Capítulo 1

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-Bem e é assim que tudo acaba.

Ele olha em frente prestando uma última homenagem aquela pessoa que se encontrava deitada a sua frente, os olhos dele percorriam a sala de um canto para o outro, reconhecendo cada cara que ali estava, ele as reconhecia, pois, alguns por serem seus parentes, outros por serem parentes da sua falecida mulher, outros por serem amigos ou conhecidos do casal.

Mas ele conhecia cada um deles, tem memorias compartilhadas com cada um deles, alguns melhores, outras piores.

Apesar de todo o passado, algo os reunia ali, aquele espaço vazio sem muita decoração, mas cheio em termos de barulho e de pessoas.

Ele preferia não estar ali, preferia estar sozinho fora daquele ambiente, mas ele não podia sair dali.

Mantinha-se sentado em um dos dois bancos que percorria as paredes daquele lugar, quase de uma ponta a outra.

As flores espalhadas por todo o cômodo da uma certa tranquilidade sobre vazio que a sala emana, a angústia por estar em um sítio como aquele.

Um dos únicos pensamentos que lhe vem à cabeça é porque de nunca ter tido filhos, de poder olhar para a cara deles e ver o olhar doce que a sua falecida mulher tinha.

Lhe fazia falta um abraço caloroso que só alguém realmente próximo lhe conseguiria transmitir.

O problema que neste momento não tinha mais nenhuma pessoa realmente próxima, a única pessoa que tinha era a sua doce Stella.

Ele não conseguia desviar os olhos dela por muito tempo, ela ali estava deitada a frente dela, no centro daquela sala vazia, que a única mobília seriam dois bancos. Ali ficava, pálida, incapaz de se mover, sem alma, sem vida.

As lagrimas tendem a cair-lhe da cara apesar do esforço para não as permitir cair, mas alguma por vezes é mais forte do que outras e mesmo com todas as forças dele, ela conseguia escapar e percorrendo a face em direção às suas calças.

As lagrimas lhe caiam percorrendo as curvas da cara como bailarinas seguindo os passos uma das outras, escorriam perante o lábio se misturando com a saliva que aqueles lábios singelos deixavam escapar, e como uma dança de despedia elas caiam em direção as suas calças formais, mais negras do que os seus olhos estariam neste, momento, mais negras do que a noite mais escura já registada.

- Jack, os meus pêsames. – disse uma voz feminina que à primeira vista ele não reconheceu.

Ele então desviou o olhar da sua preciosa Stella, em direção dessa personagem, era uma mulher magra, deveria ter a sua idade, com uns enormes cabelos loiros, e ao olhar para a sua face reparou que era uma das irmãs da Stella, a Riot, elas pelo que Jack entendia, nunca se deram muito bem desde sempre.

-Quem diria que a minha irmã iria partir com trinta e cinco anos.

Jack continuava sem falar nada, só escutava atentamente cada palavra que para ele era dirigida.

A Riot era um ano mais velha do que a Stella o que lhe daria uns trinta e seis anos.

-Ainda me lembro da última vez que nós tivemos contacto.

Realmente elas nunca foram muito próximas, já a anos que não havia a falar da Riot ou que pelo menos a Stella tivesse sequer falado com ela.

-Sabes faz precisamente cinco anos que eu falei pela última vez com a minha irmã. E me arrependo amargamente de não ter me encontrado mais com ela.

Como tu bem sabes, nós tínhamos as nossas rijas, sempre fomos como azeite e agua, nunca conseguimos por um momento nos dar bem por mais que tentássemos e por mais que gostássemos uma da outra, ate havia quem dizia que éramos tão diferentes que nem parecíamos sequer ser parentes quanto mais irmãs, e por momentos desejei que isso fosse verdade por alguns anos desejei que a Stella nunca tivesse existido ou fosse só uma pessoa chata da escola que eu tivesse de lidar mas nunca imaginei que iriamos ficar tão separadas como ficamos.

A última vez que falamos tivemos uma enorme discussão, por conta de uma roupa que eu implorei imenso a Stella para me emprestar para um encontro que eu iria ter, ela tinha imenso bom gosto tenho de admitir apesar de me custar, e aquele vestido era lindo, me lembro de ver fotos dela com ele vestido, um vestido verde mais ou menos pelos joelhos no meio de um campo de flores abraçada a ti.

Eu invejava a felicidade dela, sentia raiva por me sentir inferior a ela e não suportava a ideia de que ela pudesse estar melhor que eu.

Então eu fui lá a vossa casa no dia de folga dela enquanto trabalhavas e implorei pelo vestido, implorei tanto que ela acabou por mó entregar, fazendo-me prometer que acontecesse o que acontecesse eu não o iria estrar.

O problema é que durante o jantar que eu tive com o meu encontro, o sujei cheio de vinho, mais tarde quando eu e ele fomos para minha casa o fecho ficou peso e com a força que fizemos para o desprender ele rebentou de tal maneira que rasgou o vestido, em minha defesa estava podre de bêbada e nem sabia direito o que estava a fazer, mas acabei por apagar nem me lembro grande coisa dessa noite, o certo é que quando acordei o vestido estava completamente detonado.

Andei uns dias evitando falar com a Stella por conta disso, não atendia chamadas, não respondia a mensagens, nada, simplesmente tentei sumir.

Ate ao dia que ela precisava tanto do vestido que não parou de me ligar. E como via que não atendia, acabou por aparecer de surpresa lá em casa.

Ao início fingi que não estava ninguém em casa, ela tocava na campainha e eu simplesmente não fazia nenhum som, ate que tive de ir à cozinha, e ao tropeçar o meu gato deixei umas panelas do armário ao chão fazendo grande barulho. Ainda tentei fingir que tinha sido apenas o gato, mas ela sabia que o meu gato não fazia isso, ela continuou batendo a porta e gritando "eu sei que tu estas aí, eu preciso do meu vestido agora"

Eu reparei que alguns vizinhos acabaram por vir as portas e janelas de suas casas ver o que se passava e que gritaria era aquela.

Então eu não tive outra escolha se não ir abrir-lhe a porta e me preparar para a bronca que iria levar.

-Só preciso do meu vestido.

-Tenho de te contar uma coisa.

-Não me digas que usaste e nem o lavaste.

-Não é isso...

-Então? Fala...

Então eu lhe mostrei o vestido, devias de ter visto a cara de assustada, perplexa e arrependia que ela tinha.

-Mas que merda é esta?

-O teu vestido....

- O MEU VESTIDO????

-Sim, no outro dia a noite fiquei tão bêbada...

-FICAR BEBADA NÃO É DESCULPA.

-E o que queres que eu faça agora?

-Que estejas um pouco arrependia e que me vais pagar um novo?

-Nem penses, eu não te vou pedir desculpas tu emprestaste sabendo como eu sou então a culpa é tua por teres confiado em mim.

Ela me deu um estalo tão grande que fiquei uma semana com a marca da mão dela no meu rosto. Ela saiu pela porta fora e desde aí nunca mais falei com ela, sempre a pensar que um dia mais tarde era iria me procurar ou que iriamos esquecer esse episodio, se passaram, entretanto, cinco anos, e tudo o que aconteceu foi a morte dela, e me sentir culpada por ter desperdiçado os últimos anos dela sem um único contacto, só pelo simples facto de não lhe ter pedido desculpas.

Nesse momento ela se levanta sem dizer mais nada, deixando o Jack de novo ali sozinho com os seus pensamentos.

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