Era uma vez o vazio que acidentalmente foi preenchido. O vazio tinha um nome arbitrário e se chamava...
Bem, ele se chamava do que você quiser que esse vazio se chame.
Assim que o vazio foi preenchido por um ponto acidental - sim, um ponto como o ponto final -, o vazio ficou enlouquecido. Ouvia vozes de lamento do ponto que ecoava por todo seu vazio se questionando sobre como tudo poderia ser possível. Questões sobre universo, formas e tudo que para si nunca precisou ter sentido.
O vazio era calmo, o vazio era infinito. Se nele existissem palavras, ele então seria descrito como tranquilo. Um monge então a meditar teria inveja do seu vazio. Agora no entanto, poluído.Era uma vez um ponto. Ele era assim, rebelde e pequenino. Gostava de travar palavras e fazer argumentos sem sentido. Ele habitava no meio de conturbações e por isso vivia sempre perdido.
O ponto às vezes ficava cansado. Errava e errava os finais de muitas falas. Colocava a culpa na vírgula, mas sabia que no fundo era ele quem deveria estar lá presente para fazer do mundo um lugar mais coerente.
O ponto vivia irritado. Não entendia como e nem quando; só fazia seu trabalho.
Um belo dia o ponto caiu. Não em outro texto, não em outro pensamento. Não sabia como - porque ele não tinha pés, mas caiu dentro de um vazio.Era uma vez um ponto e um vazio. Eles brigavam e brigavam. Uma guerra sem fim.
O vazio obviamente só queria estar sozinho e o ponto naturalmente sem saber o que queria, se aproveitava de todo aquele vazio.
"Seu lugar não é no meu vazio! Você precisa sair e voltar ao mundo para que tudo isso seja esquecido."
" Mas agora que estou aqui, você não é mais um vazio. Está preenchido! Não sei o que é agora, só sei que não é mais um vazio."
O ponto no meio de uma das brigas percebeu que tudo o que sentia antes não mais o incomodava. Não tinha mais tarefas infinitas e muito menos falas erradas. O ponto estava feliz e por isso ele cantava:
" Sempre fui um ponto a mais e agora sou um ponto a menos. Quem ousar começar vai sentir a minha falta, pois não vou estar lá para terminar; quem ousar começar vai sentir a minha falta, pois eles não lembram do ponto final quando começam a amar."
O vazio, no entanto, percebia a cada novo momento que não sentia mais frustrações pelo ponto. Sentia-se triste, achava que esse deveria ser o nome da emoção. Não tinha mais identidade, não sabia o que era; talvez devesse aceitar sua nova condição e deixar o ponto habitar seu vazio, se assim ele quisera.
O tempo poderia ter passado, mas o tempo nunca no vazio havia habitado. O ponto, por conseguinte, ficava muito entediado. Tentou de tudo para fazer do vazio seu amigo, mas o vazio sempre o observava de longe.
" Por que você não cede um pouquinho? Vamos! Podemos fazer o que quiser com todo esse vazio!"
" Eu achei que apenas você pudesse desfrutar. Eu já nem sou mais assim, sabe? Vazio."
O ponto não percebeu, mas seria difícil alguém em qualquer tempo que habita ter percebido. O vazio cada vez mais preenchido. Preenchido de pensamentos, preenchido de memórias, experiências, de sentimentos?
O vazio tinha um nome arbitrário e você podia chamá-lo do que quiser. Tudo menos vazio. Procurou seu ponto - sim, o S E U ponto-, para avisar sua nova identidade, contudo, o ponto havia partido. Sem despedidas, e essa é uma das palavras que com ele havia aprendido.O ponto sem saber o motivo, acordou em meio ao caos. Palavras soltas e sentimentos perdidos. Nunca achou que sua falta poderia arruinar completamente até aqueles que ainda não haviam nascido.
" Preciso realmente voltar, preciso ajeitar tudo para que os problemas do mundo sejam resolvidos."
O ponto calmamente entrou em jogo separando ideias enquanto lembrava estar em todo aquele vazio.
Em ritmo frenético separava as pausas e finalmente compreendia até as falas absurdas. Falas como a sua:
"Ao menos agora o vazio está feliz por realmente eu ter partido. Agora o vazio poderá voltar ser realmente um vazio."
Não é uma história triste, mas sim sobre os preenchimentos verdadeiramente absurdos. O ponto segue feliz fazendo muito mais do que pausas, mas também vendo os vazios sendo preenchidos. E o vazio? Bem, o vazio não voltara ou voltará a ser vazio. Com tantas memórias, falas e sentimentos... o ex-vazio era um mundo inteiro de imaginação. Criou seus próprios pontos problemáticos e para todos eles ensinava que o S E U ponto também estaria por aí aprontando das suas e sendo incrivelmente exato.
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Histórias de Era uma vez
Short StoryAs melhores histórias do mundo começam com era uma vez. Quando somos crianças, nossas histórias clássicas começam com essas palavrinhas mágicas. Então, para deixar o mundo mais leve precisamos de histórias que consigam descrever o mundo com outro ol...