CAPÍTULO 1

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J: Oi, e aí? - ela entra na sala dos professores e o cumprimenta tentando esconder sua apreensão.

F: Oi Ju, tudo bem? - ele pergunta sorridente a olhando. "Que sorriso lindo" ela pensa.

J: Tudo. - ela assente abraçando o homem, que estava sentado - Posso falar com você Fernando? - ela pergunta apreensiva, tentando esconder o medo que sentia em chamá-lo para conversar, ele percebe, mas não diz nada.

F: Claro amor. - ele responde com naturalidade retribuindo o abraço segurando e acariciando as mãos dela. Esse costume que ele tem de chamar os outros de amor, isso acabava com o psicológico dela em tantos níveis, seus joelhos chegavam a fraquejar.

Ela desfaz o abraço, ele se levanta e espera que ela saia na frente para guia-lo. De onde está ela sente seu perfume, que exala aquele cheiro que só ele tem, ah se ela tivesse um homem daquele para si. Ela sai de seus pensamentos quando chega a uma sala afastada, sem ninguém, apenas eles. "Apenas nós dois" ela pensa mordendo os lábios, ela estava sentido sua coragem se esvair na presença dele, "por que eu fui ter essa ideia idiota?" ela se pergunta em silêncio.

J: Fecha a porta por favor Fernando. - ela pede disfarçando sua angústia. - Queria conversar em particular. - ela vê uma pontada de confusão e curiosidade na expressão do outro, mas ele a obedece, fechando a porta enquanto ela se senta em uma das carteiras e o observa. - Tranca. - ele a olha com um claro ponto de interrogação estampado no rosto.

Ela também estranha as palavras que acabara de proferir. De onde tinha saído essa coragem toda para ter dito aquilo? Bom, isso ela não sabia, mas, por outro lado, se tinha algo que ela se lembrava era: ele adorava receber ordens.

J: Tranca a porta Fe. - ela repete calma - Por favor. - completa contendo um sorriso de canto.

Ele a obedece receoso e se volta para ela, que o encara, comendo-o com o olhar, mas a inocência dele quanto aos sentimentos dela impediam-no de perceber. Ele caminha pela sala em direção à uma cadeira que se encontra atrás de uma mesa grande, a mesa do professor, enquanto ela se levanta da carteira onde estava e anda em sua direção, parando a sua frente mas do lado oposto da mesa.

F: Por que trancar a porta Ju? - ele pergunta curioso, olhando-a.

Sentado como estava, com os braços grandes cruzados e a mostra sob a camiseta de manga curta que usava, marcando o peitoral definido, ela quase perde a compostura, mas mantém-se firme ao seu propósito.

J: Nada demais, só não quero interrupções inesperadas. - ela responde rápido, mas sem atropela-lo.

Ele a encara com um ar de desconfiança e um sorriso de canto.

F: Sei. - ele diz irônico e se mantém em silêncio por um tempo - Então, o que queria falar comigo? - ele questiona - Dá pra ver que você não está com material nenhum, então dúvidas você não tem. - ele continua com aquele olhar desconfiado - Sobre o que você quer conversar Ju? - seu tom muda um pouco.

Era malícia isso que ela acabara de escutar? Não, ela devia estar ficando louca, era fantasia da cabeça dela, sua mente brincando com a situação é exagerando como de costume. Ela recupera o fôlego.

J: Tenho algo pra te dizer. Apesar de eu achar que você já sabe, eu queria te fazer ter certeza, se for o caso. Se não, talvez seja um grande choque, ou talvez rotina pra você. - ela contém uma risada - Bom enfim, me dá um tempo pra pensar como te dizer isso sem soar estranho.

Ela para por alguns segundos, ele a encara concentrado, com uma marca de clara confusão entre as sobrancelhas. Aquele comportamento dizia o que ela queria saber: ele não fazia ideia do que ela estava falando. O que significava que aquela conversa seria, para um lado, mais angustiante e, para o outro, mais interessante, nesse caso a parte angustiante seria toda de Julia.

J: Tá legal, - ela dá um suspiro profundo - dá pra ver pela sua cara  que vai ser complicado pra mim, então vou arrancar o curativo de uma vez.

Ele a olha, curioso, seus olhos indecifráveis acompanham o andar da garota de um lado ao outro da sala e ele se inclina um pouco para trás na cadeira ainda de braços cruzados, esperando. Ela para e o olha, apreensiva.

