Capítulo 1 - O que mexe comigo?

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Aos 14 anos, Paulo Mendes estava no auge da adolescência, mas algo estava faltando. Enquanto observava a vida pela janela, ele sentia que estava preso em um loop de rotina: escola, dever de casa e as obrigações diárias. A única fuga vinha das histórias que ele lia em livros e da música que escutava enquanto esperava pelo sono.

Certo dia, durante o almoço na escola, seu amigo Pedro compartilhou um folheto colorido. "Olhem isso, pessoal! Uma festa de música eletrônica neste fim de semana! Vai ser demais!"

Os olhos de Paulo se iluminaram enquanto ele pegava o folheto. "DJ Nelasta: A Noite Incendiária", estava escrito em letras ousadas. Sentia as batidas ecoando em sua mente enquanto olhava para a imagem enigmática do DJ no pôster. Na parte de trás, uma foto mostrava Pedro e seus outros amigos sorrindo, os olhos cheios de expectativa.

Naquela noite, enquanto a música alta tocava na sala de estar, Paulo lia o folheto novamente. Ele sabia que o tio Carlos tinha sido DJ em algum momento, mas nunca havia compartilhado muitos detalhes sobre isso. Paulo pensou em como seria incrível estar no controle das batidas, criando algo que pudesse fazer as pessoas se moverem e se perderem no ritmo.

Enquanto a música continuava, Paulo se perdeu em pensamentos. Lembrava-se das vezes em que ele e seus amigos passavam tardes inteiras juntos, explorando a cidade, sonhando com aventuras. Mas a maioria deles estava de passagem; logo estariam em caminhos diferentes, buscando seus próprios destinos. Era como se o tempo estivesse passando rápido demais, e ele estava correndo para acompanhar.

Uma tarde, sentado no quintal, Paulo olhava para o céu. A brisa morna brincava com seus cabelos enquanto ele pensava sobre o folheto da festa. Ele sabia que havia algo que o mexia profundamente, algo além das palavras e das rotinas diárias. Ele queria fazer parte daquelas batidas, da energia contagiante que parecia envolver o DJ Nelasta e seu mundo eletrônico.

No dia seguinte... O sol de Luanda iluminava as cortinas do quarto de Paulo, preenchendo o ambiente com um brilho dourado. Ele despertou sob o calor matinal, lutando para deixar para trás os sonhos vagos que o cercavam. O pulsar de batidas distantes o atingiu, trazendo lembranças de noites agitadas e músicas vibrantes.

Sentou-se na cama, esfregando os olhos para se livrar do sono. O som das batidas, como um chamado insistente, parecia penetrar em sua mente. Levantou-se e seguiu o som até a sala de estar, onde se deparou com uma cena que há muito se tornara familiar.

Seu tio, o tio Carlos, estava diante de uma mesa de mixagem, olhos fechados e corpo balançando no ritmo da música. As batidas pulsantes preenchiam a sala, reverberando nas paredes e nos móveis. Paulo sorriu, apreciando a paixão que seu tio trazia àquelas músicas eletrônicas que ele tocava tão alto.

Tio Carlos percebeu a presença de Paulo e abriu os olhos com um sorriso largo. "E aí, meu garoto? Acordou tarde hoje?", ele disse, com a voz ligeiramente abafada pelas batidas.

"É, parece que sim", respondeu Paulo, rindo. "Você sempre acorda a vizinhança com essas batidas, tio."

Tio Carlos riu. "Ah, você sabe como é, Paulo. A música é feita para ser ouvida e sentida. E quem precisa de vizinhos quando temos uma festa particular em casa?"

Enquanto conversavam, Paulo não podia deixar de observar o jeito que seu tio se movia entre os botões e as alavancas da mesa de mixagem. Era como se ele estivesse traduzindo emoções em sons, criando uma linguagem que ressoava profundamente dentro dele.

Sentaram-se no sofá, ainda cercados pelas batidas pulsantes. Paulo olhou para a tela da TV, onde um filme estrangeiro estava passando com as legendas ativadas. O tio Carlos observou para onde Paulo estava olhando e sorriu.

"Sabe, Paulo, foi isso que me ensinou a ler legendas rapidamente", disse ele, apontando para a tela. "As batidas da música, os diálogos dos filmes... eles têm seus próprios ritmos e padrões. E, às vezes, aprender a ler a música é como ler entre as linhas de um filme."

