Capítulo 2.

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2 de Agosto

Aquele garoto era uma vergonha para os Khalid, não era digno do sangue que carregava.

— Ouvi dizer que estava envolvido com drogas.

— Que absurdo! Petrus dedicou tanto de sua vida a ele, e olhe sua retribuição.

Escuto, em estado de choque, a conversa das mulheres que estão à minha frente. Sei que não é educado xeretar, e que minha mãe chamaria minha atenção se me pegasse fazendo isso. Mas não há o mínimo de decência nessas duas. Como podem estar falando mal do meu irmão desse jeito, justamente em seu enterro? Estão na minha frente, e sequer notam.

Solto um pigarro e noto ambas se assustarem, seus olhos dobram de tamanho assim que viram em minha direção.

— Althea, querida. — uma delas, Cecile, se não me engano, sorri descaradamente.

— Estávamos conversando sobre seu irmão. Pobrezinho, um garoto tão bom, se foi tão cedo. — escuto o lamento da outra, que sequer faço questão de recordar o nome.

Só quero gritar e expulsá-las daqui o mais rápido possível. Infelizmente, não posso. Por isso sorrio o mais falsamente que consigo.

— Sim, com certeza. Espero que esteja tudo bem. Os comes e bebes estão na sala ao lado, caso tenham chegado a pouco tempo.

— Iremos lá agora. Não queremos segurá-la por muito tempo, deve ter tantas pessoas para cumprimentar.

— Claro, a vontade. — balanço a cabeça, vendo-as se afastarem e, sem vergonha alguma, rirem.

Céus, eu preciso sair daqui.

Avisto minhas amigas em um canto do cômodo. Elas entenderam quando disse que as queria ali, mas que enquanto não acabasse, preferia ficar sozinha.

— Althea.

— Mãe. — fecho os olhos, respirando fundo.

Minha única vontade é que isso acabe.

Por quanto tempo tenho que suportar?

— Coloque um sorriso, nem que ameno, nesse rosto. Está horrível. — fala, entredentes.

— Como posso sorrir, mãe? É o enterro do meu irmão! — falo, indignada com seu pedido.

— Sei o que é, e acredite, estou despedaçada por dentro. Mas essas pessoas não precisam saber, muito menos enxergar nossa fraqueza, sabe disso.

— Não podem saber que se importava com seu filho? Que ele acabou de morrer e está sofrendo? É considerado uma fraqueza estar triste por alguém partir?

Termino de falar e só então noto que comecei a chorar. Limpo meu rosto rapidamente e sequer me atrevo a olhar para minha mãe, deve estar furiosa.

— Chamarei Dominik para lhe fazer companhia, não pode falar com ninguém nesse estado.

Tento dizer que não é necessário, tudo o que menos preciso nesse momento é a companhia de alguém, mas quando vejo ela já está andando para longe de mim. Respiro fundo e limpo minhas mãos suadas em meu vestido.

Noto Dominik andando em minha direção e sorrio, abrindo os braços quando ele finalmente me alcança e me envolve em um abraço apertado.

— Ei, amor, tudo bem?

— O que você acha? — murmuro, desgostosa. Mas me arrependo no mesmo segundo pelo modo que falei. — Me desculpa.

— Não, tudo bem. Pergunta idiota.

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⏰ Última atualização: Aug 18, 2023 ⏰

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