Família

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A morte seria menos dolorosa,o pensamento surgiu na mente de Aomine assim que seus olhos azuis se abriram – eles não se fechariam pelas próximas quarenta e oito horas – tudo parecia mais cinza que o normal,mais sem vida que nunca antes,por que aquilo acontecia?

A quase dois anos ele havia sido diagnosticado com uma depressão severa,haviam dias em que ele estava bem ,ele levantaria da cama,forçaria um sorriso e torceria para ele se tornar real por apenas alguns segundos daquele dia,mas haviam dias terrível,dias em que ele não conseguia dormir mais de duas horas na noite,que ele ficaria remoendo cada erro que já havia cometido,que ele se perguntaria se merecía estar vivo.

A dois dias atrás o cenário ruim havia se iniciado,o cenário de pesadelos. Ele ignorou as chamadas da Touo,mandou uma mensagem simples para Satsuki explicando em poucas palavras – tentando ao máximo assegurar que estava bem –,e não havia se mexido desde então.

Sua mãe apareceria a cada uma hora ou mais,acariciaria seus cabelos,perguntaria se estava tudo bem e lhe ofereceria comidas e bebidas junto de algum remédio caso estivesse na hora,ele a tranquilizaria dizendo que logo iria passar – dois anos de mentiras – ela sorriria e beijaria sua testa daquela forma que só ela poderia,só ela queria.

Por que ele tinha que ser assim? Por que ele nao podia apenas aproveitar a vida como uma pessoa normal? Por que ele não podia acordar e ir jogar basquete como havia feito por anos com tanta alegria? Por que!?

Lagrimas grandes e pesadas começaram a escorrer por suas bochechas sem sua permissão,lágrimas salgadas que escorriam até seu pescoço,gritos eram depositados em seu travesseiro macios enquanto ele desejava poder apertar o suficiente para morrer sufocado,ninguém sentiria falta de um erro.

Ele não sabia quanto tempo ficou ali,chorando desesperado por algo que não conhecia,ele não sabia se dormiu ou se desmaiou,mas agora haviam outras pessoas no quarto escuro.

Na cabeceira da cama estava o gigante roxo,seu peito servindo de travesseiro para Daiki enquanto comia suas guloseimas silenciosamente,sua sombra estava em seu peito espelhando sua própria posição – a única diferença era o rosto no peito.– e prestando atenção na luz como sempre fazia ,Akashi e Kise estavam dos lados de seu corpo o abraçando suavemente,sorrindo enquanto Midorima tinha um discussão apaixonada sobre signos de onde se encontrava,corpo levemente inclinado sobre as pernas de Aomine e rosto na barriga do capitão que acariciava sua cabeça enquanto o mandava diminuir o tom.

— você vai acordar Aominechii,Midorimachii~.— Kise choramingou parecendo extremamente feliz por estar reprendendo o esverdeado e não o contrário.

— não acho que isso será problema agora.— a voz do capitão era suave mas autoritaria como sempre e isso fez com que todos olhassem Aomine que de imediato sentiu as bochechas esquentarem com a atenção.

Todos os Kiseki sorriram para a expressão envergonhada de Aomine, olhos levemente arregalados e bochechas escuras ainda manchadas de lágrimas   

— por que vocês estão aqui?— sua voz era sonolenta e rouca,cansada dos gritos e choro,ele olhava para qualquer lugar menos para seus antigos companheiros.

— Momoi-san ligou para mim,eu liguei para todos. — Kuroko respondeu simples ainda encarando o amigo com olhos sem fundo que pareciam poder ver até a alma.

— sim mas....por que? Por que vocês teriam o trabalho de vim até aqui?— o "vim por mim?" Nao foi dito mas todos o ouviram afinal esse era o problema certo? Por que eles viriam de tão longe apenas para se deitarem e abraçar um idiota arrogante e egocêntrico como ele? Não fazia sentido, não para ele.

— Mine-chin está sendo burro como sempre, aqui,vai te ajudar a pensar.— antes do azulado poder entender – sua mente ainda confusa pelo sono – um palito de chocolate havia sido colocado em sua boca e ele foi forçado a mastigar.

— Atsushi não chame Daiki de burro,mas devo admitir que isso e demais até pra você.— o ruivo reprendeu antes de olhar para o Às moreno que parecia surpreso pela pequena defesa,na maior parte do tempo todos o chamava de burro sem nenhum remorso.— por que acha que não viríamos até você quando precisa de apoio? Você é nosso amigo,Kiseki no Sedai é uma família dentro e fora das quadras.— sua voz não deixava espaço para discussões,ele parecia tão certo disso que fez o peito de aomine apertar.

Lagrimas voltaram a escorrer sem sua permissão,pequenos soluços escaparam e ele tentou desesperadamente parar com aquilo,porra! O quao fraco ele era pra chorar com algumas palavras bonitas?!?

— deixe sair, Aominechii.— o modelo levou uma mão fina até o rosto do amigo subindo para os cabelos curtos os acariciando suavemente enquanto o outro tentava ao máximo se esconder,escapar, de todos aqueles sentimentos esmagadores que estava sentindo,ele não sabia como sentir aquilo.

— Aomine-kun já deveria saber que não vamos te deixar,não importa o que.— o fantasma se pronunciou é em um gesto suave o esquecido palitinho de chocolate estava de volta nos lábios machucados que eram mordidos para tentar abafar os soluços.— não morda.— veio um tom sério que raramente era usado,Aomine não brigou apenas descontou no chocolate.

— nada entra nessa cabeça oca.— os óculos brilharam como se ele tivesse dito a coisa mais inteligente da vida,aberto portas para um conhecimento desconhecido até então.

— vou esmagar essa ideia até que você entenda.— o gigante preguiçoso brincou embora seu tom estivesse sério como sempre,ele era sério sobre aquilo,Aomine tinha que entender que eles estavam lá.

Todos fizeram sons de concordância enquanto o azulado pela primeira vez em dias conseguia sorrir,um sorriso pequeno,um sorriso que só foi pego graças aos olhos atentos,um sorriso esperançoso.

Talvez fosse a primeira vez em anos que ele finalmente tinha algo para se apoiar,pela primeira vez o dia cinza não parecia mais tão cinza,as coisas não estavam perfeitas,longe disso,mas pela primeira vez elas pareciam estar caminhando para algum lugar,bom ou ruim, quem sabe.

— obrigado pessoal.— com a última frase ele começou a fechar os olhos novamente,ele podia sentir as presenças em sua volta,podia ouvir as pequenas risadas de alguma história maluca de Kise,podia sentir o corpo de Kuroko relaxar contra o seu e as migalhas caírem em sua cabeça,estava tudo ótimo e pelo menos naquele momento tudo estava finalmente em paz

Um sorriso pequeno floresceu quando finalmente ele alcançou o reino de Morpheus da forma mais tranquila em dias. Ele ficaria bem afinal, os Kiseki no Sedai eram uma família,era a sua família.

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