Dias claros são apreciáveis, um clima ensolarado faz parte das pessoas, simplesmente despertam sentimentos de alegria, motivação e deixa existente a concepção que será um dia exuberante. Não é o caso do clima de hoje, Esteban é meu nome, não gosto de dias claros e muito menos de sentimentos falsos, mas com toda certeza esse dia de chuva está impossível de encarar. O clima pela manhã sempre é congelante em Brasília, mas hoje me sentia no Alasca, os ossos condenados ao frio implorando por socorro, os dentes serrados, mãos trêmulas, parecia um pinguim coberto de várias camadas de tecidos, isso não impedia a água de percorrer minha pele. Ando às pressas para pegar o ônibus na parada em frente ao hospital público, ansioso por um lugar para esconder meu corpo da chuva que caía, ventos fortes me impedia de concentrar no caminho percorrido, ao longe observei uma mulher negra, velha de pele enrugada, olhos grandes, nariz pontudo, seu cabelo tingido de preto não cobriam totalmente os fios grisalhos, que descrevia ser soberba, encontrava-se perdida em meio a tantos papéis ao vento, não era de se negar que precisava de ajuda, mas isso não abalava minha consciência, seu olhar encontrou ao meu em meio a chuvarada, logo disfarcei e seguir meu caminho.
– Apenas ignore, você está com problemas maiores. – murmurei
Retomando meu percurso colocava meu corpo contra a bolsa, na intenção de proteger da chuva e só me senti aliviado ao chegar no ponto de ônibus, abrindo a bolsa e observando o conteúdo que havia lá dentro. Tinha fé que meu trabalho não estaria arruinado pela água. Com as roupas molhadas e um frio exaustivo permaneci encolhido no canto à espera do ônibus.
- Não! isso não vem ao caso, não sabe o quanto será importante que essa papelada esteja no meu escritório ainda hoje... - Falou o homem ao telefone.
Escondido em seu guarda-chuva, apresentando aparência de chefe de máfia como nos filmes, mas logo percebe-se que é um sujeito arrogante, impaciente que não tinha uma boa presença, parecia ser dono de alguma empresa ou filial na qual teria mais importância que sua própria família. Pessoas deste tipo não são de confiança, o amor ao dinheiro vence todas os outros sentimentos, o poder é um mau no qual o desejo de dominar supera a honestidade e humildade.
Como diria Nelson Rodrigues “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade.” Pessoas que trocam suas famílias pelo dinheiro não passam de pessoas que já morreram por dentro, simplesmente idiotas!...
(COOF...COOF...COOF)
Olhei para o lado, uma mulher gorda e baixa, sua roupa curta e apertada colocava a impressão de que seus seios iriam saltar por sobre a blusa, ela, porém tossindo como que pedido ajuda, por um momento sentir pena dela, usava óculos que deixavam seus olhos grandes e arregalados, no mínimo trabalhava como atendente de consultoria em alguma empresa falida.
(COOF...COOF...COOOF)
Parecia que seus órgãos iriam sair pela boca.
Ao seu lado o namorado, talvez marido, magro, alto e calvo, combinações perfeitas de um Zé ninguém, sem expressão no rosto, parece descente, agia como um guarda-costas de sua Amada, servindo como de apoio moral em meio à crise de tosse. Um casal perfeito, amor cego e convencidos que são um para o outro.
“ qual de vocês?... um de vocês, todos são suspeitos”
Estava com a mente distante do corpo quando um barulho enjoativo disparava pela plataforma com um eco ensurdecedor, as pessoas ao meu redor me observavam com olhar de desprezo só então percebi que era meu celular.
Com rapidez buscava dentro da mochila o celular e com dificuldade por conta das mãos molhadas, finalmente o peguei, qualquer um em sã consciência não atenderia uma ligação escrita “Desconhecido” na tela, mas na minha situação seria burrice não atender.
“ Alô?”
“ Alô ? Sou eu detetive Carlos Andrade, finalmente atendeu, escuta eu...” – disse ele
“ Não acredito, o que diabos quer comigo ? Já não basta as acusações” - questionei
“ Estou tentando ajudar você, mas você saiu daqui as pressas e...” – falou com a voz trêmula.
“ Ahhh nossa, me desculpe senhor detetive, não é todo dia que sou acusado de sequestrar minha melhor amiga, babaca!”
Subia em mim uma fúria excessiva.
“ Não acusei você, apenas mostrei os fatos que faz de você o principal suspeito, mas não duvido de você”
“ Fatos ? Engraçado que eram apenas acusações, mas tudo bem, claro que eu seria suspeito, três mortes e um sequestro e eu estava presente em todas as ocasiões, mas de uma coisa tenho certeza vou provar para você e para aquele idiota do seu ajudante a minha inocência ”
“ o que está pensando em fazer ?” perguntou com a voz trêmula.
“ Eu vou matar o maldito assassino!”
“ Não faz nenhuma besteira, isso é arriscado de mais, onde você está? Eu posso...”
Desliguei sem pensar em mais nada, talvez tomei a decisão errada, mas com toda a certeza, não tenho mais nada a perder.
As vezes esqueço o motivo pelo qual estou na pior, mesmo sabendo que superei muitas quedas nessa vida, qual seria o real motivo da minha desistência? Me pergunto todos os dias antes de sair de casa, mas nessa fase da vida tudo que aconteceu é um motivo.
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intruso
Mystery / ThrillerEsteban sonha em ser um escritor famoso, acaba tendo sua vida comprometida quando se torna o principal suspeito de uma onda de assassinatos em sua cidade.