Capítulo um

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Segunda-feira, 16h54

— Agente Reis, lamento interromper o seu trabalho, mas tenho um novo caso para si. — Após a revelação do meu superior, arregalo os olhos. Porém, perante o meu silêncio, ele prossegue:

— Já deve ter ouvido falar do mais recente serial killer — supõe, sentado com os pés cruzados sobre a secretária de madeira escura.

— Aquele que anda a matar as namoradas? — pergunto, inquieta na cadeira almofadada.

O assassino já fez três vítimas. Todas morreram com um único tiro no peito. Um Modus Operandi. Os corpos são encontrados todos os domingos às 20:53. Foi com a gravação que recebemos hoje após a notícia que saiu pela manhã, que descobrimos que ele mata as namoradas. O telemóvel usado é sempre descartável e a voz também é modificada.

Na gravação, ele chamou-nos burros por acharmos que mata qualquer mulher. Achava que éramos mais espertos, que já estaríamos mais próximos de descobrir quem ele é.

Odeio isto. Odeio que pessoas inocentes tenham as suas vidas interrompidas por um sádico qualquer. Foi por este tipo de coisas que decidi ser polícia — para salvar vidas e impedir que o pior aconteça.

O Diretor Silva anui. Uma madeixa do seu cabelo castanho cai-lhe para a frente dos olhos da mesma tonalidade e prossegue:

— Está encarregada de descobrir quem ele é.

Ninguém consegue solucionar este caso. Porque é que ele pensa que eu consigo?

Estes dias, quando ele disse que tinha encontrado a mente ideal para solucionar este caso, achei que se tratava de um dos detetives. Eu nem sequer sou detetive e não faço a mínima ideia de como o ser.

— Desculpe, mas eu não sou uma detetive. Sou uma agente de terreno e estou encarregue da missão dos traficantes — afirmo, tentando tirar aquela ideia da cabeça do chefe.

— Ok... — começa ele, pensativo. — Então essa missão será entregue à Agente Rodrigues.

Arregalo os olhos. Ele só pode estar a brincar. Não acredito que me está a retirar uma missão que eu sempre quis, que eu estou quase a acabar, para me entregar uma que não faço a mínima ideia de como resolver.

— O quê... ? — interrogo.

— Quero a sua atenção total neste caso — interrompe-me, tirando os pés de cima da mesa e endireitando o corpo na poltrona. — Não me importo como o faz desde que seja dentro de limites morais. Mas quero que descubra quem é o autor destes crimes. Amanhã venha ter comigo para eu aprovar o que tenha em mente para resolver este caso.

— Ok... — respondo, consciente de que não me livro do caso. — O que tem até agora?

O Diretor passa-me três pastas.

— Quem são estes? — indago com as sobrancelhas franzidas.

— Estes são os nossos suspeitos. — Passo os olhos pelos perfis até que o Diretor Silva me interrompe: — Leve-a e examine os potenciais assassinos.

***

Entro no meu gabinete com as pastas agarradas ao peito, um café na mão e um donut na boca.

Fecho a porta com o pé, pouso o café na secretária e atiro as pastas para a cadeira. Preciso arranjar espaço nesta mesa, está mesmo uma confusão. Junto os papéis todos numa pilha, pousando-os num canto da secretária. Em seguida, pego a arma que está na mesa e coloco-a no coldre. Continua uma confusão, mas está um pouco melhor.

Abro as persianas para ter luz natural e finalmente coloco as pastas sobre a mesa enquanto me sento a comer o donut.

Pego na primeira e, assim que a abro, vejo papéis soltos dentro.

Tem uma fotografia presa com um clipe e ao lado tem o nome escrito:

Afonso Paiva;

A foto parece ter sido tirada por um paparazzi. Está distraído com alguma coisa, parecendo nem notar a câmara.

Tem um sorriso doce e contagioso. O cabelo castanho está caído sobre a testa. Parece tão bonito e inocente...

Começo a ler que outras informações têm sobre ele:

Vinte e seis anos;

Arregalo os olhos. Ele não aparenta ter mais de vinte anos. Podia jurar que ainda andava na universidade

Trabalha num café;

Não tem cadastro;

Tem um álibi para todos os assassinatos.

Não entendo o porquê dele ser sequer um suspeito então.

Bebo um longo gole de café e deixo esta pasta de lado, pegando na seguinte:

Tomás Batista;

Vinte e sete anos;

Estuda medicina;

Engasgo-me com o café ao ler a próxima linha:

Duas queixas de violência doméstica e três de assédio.

Este aqui é realmente suspeito. Acabo o donut enquanto reparo que já lhe fizeram um interrogatório.

Agente: Não é bem um interrogatório. São só algumas perguntas às quais estará a responder de livre vontade. Pode recusar-se a responder a qualquer pergunta e paramos quando quiser. Podemos começar?

Tomás: Claro.

Agente: Onde estava no momento da morte?

Tomás: Quando a gaja morreu ou quando vocês foram avisados que ela morreu?

Começamos bem.

Agente: Quando recebemos o alerta.

É por estas e outras razões que gosto de ser agente de terreno. Não teria esta paciência nem morta.

Tomás: De qual delas?

Puta que pariu.

Agente: Não está a ajudar.

Tomás: [silêncio]

Agente: Muito bem... De onde conhecia as vítimas?

Tomás: Só conhecia uma. Estudava comigo.

Agente: Certo. E onde estava no domingo às vinte e cinquenta e três?

Tomás: A estudar.

Agente: Onde?

Tomás: Em casa.

Agente: Sozinho?

Tomás: Eu moro sozinho. Já posso ir embora?

Ok, este é realmente um suspeito.. Suspiro ao abrir a última pasta. Esfrego os olhos, cansada, e bebo o último gole do meu café. Quero despachar logo isto. Ainda preciso pensar num plano.

Francisco Santos;

Loiro de olhos azuis e com a pele bronzeada. Bonitinho, mas nada de mais. Na foto, ele está em tronco nu à beira do mar. Assim como na foto do Afonso, ele parece nem notar a câmara. Está a olhar, o que acredito eu, ser o pôr do sol.

Vinte e um anos;

Trabalha num bar na praia;

Detido por posse de drogas há cerca de cinco anos.

Cinco anos? Então ele tinha dezasseis anos na altura? Não sei bem o que pensar. Bom sinal não é, mas também não quer dizer que seja um assassino.

Ok... O mais suspeito de todos é sem dúvida o Tomás. Vou começar por ele. Depois logo se vê.

Agora só preciso de um plano.

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⏰ Última atualização: Aug 16, 2023 ⏰

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Serial Killer | Joana GonçalvesOnde histórias criam vida. Descubra agora