J: Eu tô apaixonada por você. - ele inclina a cabeça para o lado, como um cachorrinho curioso, mas sua expressão era de confusão - É, não tem como não soar estranho. - ela ri e ele também - Olha, antes que você comece a me dizer que é uma fase, que acontece, que vai passar e essas besteiras todas de discurso pronto, não é isso. Eu não pediria pra falar com você se eu não tivesse certeza do que eu sinto.

Ela para de falar por alguns segundos e o observa, ele parece em choque e curioso com a revelação da aluna, mas algo contrariava seu primeiro instinto e a dizia que ele, de certa forma, já sabia, mas não esperava que ela fosse corajosa ao ponto de contar a ele. Ela inspira outra vez e continua.

J: Bom, eu não espero que seja recíproco, obviamente. Eu te conheço, bem até demais, - ele ri e ela o acompanha - sei que você não é desse tipo e não espero que isso te leve a fazer nada, eu só... - ela faz uma pausa - queria tirar esse peso do peito.

Ela finaliza e passa a encarar o chão, envergonhada de ter colocado tudo aquilo para fora na frente dele. Mas surpreendentemente ele se levanta, dá a volta na mesa e se dirige à ela. Ele leva a mão ao queixo dela e levanta a cabeça da garota, fazendo-a olhar para ele.

F: Olha Ju, eu sei que você não queria que eu dissesse isso, mas é normal, acontece e sim, eu tô acostumado - ele dá de ombros rindo e arranca uma risada dela também - mas não precisa se envergonhar amor.

Ela estava completamente vulnerável e não consegue conter um sorriso quando ele termina a frase, então ele a questiona.

F: O que foi? - ele pergunta estranhando a reação dela.

J: Nada, é que - ela para, envergonhada.

F: "É que"... - ele retoma sua fala para incentiva-la a continuar.

J: É que eu gosto quando me chama assim. - ela sente suas bochechas quentes, devia estar ficando vermelha de vergonha.

F: De amor? - ele pergunta e ela assente - Bom, pois saiba que vou passar a te chamar assim mais vezes. Porque você fica linda envergonhada, amor.

Isso foi uma cantada que ela acabou de escutar? Seu coração dispara e suas pernas quase falham. Seu professor, o qual ela tinha um crush a cerca de um ano e meio, acabara de dar em cima dela, fácil assim? Será que era uma piada? Seria aquilo um sonho, uma alucinação? Ela recupera a compostura e cria coragem para rebater.

J: Pois eu adoraria isso, Fe. - ela sabia o impacto que o apelido tinha sobre ele, por isso ousou usá-lo.

Ele se aproxima mais dela e vai até seu ouvido.

F: Pois eu amo quando me chama assim Ju. - ele cochicha para ela e ela arrepia completamente com a aproximação dele.

Ele faz uma pausa prolongada, se afastando dela. Ele começa a caminhar de um lado a outro da sala, pensativo, como que debatendo algo em sua cabeça. De repente ele para a uma distância considerável da aluna e se vira novamente para ela, encarando-a.

F: Olha Ju, eu sei que eu não deveria, que tem regras aqui que eu preciso seguir e que me impedem de muita coisa. Mas sabe, - ele caminha na direção dela, a qual se afasta até encostar na parede - tem uma coisa sobre mim que você não sabe - ele dá uma pausa e para a uma distância de poucos passos dela - eu sempre gostei de quebrar regras.

Ele apoia a mão atrás da aluna, prendendo-a entre ele e a parede e coloca a outra mão no queixo da garota, levantando seu olhar para ele. Ela arrepia, ansiosa pelo que estava por vir. E então, acabando com o resto do espaço que os separava ele a prensa contra a parede, tomando os lábios dela para si em um beijo singelo e contido, um beijo que mostrava que, pela primeira vez desde que ela o conhecera, ele estava inseguro do que acabara de fazer. Ele repousa a mão sobre a cintura dela e aperta a região.

F: Desculpa Ju, eu não... - ele faz uma pausa - Eu não sei o que deu em mim. - ele fala e se afasta dela - Eu... - ele não completa a frase, apenas se afasta mais e apressado, vai até a porta, destranca a mesma e, antes de sair olha de novo para a aluna - Desculpa Ju.

Ele sai e deixa Julia ali, paralisada, ainda encostada na parede, perplexa, com as pernas fraquejando e os lábios ainda formigando com o toque de seu professor.

J: Que merda que eu fiz.

MAIS DO QUE MEU PROFESSOROnde histórias criam vida. Descubra agora