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Simone
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A primeira semana sem Soraya, foi terrível, foi a pior coisa da minha vida, eu mal me alimentei, não tive coragem nem de dormir no nosso quarto, dormia... ou pelo menos tentava dormir, no sofá da sala, um dos lugares que eu e Soraya nos divertíamos bastante assistindo filmes.

Na segunda semana sem Soraya, foi ainda mais horrível, eu já quase não me levantava nem pra ir tomar banho, passava horas e horas chorando, já estava conseguindo dormia a bases de remédios, não tinha forças pra mais nada, eu estava quase morrendo.

Com um mês da sua partida, após aquele trágico acidente, que tirou a vida da mulher que eu amava e da filha que nós estávamos esperando, eu tentei partir, a minha dor era tão grande, que eu já não aguentava mais viver, doía tudo em mim, e eu estava em uma completa escuridão.

Tentei, de alguma forma, ir encontrar com Soraya por onde quer que ela estivesse agora, quem sabe isso poderia amenizar o meu sofrimento? Mas só não consegui, porque Janja me encontrou no banheiro de casa, já desacordada, com vidros de remédios e pílulas espalhadas pelo chão.

Minha tentativa foi falha, passei vários dias internada, ela era a única que estava ali por mim, que não soltou a minha mão, que me deu um pouco mais de esperança para continuar vivendo, mas eu não queria mais, eu perdi a mulher que eu amava, e perdi a filha que já tanto amava também.

Com três meses após a partida dos meus amores, eu ainda não conseguia entrar no quartinho que era da nossa filha, ele vivia fechado, eu não conseguia nem olhar para a porta, eu tava tentando lidar com a dor do luto em dobro, pela perda da minha esposa, e da minha filha.

Janja me convidou para ficar em sua casa, mas eu não consegui ir, eu queria ficar apenas ali na casa que eu dividia com o meu grande amor, mas que me deixou, me causando uma grande dor, e sei que nunca vai passar, eu sei disso, vou conviver essa dor enquanto tiver vida.

Após cinco meses da partida da minha loirinha, eu tive forças para entrar no quarto que era nosso, tudo estava do jeito que deixamos naquele dia em que ela partiu, o álbum de fotos que olhávamos naquele dia, continuava em cima da cama, o seu pijama continuava ali também.

Um semana depois que consegui voltar a dormir ali novamente, passei a abraçar o seu travesseiro todas as noites, seu perfume ainda estava vivo, todo dia eu cheirava as roupas que tinha no seu lado do guarda roupa, e todos os dias eu chorava, de dor e saudade, de saudade e dor.

Com sete meses que Soraya se foi, entrei no quartinho da Helena, passei a mão sobre os imóveis que havíamos comprado, girei o brinquedinho que ficava acima do berço, chorei, abri a gaveta com suas roupinhas de cores rosas, chorei, abri o pequeno guarda roupa e vi os pacotes de fraldas, chorei.

Eu acabei me afastando da escola, não tinha mais ânimo nem pra viver, quem dirá para dar aula, não tinha mais cabeça para isso, não mesmo, decidi ficar somente em casa, sofrendo e chorando, chorando e sofrendo em cada cômodo da casa que passava, pois em todos tinha a Soraya ali, tudo me lembrava ela.

Os nossos vizinhos, ficaram super arrasados, passaram a me visitar todos os fins de tarde, por um único momento apenas, enquanto estava com eles conversando, imaginava que Soraya fazia alguma coisa e logo voltaria para a sala, para se juntar à nossa conversa, mas não.

Ela não voltaria para a sala pra conversar, não chegaria mais de surpresa no banheiro, como fazia antes, não ia mais me sujar de trigo quando fôssemos fazer uma receita, não iria mais me dar um banheiro de mangueira quando íamos lavar o carro, nada, nada disso mais ia acontecer.

Dez meses passaram de sua partida, e Janja me sugeriu a fazer terapia, ela me ajudava muito a lidar com o meu luto, mas eu poderia aprender a lidar com isso talvez de uma forma melhor, com a ajuda de um profissional, segui seu conselho, e comecei a fazer, faltei muitas sessões de início.

Quando fui me acostumando, consegui largar os remédios que eu tomava quando entrava em crise, mas deixei um de reserva ainda, para caso eu precisasse, como precisei, após chegar em casa e ouvir barulhos vindo da cozinha, entrei em crise porque era tudo coisa da minha cabeça.

Deixei a terapia de lado, e resolvi ir embora da cidade, vendi nossa casinha, doeei as coisinhas que eram da nossa filha, para um casal de amigos que conheci, eles não tinham condições de comprar nem ainda um pacote de fralda para a filha que esperavam.

As coisas que eram de Soraya, eu levei comigo em uma mala, as coisas dela eu jamais daria, era a única coisa que tinha para me ajudar em noites terríveis que eu tinha, dormia abraçadinha no seu vestido, o qual ela usava no dia do acidente, ele fica sobre o meu travesseiro quando levanto.

Um ano se passou, e a dor ainda era a mesma no meu peito, e em todo o meu ser, eu acabei me mudando para a Flórida, um lugar distante eu sei, mas escolhi esse lugar porque... porque era o lugar que nós planejamos morar quando nossa filha nascesse, e é aqui que eu estou agora.

_Será que é você, amor?_ eu falei.

Estava sentada no degrau da escada, olhando para o nada, quando uma borboletinha branca pousou em minha mão, que estava apoiada sobre meu joelho.

_Você gostava muito de borboletas, não era amor?_ continuei olhando.

Ela voou novamente, e pousou sobre o nosso retrato que estava na mesinha de centro, na sala, levantei e fui até lá, peguei o quadro e me sentei no sofá.

"essa aqui foi a primeira foto que tiramos juntas, cê lembra amor?" me lembrei daquele dia que olhávamos nossas fotos, me lembrei que colei na geladeira, fiz um coração, ela fez uma florzinha.

Levantei com o quadro em mãos, e caminhei até o jardim do lado de fora de casa, fiz ele pela Soraya, ela gostava tanto, uma nova flor já nascia ali.

_Eu te amo pra sempre meu amor_ beijei seu rosto na foto.

Entrei de volta em casa, tranquei a porta, subi com o quadro na minha mão, entrei no meu quarto, fechei as janelas, puxei as cortinas, ficou escuro, me deitei na cama, e fiquei encolhidinha, abraçando nossa foto.

_Ai Soraya, sinto tanto a sua falta_ comecei a chorar.

Deixei as lágrimas rolaram livres pelo meu rosto que já estava inchado pelas lágrimas de mais cedo durante o banho, quando meus olhos pesaram, não tive mais forças de mantê-los abertos, adormeci mais uma vez, abraçada à nossa foto.
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Só mais um minuto (simoraya)Onde histórias criam vida. Descubra agora