Que porr@ de sonho

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— você pode acordar? — escuto a voz da minha mãe e assim eu me sento na cama meio grogue de sono enquanto vejo a mulher de cabelos grisalhos abrir a janela e me dando a visão de um céu muito ensolarado.

— por que o dia está com tanto sol? Já não deveria ser inverno? — me jogo na cama enfiando o rosto no travesseiro e resmungando algo que nem mesmo eu sabia o que era

— que história é essa, Lali? — sinto o cobertor ser puxado com tudo me fazendo sentir o calorzinho adorável do dia. — vamos, é seu primeiro dia de aula! Não pode se atrasar!

— que papo é esse, mãe? Já estamos mais da metade do...

Encaro o calendário na minha parede vendo o dia "5 de fevereiro" marcado com um lápis vermelho e escrito "inferno" bem embaixo.

— eu sei que você é jovem e tem curiosidade sobre certos assuntos, mas.. nada de álcool ainda, Lali. — minha mãe cruza os braços e só tenho eu noto que estava sentindo algo em minha boca.

— não... não... — passo as pontas dos dedos em meus dentes e noto que ainda estava usando aparelho. — que merda.

— LALI! — eu me levanto da cama correndo e entro no banheiro buscando meu celular que quase sempre ficava carregando na pia.

7 de fevereiro de 2017. Que ótimo, eu tenho 17 anos de novo... não, isso é uma brincadeira e assim que eu abrir meu Instagram eu vou ver fotos com a Jennie, com Jisoo, com o Kai e com a cabeçona abençoada da Minatozaki.

Meio desesperada eu abro o aplicativo rosa e vejo que das 50 fotos que eu tinha ali, agora só haviam seis fotos e todas eram dos meus gatos e de passeios que fiz com a minha bicicleta quando fui para casa do meu avô nas férias... que merda está acontecendo, isso é impossível!

— Lalisa! Se vista, você não pode se atrasar. — escuto a voz do meu pai e corro pra tomar um banho quente tentando fazer de tudo pra me acordar desse sonho assustador.

Se isso for uma brincadeira eu ficarei muito muito brava com meus pais por estarem topando participar disso tudo.

Depois do meu banho quente, eu coloquei meu uniforme, escovei meus dentes e ajeitei meu cabelo da melhor forma possível até ver minha mãe entrando no quarto de novo com a chave do carro balançando em seu dedo indicador e com um rosto nada feliz.

— Lalisa...

— já vou! — pego a minha mochila e jogo sobre meus ombros passando correndo pela mulher.

— não corre! — ela não se decide também, não é?

Eu saio de casa depois de pegar uma torrada com geleia na cozinha e assim que coloco a comida na boca quase a deixo cair ao ver Jennie Kim de cabelos castanhos, uniforme mais curto por ela ter crescido alguns centímetros nas férias e céus...

— acorda, garota. — sinto um tapa sendo dado na minha nuca por minha mãe. — nada de encarar o corpo de outras garotas, que coisa feia.

Eu fico com as bochechas vermelhas e engulo a torrada sentindo minha garganta seca por eu lembrar de tudo que iria acontecer aquele dia.

Kai vai derrubar suco em mim sem querer depois de Jaehyun esbarrar com o skate nele, Jennie vai vir me ajudar e vou ficar travada demais pra agradecer a ajuda dela, Vachirawit vai tomar coragem e vai oferecer carona de moto pra Jennie e eu vou ficar olhando eles irem embora enquanto seguro o lencinho dela... sem contar nas próximas semanas Kai tentando se desculpar a todo custo como se ele tivesse culpa.

— vai ficar aí? — meu pai buzina fazendo as duas garotas do outro lado da rua se assustarem com o barulho.

— já vou! — entro no carro e minha mãe entra logo em seguida.

Minha mãe é professora da ala infantil da minha escola, ela cuida de crianças até 11 anos. Meu pai é dentista e eu sou filha única de uma família carregada de primos e sobrinhos com uma energia de barulho muito forte.

— não esqueça de..

— ligar pra você caso algo indesejado aconteça... eu sei... — repito o que ela sempre falava e ela abre um sorriso fazendo um "joinha".

— outra coisa... eu sei que você é uma garota, mas é adolescente e é provável que não saiba controlar seus instintos e seu coração. — já consigo sentir a vontade de me enfiar nesse banco crescendo cada vez mais. — por isso... tenta não ficar olhando pra vizinha como se tivesse vendo uma peça de teatro dirigida pelo seu ator favorito... pega mal pra você.

Que ótimo... tinha esquecido como era ter seus pais sabendo sobre seu pequeno crush. Lembro como se fosse ontem minha mãe vindo até meu quarto com lencinhos e sorvete de chocolate e dizendo que tudo bem eu ficar triste por meu primo ter me "talaricado", ela nem sabia o real sentido daquela frase mas havia usado direitinho naquele dia. Eu chorei e comi todo aquele sorvete, mas ainda assim foi constrangedor chorar por aquilo.

— é! — meu pai concorda e quando passamos pelas garotas eu troco um breve olhar com a Kim, porém eu rapidamente disfarço olhando pra frente. — tenta não babar também, filha.

— papai!

— quando eu tinha sua idade eu via sua mãe pelo corredor com aquele decote e eu faltava ir atrás dela de joelhos implorando pra ela me bater. — meu pai fala e eu faço uma careta fingindo ir vomitar.

— você ainda pede, amor. — minha mãe se inclina e beija a bochecha do meu pai.

Meu Deus, eles... ainda me causam traumas.

— bom, tenham um ótimo dia de trabalho e de estudos! — eu sequer notei quando chegamos em frente à escola depois de ter ignorado todo amor que eles trocavam no bando da frente.

— obrigada, papi. — saio do carro e coloco meus fones de ouvido um pouco pensativa...

Isso é apenas a droga de um sonho, não vai afetar em nada eu mexer um pouquinho nesse dia... eu posso fazer o que quiser e nada vai me afetar, certo? Eu posso literalmente agir como outra pessoa e ninguém vai ligar para mim.

— ei, Jaehyun. — ele me olha sobre os ombros. — você como jogador de futebol é um ótimo cantor.

Ele me olha super indignado e ajeita a jaqueta do time que faltava brilhar perto de seus cabelos rosas.

Olho para o outro lado do corredor e vejo Jennie segurando a risada.

— Oi, Kim.

— Oi, Manobal.

Foi a primeira vez que falei com ela de verdade e agindo confiante, sonhos eram bons por isso. Não afetavam a realidade.

Desejo, desejo meu. Onde histórias criam vida. Descubra agora