Oh, tão belo estranho...

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Mais um dia sentindo a cabeça pesada cair sobre a janela do trêm, os olhos quase se fechando e o cansaço repuxando o corpo a cada movimento que o vagão fazia, balançando Martín de um lado para o outro em seu estado de esgotamento. Seus olhos clamavam por descanso, sua mente então, sequer conseguia entender o que a voz eletrônica dizia acima de si ao anunciar a próxima parada, só queria dormir.

Puxou o celular de seu bolso, olhando as horas.

23:34

Era tarde, quase não chegava do trabalho essas horas, mas hoje o dia decidiu esgotar Martín mais do que ele sequer conseguiria prever, e vários imprevistos aconteceram em corrente. Agora, pensando novamente, Martín via como o dia havia sido corrido, e se surpreendia aos poucos vendo que deu conta de tudo. Em busca de um jogo no celular, que pudesse acordá-lo até sua estação, ele teclava com destreza, vendo de canto de olho várias pessoas encherem mais ainda aquele pequeno vagão já entupido de pessoas mortificadas. Anunciando a volta de movimento do trêm, o apito irritante soou, e Martín levantou a cabeça.

Olhou ao redor, pessoas cansadas e suadas, as portas se fechavam, e no mapa mostrava que faltavam mais três estações até a sua, o que o fez se afundar um pouco mais no banco duro do transporte. Seus olhos pousaram em uma das várias pessoas, um moreno de cabelos brilhantes e ondulados, que não parecia tão cansado quanto as pessoas ao seu redor, pelo contrário, seu rosto jovem exibia uma vitalidade cruel aos olhos de Martín, que sabia ser jovem também, mas devia estar acabado, devido as condições de seu dia estressante, se sentiu até envergonhado quando o olhar escuro do outro tocou o seu, fazendo Martín desviar, não queria ser rude. Sua tendência, com noites pacatas e estranhos bonitos, era de se apaixonar no vagão, e então passaria os minutos que o sobravam observando a pessoa que cativou sua atenção. Já fora deveras julgado por isso, em olhares de descontentamento.

O contato visual curto fez o loiro corar, Martín pensava ter sido apenas isso, não a beleza extremamente atraente daquele moreno. No pouco tempo que teve de visão dele, viu que seus olhos eram de um castanho escuro, tão escuro que quase prenderam Martín em um buraco negro, o atraindo tão eficazes. Viu também as ondas bagunçadas de seu cabelo, mas que pareciam o deixar ainda mais bonito, fazendo Martín acreditar que se afundasse as mãos ali, nunca mais as tiraria. Mais a fundo, viu que o moreno tinha músculos bem marcados, não exuberantes, mas como tudo nele, atraentes. Desejou poder apertar cada um, não imaginando como aquilo era estranho, uma vez que sequer conhecia o outro, sentando um pouco mais a sua frente, num banco lateral.

Longos minutos se passaram, mais uma estação agora era anunciada, e o loiro levantou os olhos para encarar o estranho que agora lia um jornal que encontrou ao lado de seu banco, concentrado nas palavras da capa, ele sorriu pequeno e Martín sentiu seu coração sair do lugar em seu peito, era tão lindo...

Os dentes alinhados e perfeitos foram o colapso do loiro, que via o quão belo alguém poderia ser só de olhar aquele garoto. Um sorriso lindo complementou a aparência angelical, fazendo um suspiro sair dos lábios do de pele alva, atraindo a atenção do senhorzinho ao seu lado, que o olhou torto. De canto, o moreno tornou a olhar Martín, mas dessa vez, o pobre loiro encantado não teve coragem de fugir de seu olhar. Sua postura se ajeitou quase que automaticamente, constrangido com tamanha beleza que o encarava de volta, de canto, entre as folhas do jornal.

Martín imaginava se ele estava se sentindo igual, ou pelo menos achou um pouco atraente a aparência do loiro. Um encantamento inocente numa noite qualquer, num transporte público, um belíssimo estranho.

A última estação fora anunciada durante essa troca de olhares, chegou sua parada, onde Martín teria que ir. O estranho teria de esperar, um estranho até Martín o ver novamente.

Ao sair do vagão, ele imaginava, curioso, o que aconteceria caso ele não tivesse que deixar o vagão, saberia o nome dele? 

Talvez tivessem trocado algumas palavras, um conto de fadas finalmente aconteceria com o pobre loiro?

Oh tão lindo, esse estranho, Martín pensava. Seu coração palpitava pesado em seu peito, querendo mais daquele olhar quente, daquela aura revigorante, daquela sensação de ser sugado para uma brevíssima paixão. Suspirou mais uma vez, o vento frio batia em seus fios, os balançando ao ar, uma vez que era outono e o clima se encontrava um pouco agressivo. Saindo da estação, ele torcia para o dia seguinte, torcendo para encontrar aquele moreno mais uma vez.

Oh, por vê-lo mais uma vez...

Andando pelas ruas frias, ele sonhava acordado com seu conto de fadas interrompido, imaginando que nome combinaria com tanta beleza. Folhas secas pousaram em paz em seus fios de cabelo, o que o loiro só notaria ao chegar em casa, mas foi obrigado a perceber quando uma mão morena surgiu em seu campo de visão, fazendo perceber o garoto que agora caminhava ao seu lado.

Era ele..

Seu tão belo estranho, o acompanhando em seus passos, que foram cessados em descrença.

- Olá.- Como uma melodia, a voz alcançou os ouvidos de Martín, e o sorriso do moreno o puxou mais uma vez para o fundo do poço. - Me chamo Luciano, e você?

- Oh... Me chamo Martín.

Oh, estranho até o ver novamente.

Meu tão belo estranho...

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One shotzinha beeem pequena só pra mostrar que ainda tô vivo, e me desculpem pela demora de Once upon a time e FTC

Amo vcs

beautiful stranger - BraargOnde histórias criam vida. Descubra agora