Fogueira, decisão e destino.

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Olá, finalmente o último capítulo, agora sem mais nenhum porém! Ufa, foi uma delícia escrever essa história, amei as interações e acima de tudo, amei escrever novamente para mim. Boa leitura!

Espero que ninguém fique decepcionado ;D.

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Entregar o nome de alguém para o fogo não era um simples ato de rebeldia ou mágoa. Era negar a um deus uma de suas maiores bençãos, as lendas não existiam apenas para serem contados como contos de fadas que nunca ocorreram de verdade, elas eram o retumbar das vozes ancestrais, de conhecimentos que só não foram perdidos graças as tradições orais, as histórias contadas por todos os lobos em diversas gerações, era a ligação com seres que já nem existiam mais no plano carnal.

Harry sabia mais do que ninguém quão importante e profundo era entregar ao fogo o nome de alguém. Ele cresceu cercado por lendas, sua avó e mãe eram duas ômegas completamente voltadas a sabedoria antiga e da natureza, apesar de ser um filhote amante da ciência dos lobos, ele não conseguiria jamais se desvincular do caráter místico que foi envolvida sua criação.

As ômegas não eram idólatras, elas não eram como muitos lobos, que construíam seitas com a desculpa de estar mantendo vivo um conhecimento ancestral. A admiração do ômega pelas duas mulheres se dava por toda criticidade e inteligência, respeitando e acreditando no novo, sem nunca deixar para trás suas raízes mais profundas. Quantas vezes não foi tratado através de orações e chás? Mesmo não entendo como vinha a melhora, o ômega viveu entre os remédios e tratamentos químicos da ciência e os chás e orações dos tempos antigos, quando os lobos ainda viviam em matilhas, escondidos em cavernas ou casas de madeira no meio da floresta.

O ômega sabia o peso de sua escolha, sabia qual sério era seguir com sua decisão. Talvez por isso acabou não dividindo com a mãe e avó seus próximos passos, provavelmente a mais velha passaria horas em um sermão de quão irresponsável e desrespeitoso ele estaria sendo ao elemento Fogo no seu mês festivo.

Entregar ao fogo o nome de alguém não era só pedir pra que a paixão fosse superada, era escolher o esquecimento. Os momentos bons e ruins seriam negados em frente a grande fogueira, tudo o que o casal foi ou poderia ser, queimaria com o fogo.

Harry ouviu da sua avó uma vez, enquanto conversavam sobre lendas e costumes antigos, que o ato de jogar o nome de alguém no fogo não surgiu, como muitos pensavam e compartilhavam, com a ação de um ômega inconformado com seu alfa.

Jogar o nome no fogo era um ritual de quebra de vínculo. Ômegas que acabavam com um alfa mal, ou alfas com parceiros igualmente abusivos, contavam ao fogo suas dores e os motivos para desejar quebrar um elo tão sagrado, claramente tudo era feito com mais calma, todo o período festivo servia como um momento de preparação para a queima do nome, era um mês de profunda reflexão e escolhas.

O processo era muito mais intenso e sério, segundo sua avó, alguns ômegas mais revoltados com o vínculo e com seus parceiros, usavam da brasa da fogueira mãe para machucar a pele, manchar a marca de vínculo do próprio pescoço. Era visceral e profundo, era um grito de socorro, raiva e liberdade ao elemento da paixão, quebrar um elo era um processo doloroso por si só, mas antes, com a ajuda do fogo para quem tinha coragem ao buscar sua ajuda, a dor era apaziguada.

A mulher explicou que nem todos os lobos que queriam quebrar a marca de vínculo recorriam ao fogo, já que antes as pessoas compreendam o peso dessa escolha e quão sagrado era o momento da queima, como o espiritual e o carnal se envolviam por poucos segundos através das chamas e das brasas. Com o tempo o ritual perdeu força e significado, com o tempo o fogo ficou furioso pelos pedidos que recebia em suas chamas, não eram mais casais com problemas profundos e irremediaveis que pediam por sua ajuda, agora eram jovens inconformados com suas dores e extremamente magoados com seus parceiros, alguns que não entendiam quão profundo era a dor dos seus ancestrais para recorrer a um elemento tão sagrado e vital, para pedir ao Ser da paixão que fosse contra sua própria natureza dominante da luxúria e aquecimento, para revelar sua face destrutiva e ceifadora.

Vermelho, fogo e calor.Onde histórias criam vida. Descubra agora