que o sobrenome Rivera trazia e eu provavelmente seria caçado naquela escola, todo mundo na Colômbia conhecia o passado criminoso dessa família da qual eu me orgulhava muito de me tornar um membro, mas tudo nessa vida tem um preço.

E eu estava prestes a pagar o meu assim que colocasse os pés no colégio Elite, mudando a minha vida para sempre, só que não fazia ideia ainda do quanto.

— Valeu, pai, mas eu me viro. – Forcei um sorriso antes de sair do carro.

O pátio do Colégio Elite exalava uma atmosfera de sofisticação e vitalidade. Os raios de sol penetravam suavemente pelas árvores altas, criando uma dança de sombras no chão de pedra. Enquanto atravessava os portões com cautela, meus olhos percorriam o ambiente, absorvendo cada detalhe desse mundo tão diferente da cultura do meu povo cigano que deixei no Brasil. E ainda tinha aquele uniforme ridículo com a gravata apertando o meu pescoço, eu nem conseguia respirar direito. Me sentia sufocado. Mas era obrigado a usar, então eu não tinha muito o que fazer além de aceitar o meu destino cruel de estar em um lugar onde não queria.

Mas eu era obrigado a admitir que o colégio Elite era um verdadeiro palácio, com construções majestosas e imponentes, colunas impecáveis e janelas amplas que conferiam um ar de grandiosidade a cada edifício. As paredes, adornadas com pinturas de renomados artistas, eram um testemunho do legado cultural que esse lugar carregava. Caminhei pelos corredores silenciosos de cabeça erguida e agarrando com força a alça da minha mochila, meus passos abafados pelo carpete macio sob os pés. Todo o ambiente era permeado por uma atmosfera de conhecimento e excelência acadêmica.

Enquanto seguia em frente, os sons abafados das conversas fúteis e risadas sem graça daqueles adolescentes podres de ricos e esnobes, trajando seus uniformes impecáveis, com penteados perfeitos e acessórios sofisticados, eram um lembrete constante de que eu estava em um ambiente privilegiado. Sabia que deveria estar honrado de poder estudar ali, mas tinha acabado de chegar e já odiava tudo e todos. Cada passo meu trazia uma mistura de nervosismo e desprezo, pois sabia que estava entrando em um campo de guerra onde o meu sobrenome faria de mim o alvo principal de todos.

— Você só precisa sobreviver um ano nesse lugar, Igor – reforcei para mim mesmo em frente à porta da minha sala.

Entretanto, assim que entrei na sala todos os pares de olhos presentes se voltaram para a minha direção, inclusive o do professor de terno marrom-terra com um bigode ridículo e braços cruzados, me encarando com cara de poucos amigos por cima dos óculos de grau. Ele sabia de quem eu era filho. Todos ali sabiam. Eu podia ouvir os pensamentos julgadores de cada um deles enquanto caminhava entre as filas de mesas, fitando o chão à procura de uma cadeira vazia no fundo, e não eram nada bons.

Olha o cabelo comprido dele, deve ter um monte de tatuagens também, igual aos membros da gangue do pai — sussurrou um garoto loiro aguado, alto o suficiente para que eu escutasse, ali soube que ele era o líder da sala, que tocava o terror nos outros alunos.

Os dois garotos sentados ao lado dele também riram da minha cara, provavelmente eram os seus cúmplices. A verdade era que eles pareciam, mais do que eu, parte de uma gangue, só que de filhinhos de papai, riquinhos que se achavam melhores que os outros e podiam sair por aí debochando dos mais fracos.

Um ano, Igor. Só isso – voltei a repetir o meu mantra, enfim achando uma mesa vazia bem lá no canto escuro, onde me sentei.

— Eu digo a mesma coisa para mim todas as manhãs, novato. – Ouvi uma voz suave vinda do meu lado, meu instinto cigano alertou para não olhar, mas virei o rosto assim mesmo.

E, minha nossa!

Senti uma pontada forte no coração quando a garota sentada ao meu lado, tão isolada quanto eu do restante da sala, sorriu para mim de um jeito que me fez perder o fôlego. Ela tinha uma anormalidade nos olhos, eles eram um de cada cor, um castanho e o outro azul. Muito azul. Olhos que me analisavam também. Com cautela. Ela era diferente do restante dos alunos da sala, o cabelo preto abaixo dos ombros estava bagunçado e o corte malfeito, todo torto, não ajudava muito. Não usava maquiagem como todas as outras garotas daquela sala, jogou um moletom velho em cima do uniforme e calçou um par de All Star , surrado, nos pés, que deveria ter anos de uso.

A garota realmente não se importava com o que os outros pensavam dela, e isso só conseguia deixá-la ainda mais bonita e de um jeito só dela. Ali soube que eu estava muito encrencado. E mais tarde descobriria que estava ainda mais encrencado do que pensei, porque aquela era Mia Arantes. Filha do correto delegado Miguel Arantes, que odiava o meu pai e com toda razão, devo admitir; o cara e toda a sua equipe, foram usados pelo chefe da máfia colombiana para me salvar e o homem ainda ficou com uma enorme cicatriz no rosto para lembrá-lo do quanto odiava cada um que carregava o sobrenome Rivera.

Por isso, se eu quisesse sobreviver naquele ano no colégio, eu precisaria manter o máximo de distância possível de Mia Arantes. A garota de All Star vermelho. O problema era que a cada dia que passava ficava mais difícil cumprir essa missão.

E que Santa Sara Kali, protetora dos ciganos, me protegesse do furacão que estava prestes a passar pela minha vida.

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Então amoras, o que acharam? 🥰♥️

IGOR - Amor cigano (Spin-Off)Onde histórias criam vida. Descubra agora