Capítulo Um

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Juliano Garcia




Levanto às 7h da manhã. Hoje é mais um dia cheio de afazeres. Além das minhas responsabilidades nas boates, também tenho questões para resolver nos restaurantes. Muitos acham que sou dono apenas das boates, mas minha história de sucesso foi construída com muito esforço e trabalho, além do apoio incondicional dos meus pais. A única coisa que nos separa é a distância física; eles ainda moram em Goiânia, enquanto decidi recomeçar minha vida em São Paulo após um doloroso término de relacionamento, onde tive meu coração quebrado. Adriana, uma mulher linda por quem fui apaixonado, me disse a verdade quando admitiu que não me amava e seguiria sua vida sem mim. Ela amava outro homem, e apesar do sofrimento, decidi seguir em frente para não presenciar o casamento da mulher que amava com outra pessoa.

Depois de Adriana, fechei meu coração para novos relacionamentos, temendo sofrer novamente. Agora, aos 45 anos, não me vejo casando e formando uma família. Satisfaço meus desejos com as mulheres que escolho, quando quero, sem contar que ainda tenho uma, "foda fixa", como dizem meus amigos, Hugo, Leonardo e Arthur, que hoje já estão casados e felizes. Sou tirado de meus pensamentos com o toque do meu celular. É o César me ligando.

— Me ligando tão cedo, espero que seja algo importante, para que eu possa interromper o que estou fazendo e falar com você, César. — Falo sem paciência.

César é meu amigo e sócio nos restaurantes, além de ser um excelente chefe de cozinha. Desde que nos conhecemos, nos tornamos grandes amigos e decidimos abrir nosso primeiro restaurante juntos.

— Já vi que hoje acordou com o humor bem elevado, não é mesmo? — Fala ele, rindo em tom de deboche.

— Muito engraçadinho, não é mesmo, César? Vamos, diga logo o que quer. — Respondo, pedindo para ele ir direto ao ponto.

— Está certo. É que estamos com um problema com um dos fornecedores, e para complicar, nosso advogado decidiu se aposentar. Ele disse que quem ficará em seu lugar será sua filha.

— Desde que ela seja tão competente quanto o pai, não vejo problema algum. Resolva o problema com o fornecedor e programe uma reunião com Albuquerque para que ele possa nos apresentar sua filha. — Peço, planejando resolver o problema do fornecedor e, ao mesmo tempo, conhecer a substituta do nosso advogado. Encerramos a ligação após acertar os detalhes para a reunião.

Enquanto continuo trabalhando, recebo uma mensagem de César:

Reunião marcada para as 15h na sua boate.

Até mais.

César

Respondo rapidamente:

Certo, te encontro lá.

Ah! Não se atrase.

J. Garcia

Após responder, volto minha atenção para as planilhas enviadas por minha assistente por e-mail.

Chego na boate e, como esperado, não encontro nem meu amigo nem o advogado. Não posso reclamar, pois cheguei antes do horário marcado. Dirijo-me ao bar e peço uma dose de whisky, aguardando a chegada deles. Estou curioso para conhecer a filha do advogado, Rayka. Lembro que em algum momento falou sobre ela, mas não dei muita atenção, já que não costumo me envolver na vida familiar de meus funcionários, e Albuquerque é um deles, apesar de nutrir um respeito e amizade muito grande por ele. Afinal são mais de vinte anos que trabalha para mim e César.

— Me admiraria se eu chegasse aqui e não te encontrasse sentado em um desses bancos com um copo de whisky na mão. — César chega chamando minha atenção, se aproximando do balcão.

— Quem ouve você falar assim vai pensar que eu vivo bebendo, meu amigo. — Respondo, cumprimentando-o.

Conversamos um pouco mais antes de decidirmos ir para o escritório. No caminho, aviso a um dos seguranças que, assim que o advogado chegar, ele deve levá-lo diretamente ao escritório. Aproveitamos a oportunidade para discutir algumas mudanças planejadas para os restaurantes e reformas que precisamos fazer.

Quando finalmente ouvimos batidas na porta do escritório, autorizo a entrada.

— Entre. — Chamo, alto o suficiente para que a pessoa do outro lado da porta ouça.

— Com licença, senhor Garcia. O senhor Albuquerque está aqui, posso deixá-lo entrar? — Pergunta um dos seguranças.

— Sim, faça isso. — Assinto, permitindo a entrada do advogado.

— Boa tarde! — Ele entra na sala e nos cumprimenta.

Cumprimentamos o senhor Albuquerque e, ao mesmo tempo, não consigo deixar de notar a bela mulher ao seu lado. Que morena linda.

— Bom, Garcia, acho que Moraes já falou com você sobre eu estar deixando meu cargo, pois resolvi me aposentar. Estou precisando descansar. — Meu advogado anuncia, sentando-se à nossa frente, com a filha ao seu lado.

— Sim, claro. E suponho que essa seja sua filha, correto? — Pergunto, interessado em conhecê-la.

— Ah, sim, me desculpem. Esta é Rayka, minha filha, e ela ficará em meu lugar. — Noto o brilho de orgulho nos olhos do advogado ao falar de sua filha, que sorri em resposta.

—É um prazer poder dar continuidade ao trabalho do meu pai, e espero não os decepcionar. — Rayka fala, sem desviar o olhar de nós.

— Tenho certeza de que não irá nos decepcionar, especialmente porque tem um grande exemplo em casa, com seu pai. — César comenta, e se ele não fosse casado, eu diria que está flertando com Rayka.

— Assim espero, pois seu pai sabe que não admito falhas, e é essencial que você nos comunique tudo que fizer. — Falo, notando os olhares de Albuquerque e César sobre mim, enquanto eu, não consigo desviar olhar de Rayka.

— Quanto a isso, não precisa se preocupar, senhor Garcia. Se tem uma coisa que aprendi com meu pai é a fazer meu trabalho de forma eficiente. Se preferir, posso passar por um período de experiência antes de assumir oficialmente. — Rayka me desafia, me olhando fixamente e sorrindo levemente.

Gosto de um bom desafio, mas se ela acha que vou cair na dela está muito enganada, ela não precisa passar por experiência nenhuma, pois tenho certeza de que ela se sairá muito bem, mas ela não precisa saber disso.

—Tenho certeza de que seu pai sabe o que está fazendo ao colocá-la no lugar dele. Apenas faça o seu serviço, e não teremos problemas. — Falo, levantando-me e fechando meu paletó.

— Sim, senhor. Farei tudo conforme meu pai me orientou. — Ela responde.

Terminamos a reunião, então me despeço de Albuquerque e sua filha e sigo para um dos restaurantes com César, que pelo que noto está com cara de quem quer falar algo.

— Fala logo. Te conheço muito bem e sei quando você quer falar algo — César não aguenta e começa a rir.

— Notei seu olhar predador sobre a filha de Albuquerque, devo me preocupar com isso Juliano? — Que porra ele está querendo dizer com isso.

— Não estou te entendendo? Eu só quero que ela seja tão ou melhor no que faz do que o pai dela, para que não tenhamos dores de cabeça depois — respondo, mas nem eu mesmo acredito em tudo que falei, pois Rayka mexeu comigo e não sei dizer se isso é bom ruim.

Meu amigo resolveu não falar mais nada e seguimos conversando sobre outras coisas até chegarmos no restaurante.

Simplesmente MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora