Capítulo 1.

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No momento em que escuto o som opaco de um corpo se chocando contra o chão, estaco no lugar.

Um grito rasga minha garganta, quando reconheço aquele estirado a minha frente.

Theo.

[...]

Algumas horas antes.
1 de Agosto de 2022

— Se não andar logo vou te deixar aí, Thea!

Corro até a cozinha e, antes de passar correndo pelas portas da frente, pego uma maçã. Não sou muito de comer durante a manhã, mas havia passado mal semanas atrás por não estar me alimentando corretamente e meu pai me mataria se o fizesse ter "dores de cabeça" novamente. Então prefiro evitar problemas que podem ser facilmente resolvidos.

— Por que demorou todo esse tempo? — Theo, meu irmão mais velho, pergunta, enquanto abre a porta do passageiro para mim.

— Perdi a hora, me desculpa.

— Como sempre. — resmunga, brincalhão, ligando o carro e dando partida.

Tenho noção de que meu irmão vive ocupado, tentando ser bom o bastante para assumir o cargo do meu pai daqui a, exatamente, um mês, comandando todas as suas empresas. Mas como somos – ou éramos – muito próximos, às vezes sinto falta da presença dele.

Lembro-me claramente dos raros dias que íamos dar voltas juntos. Brincávamos, comprávamos os mais variados doces que éramos proibidos de comer em casa e voltávamos tarde do dia. Para mim, pequenas coisas significam muito ao lado de Theo. Aparentemente para ele, não mais.

— Ouvi falar que o colégio vai fazer um show de talentos novamente esse ano. É verdade?

— É, sim. Acho que vou cantar, você vai? — pergunto, com meus olhos vidrados em sua direção. — Será daqui dois meses.

— Sinto muito, Thea. Vou viajar esse final de semana, acho que ficarei uns três meses fora. O trabalho está me deixando cada vez mais ocupado, mas prometo que se eu conseguir achar alguma brecha tento chegar a tempo para te ver. — fala, dando de ombros. Faço que sim, tentando colocar meu melhor sorriso no rosto, apostando que parecia tolo e forçado.

Ninguém iria.

Meu pai sempre odiou, segundo suas próprias palavras, “certas futilidades”. Minha mãe acredita no que ele disser, então é de se esperar que também ache algo tolo e insignificante.

— Ei! Vê se não fica chateada, tá? Prometo que quando estiver tudo um pouco mais calmo e eu estiver conseguindo comandar bem a empresa vou me dar férias pra relaxar e passar um tempo com você. Tudo bem?

— Até lá eu já estarei fazendo faculdade. — solto um resmungo, fazendo um bico que com toda certeza saiu ridículo.

— Não seja dramática, sabe que não vai demorar muito. — fala, estacionando em frente ao portão do colégio.

— É claro que não. — murmuro.

Tiro meu cinto e dou um beijo em sua bochecha.

— Até mais tarde. — Theo se despede, quando já me encontro fora do carro.

Sorrio, acenando em sua direção.

Após entrar no colégio, observo o pequeno aglomerado de alunos ao meu redor.

Para quem vê esse colégio de fora, acha que é um lugar comum. Apenas uma escola de pessoas mesquinhas, fúteis e milionárias. E é, basicamente, isso.

Os magnatas da sociedade colocam seus filhos aqui, fazendo-os aprender desde cedo como funciona o mundo em que estão vivendo, pelo que terão que lutar em suas vidas e quem terão que derrubar. Não é à toa que é um dos melhores colégios do país.

Olhos que MatamOnde histórias criam vida. Descubra agora