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6 da manhã.

Riven acabou de acordar. Com relutância, pôs-se de pé. À medida que a preguiça se esvaía, os olhos se acostumavam com a pequena ilha da verdade que é a vida, cujos mistérios eram como o mar que tende a circundá-la.

Ali, aos bocejos, protelava a volta de sua única obrigação enquanto jovem. Mas logo, tal qual um zumbi, viu-se abrindo o velho armário na parte em que suas roupas encontravam-se: largadas no chão. Escolheu o vestir do dia de modo desinteressante e dirigiu-se ao banheiro.

O celular vibrava loucamente em sua cama, e isso irritou seus irmãos - que ainda dormiam. Saiu pelado para desligar o segundo alarme e suspirou de repente, entalhando uma expressão indiferente no rosto.

Tomou um café sem acompanhamento e assistiu ao ar do dia lá fora: um azul tenro e nublado.

Não sabia o que esperar daquele ano - o seu primeiro no ensino médio. A antiga escola não foi um dos seus melhores momentos na vida, com suas estilhas de prazer. Talvez porque ele tinha um jeito estranho de ser: um tipo de adolescente macambúzio e excêntrico, sem sal; tinha muito a dizer e pouco a fazer; quieto e barulhento. Na verdade, faltava-lhe o que o preenchesse, e sempre haveria no mundo quem o faria.

***

Assim que chegou ao umbral da escola, divisor de mundos, o outro lado guardando o terreno insular onde alguém tinha a oportunidade de aprender e não aprendia (e ainda assim era um Napoleão), o estafante peso de um ano indo e vindo, jogando a mochila na cama e colocando-a novamente nas costas se apossou de seu ser.

No corredor, ele sentiu que os olhares o despiam. Estava, de certa forma, nu, bem como mais cedo. Sabia que tal situação era caso de comoção, porém não sentia o terror do momento; só seguia em frente, para a sala prescrita.

Embora a má vontade no andar e em outros aspectos, foi um dos primeiros a entrar na sala e pôde escolher ponderadamente o seu assento. A despeito dessa bela vantagem, não pensou tanto sobre o páreo dessas propriedades: não tinha gosto pelos meios nem disposição para os fundos; mas a parede muito o aprazia.

Mal sentara, outra figura peculiar tomou conta de sua atenção. A princípio, soou como sombra independente. No entanto, era apenas um garoto trajado de preto, que se acomodou na cadeira à frente de Riven.

- Calor! - monologou o de preto, suando descontroladamente.

- Deve ser as suas roupas - interveio Riven.

O outro olhou para trás e disse:

- Quê?

- Suas roupas. Não é o que dizem sobre as pretas: que são as que mais dão calor?

- É o que dizem?

- É o que dizem.

- Eles dizem tantas coisas... - esnobou.

- E uma dessas é verdade. Uma só palavra.

- Mas nada melhor do que viver na imensa e silenciosa mentira. Conserva os dentes.

- E por que alguém desejaria conservar os dentes se vai ficar quieto?

Àquela altura, a sala já lotara.

- Parece que me sentei ao lado do piadista da turma - disse a estranha figura.

- Você chuta mal. Eu sou o alvo do piadista. Espere para ver.

Só então aquele adolescente que cheirava a abismo, que parecia ter pintado as paredes do quarto de preto fitou Riven: tinha um cabelo curto e negro, igual ao dele, e mantinha a parte de cima em uma certa altura, os fios enrolados, havendo falhas aqui e ali no auge; sob o busto, as roupas não indicavam nenhum estilo. Não era um comum nem algo a mais; era um incomum com requintes de estranheza. Portanto, entendeu o que esse incógnito dissoluto dissera. Não riu, tampouco o desdenhou.

A Fileira AmaldiçoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora