Capítulo 1

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A primeira vez que perdi um paciente.

Era um mês de inverno. A odiosa estação na qual nunca me foi preferida ou querida. Meu pai John, que era minha figura masculina mais vívida, havia retornado a pouco de uma longa viagem que acabou por custar sua saúde. Minha mãe sempre dizia que; "A força e a bravura de um homem quando dedicada a proteger, descreve o seu coração." E no caso do meu pai, seu coração, corpo e mente haviam sido colocados em jogo pelo nosso país. Para honrar a pátria. -O que para nós trouxe grandíssimo orgulho-

Sua vinda me trouxe imensa felicidade, que logo tornou-se uma arrebatadora tristeza. Invadindo o peito subitamente ao saber da fragilidade do seu estado se saúde. Me recordo de chorar por uma noite inteira, sem coragem de sair do quarto e tornar a vê-lo naquela situação. Pois, era o mesmo homem que tinha fôlego para me levantar em seus braços, o que parafusou todas as estantes do meu quarto, sempre usando o melhor de sua força. Era vivaz e feliz, carregava uma imensidade de estrelas no brilho de seus olhos, principalmente no momento em que seu olhar era colocado sob Amélie, minha mãe. Seu amor por ela ultrapassava qualquer amor de um homem por uma mulher que eu um dia já tenha pensado em acreditar. Ela era única em sua vida e ele, na dela.
Por isso, não pude acreditar quando me forcei a sair do quarto -quando a saudade dele foi maior do que o medo de vê-lo doente- Fazendo com que eu visse sua maravilhosa essência, sendo presa junto a ele em uma cadeira de rodas. O escondendo dentro de um homem que agora mal conseguia falar.

Então, lá estava, diante de mim, aos quatorze anos, meu primeiro paciente. Eu cuidei de suas feridas, sua alimentação, o poupando de qualquer esforço. Até o último dia. Aquela noite de inverno foi quando o vi partir diante de mim, enquanto eu o tinha em um abraço forte. O meu último abraço, um ultimo bom abraço.

Quando menos esperei, anos depois, eu estava caminhando dentre os corredores brancos de um hospital, muitas vezes me sentindo com mais sono do que deveria ser normal sentir. -fato esse que era sempre relevado e ignorado no fim do dia por mim- Mas sim, a minha formação em medicina foi algo quase predestinado.

Aos vinte e dois anos eu já estava no meu primeiro emprego, que curiosamente se estendeu até os dias de hoje, três anos depois. Eu gostava do hospital, fazia com que eu sentisse conforto. Via os mesmos rostos todos os dias, sentia as mesmas sensações quando recebia pacientes de forma pacífica em minha sala, não existia motivos nos quais me preocupar. Exceto, claro, pelo Ben.

Para explicar o Ben de forma correta eu sigo pela linha de que; eu e ele nos formamos juntos, e tivemos a sorte de conseguir o emprego no mesmo lugar. Meses depois ele declarou um amor desesperado por mim, no qual mesmo não tendo certeza retribuir, acabei aceitando sua aproximação. Pensando que o sentimento poderia ser criado e lapidado com o tempo e bom... Não foi. Logo, o que antes era uma sorte passou a tornar-se um azar. Quando o nosso relacionamento implodiu, nos transformou em meros conhecidos. Porém, conhecidos se escondem nos corredores um do outro? Escondem a cabeça debaixo da mesa fingindo que não estão ou desligam o telefone para evitar ligações ? Não.

Entretanto, em minha defesa, eu realmente não sabia como lidar com a situação de uma forma madura -admito.- Pois, no fundo, carregava um sentimento de culpa dentro de mim, inegável. Eu sabia que o fato de não amar a anos, ou deixar que alguém permanecesse muito tempo para fazê-lo, tornava tudo bem mais difícil, mas discutir as razões da existência dessa barreira emocional era bem mais desconfortável, até para mim.

Era um dos fins de tarde onde eu já havia guardado todas as minhas coisas no armário, tomado um banho rápido no vestiário do hospital e já estava a caminho da saída com uma bolsa lateral sem ter sequer encontrado uma vez com o Ben, e estava, claro me sentindo vitoriosa por isso. Respirei fundo ao sair do grande prédio com uma arquitetura antiga, sentindo aquele cheiro de por do sol que não tem explicação de existir. -Porém, sempre foi o meu cheiro favorito.- Sentia meu corpo mais leve e relaxado pela tranquilidade de ter feito um bom trabalho. Caminhei pelas ruas tranquilas, nesse horário tudo se acalmava e formava uma ambientação morna, silenciosa, como se o ar ficasse tão denso ao ponto de deixar nossos movimentos lentos, como estar dentro da água.

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⏰ Última atualização: Jan 06 ⏰

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