Meus olhos estavam vermelhos de tanto lacrimejar. Eu aproveitava cada minuto de solidão para chorar. Estava no refeitório exclusivo dos funcionários, quando a Carla e a Josi praticamente me sequestraram, segurando uma em cada braço meu, e me arrastaram para um dos dormitórios, os quartinhos minúsculos a que a gente tinha acesso para dormir durante os intervalos dos plantões. A Karine nos encontrou no caminho.
– Pronto! Agora você não vai mais se fingir de morta! – Josi exclamou ao fechar a porta conosco dentro.
– Hmmm. – Ouvimos um gemido vindo da cama. Alguém dormia em plena hora do almoço.
– Isso é uma reunião, Gustavo. – Josi, que não tinha papas na língua, disse. – E você não foi convidado.
Ele, sonolento, sentou na cama, arrumou os cabelos castanhos, penteando-os com os dedos, e colocou os óculos de aros finos marrons.
– Que horas são? – perguntou em meio a um bocejo, com uma expressão carrancuda.
– Meio-dia – Karine respondeu com uma voz estranhamente meiga. Parecia encantada. Que estranho... Seus olhos verdes estavam fixos em algo que ela observava no Gustavo, mas que eu ignorava o que era.
Gustavo Calderas, aliás, era o cirurgião abdominal do hospital. Ele era meio esquivo e antissocial. Não que não fosse simpático, ele até que era, mas evitava se misturar muito. Nunca ia nas festas ou em qualquer evento social. Eu não sabia muito a respeito dele. Mas eu sabia que ele não usava aliança, estava na faixa dos trinta e era extremamente competente em sua profissão.
Ele colocou o jaleco branco enquanto três mulheres olhavam para ele. A Carla e a Josi, as casadas, com um olhar nada amistoso. A Karine daquele modo esquisito. Eu olhava para o chão.
– Gustavo... – a Josi já estava impaciente. Ele se atrapalhava para colocar as mangas do jaleco – Nós temos pouco tempo, quer fazer o favor de sair?
– É. – a Carla disse – Vaza, Gustavo.
Ele, contrariando as minhas expectativas, ao invés de ficar irritado, sorriu. E então se levantou e se despediu. Saiu e fechou a porta.
Sentei na cama em que ele antes dormia. A Carla e a Josi sentaram uma de cada lado. E a Karine continuava olhando para a porta, em pé, como se visse um rastro invisível do Gustavo.
– E então? – Carla chamou minha atenção, mas eu continuava observando a Karine. Ela parecia ter algo a dizer.
– Vocês viram? – Karine falou. Pelo visto, eu não me enganei. Ela tinha algo a dizer.
– Viram o quê? – eu disse, achando graça. Um sorriso mínimo se formava nos meus lábios. Um dos únicos nos últimos dias.
– O Gustavo... – Karine continuou – Vocês não viram? Caraca! Ele sem os óculos é muito gato! E o que são aqueles músculos do braço dele? Como eu não tinha visto isso antes?
– Ah... – a Carla comentou olhando para as próprias unhas – Ele corre na praia de vez em quando, no calçadão de Ipanema. Já esbarrei com ele algumas vezes. – Ela assoprou as unhas, de modo displicente.
– Então... – eu concluí, ainda achando graça – Temos dois médicos gostosos no hospital?
– É. – As três concordaram. A Karine, com um aceno de cabeça mais enfático.
– Que bom que eu sou solteira – Karine afirmou – Porque você três podem olhar, e eu posso, quem sabe, provar, não é?
– Bom... – eu baixei meus olhos e observei meus pés – Eu não me interesso por eles no momento – murmurei – Mas eu também estou solteira... Eu acho...
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Como superar um amor em 3 listas (Degustação)
ChickLitLIVRO REGISTRADO NA BIBLIOTECA NACIONAL. "Numa noite que parecia comum, Luiza vê sua vida desabar. Do nada o seu marido anuncia (após 10 anos de relação) que está indo embora. Luiza sente o chão ser tirado de seus pés. Dor. Perda. Desilusão. Para aj...