Paulo pensou nas palavras de seu tio enquanto as batidas continuavam a preencher a sala. Naquele momento, algo dentro dele se mexeu. Era uma sensação estranha, como se ele estivesse começando a entender uma linguagem secreta que só alguns podiam compreender. O que realmente mexia com ele? Ele ainda não sabia, mas estava começando a vislumbrar.

O tio Carlos ajustou as batidas, transformando a música em um novo padrão. "Paulo, meu garoto, você já pensou em fazer música? Em ser um DJ?" ele perguntou de repente.

Paulo olhou para ele, surpreso. Nunca tinha considerado essa possibilidade antes. Mas naquele momento, com as batidas ecoando em seus ouvidos e seu tio à sua frente, algo clicou. Ele não tinha certeza do que queria exatamente, mas sabia que as batidas, a música, algo dentro dessa linguagem, mexia com ele de uma maneira que nunca sentiu antes.

"Um DJ? Talvez...", murmurou Paulo, sua voz carregada de curiosidade.

Seu tio sorriu, e as batidas continuaram a encher o ar, como um ritmo constante de possibilidades. Nesse momento, Paulo deu o primeiro passo em direção ao que viria a se tornar uma jornada de autodescoberta, paixão e aventura, tudo por meio da música que mexia com ele de maneiras que ele ainda não conseguia entender completamente.

Conforme os dias passavam, Paulo e seu tio compartilhavam momentos preciosos. Sentados na sala de estar, eles mergulhavam em diálogos significativos sobre a música, suas influências e os sentimentos que ela evocava. Paulo finalmente reuniu coragem para perguntar sobre o passado do tio Carlos como DJ.

"Como era essa vida, Tio? Você não fala muito sobre isso", disse Paulo, curioso.

Tio Carlos olhou para o horizonte por um momento, como se estivesse revivendo memórias distantes. "Ah, a vida de DJ, meu garoto... Era algo como navegar por um oceano de sons. As luzes cintilantes, a energia da multidão, as batidas que conectam as almas. Era mágico."

Paulo inclinou-se um pouco mais perto, ansioso para ouvir mais. "Mas por que você parou? Parece incrível."

O tio Carlos sorriu, um sorriso que continha uma mistura de nostalgia e sabedoria. "A vida é cheia de escolhas, Paulo. Às vezes, precisamos deixar para trás uma paixão para abraçar outras. Fui atraído por outros desafios, outros ritmos da vida. Mas a música, ela sempre permaneceu comigo."

Paulo percebeu que havia algo mais profundo, algo que o tio não estava revelando completamente. Ele podia sentir que a música estava ligada a uma parte essencial do tio Carlos, algo que talvez ele só compartilhasse quando estivesse pronto.

Enquanto continuavam a conversa, a música tocava suavemente ao fundo, como uma trilha sonora para suas palavras. Eles falaram sobre a busca por autenticidade na música, sobre a importância de encontrar a própria voz e sobre a jornada de se expressar através das batidas.

Uma tarde, enquanto folheava um álbum de fotos antigas, Paulo encontrou uma imagem do tio Carlos diante de uma multidão em êxtase. "Tio, quem são essas pessoas? Parece que você está em cima de um palco!"

Tio Carlos pegou a foto e olhou para ela por um momento. "Ah, esse foi um dos momentos que nunca vou esquecer. Uma das minhas atuações mais memoráveis. Aquelas pessoas... elas eram como uma extensão da música, dançando ao meu comando. Mas, como disse, as escolhas nos levam a diferentes estradas."

Paulo sentiu que estava tocando em uma história profunda, algo que tinha mais camadas do que seu tio estava compartilhando. Ele decidiu não pressionar mais, sabendo que, eventualmente, seu tio compartilharia o que quer que estivesse guardando.

À medida que a conversa prosseguia, Paulo começava a entender que a música não era apenas sobre batidas e melodias; ela também era sobre histórias, conexões e sentimentos. A paixão de seu tio pela música eletrônica estava entrelaçada com uma história que ele ainda não estava pronto para contar, mas Paulo estava determinado a continuar sua própria jornada musical, explorando os ritmos e as histórias que a música poderia revelar.

Pulso Acelerado: Vivendo na AdrenalinaOnde histórias criam vida. Descubra agora