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Seis horas da manhã significava outra bela manhã em Alcatraz. O dia anterior havia desgastado seus músculos e quase não pregava os próprios olhos com seu corpo em alerta – dormir com um provável assassino, que respirava tranquilamente na cama ao lado era uma ideia aterrorizante. Assim que seus olhos castanhos se abriram, sentiu seu corpo relaxar quando notou que não existia nenhuma outra pessoa naquele cubículo.
O mexicano então se levantou e encarou a cela aberta, seu segundo dia de muitos outros que ainda viriam. Seu estômago roncou, mal tinha comido no dia anterior. 

Roier arrumou levemente seu cabelo e colocou sua bandana azul característica, lavou seu rosto e enfim decidiu ir para fora, onde esperava poder comer sozinho longe de qualquer outro maluco. 
Apressadamente, saiu em direção ao refeitório, os outros detentos também se dirigiram ao local para o café da manhã, concluiu que Cell deveria ter saído um pouco antes dele acordar. Pensou em Pac e Mike, e se deveria procurá-los para decidir em que momento iriam falar com Fit, mas imediatamente mudou de ideia ao vê-los comendo junto de quem queria a todo custo evitar.

Se contentou em pegar sua refeição e sentar numa mesa vazia perto da parede. Enquanto comia e observava o ambiente, refletiu sobre os motivos que o trouxeram a esse lugar. Ao seu redor gangues se reuniam em outras mesas, pequenos conflitos se iniciaram e logo retrocederam, alguns policiais rondavam fingindo que não viam nada. 
Pegou uma maçã – que vinha junto com o resto do café – e começou a comê-la lentamente. Tinha que se concentrar em sobreviver a esse lugar sozinho, não podia contar com nenhum preso e muito menos algum daqueles oficiais corruptos. Tudo naquele ambiente era estranho, e não pelo excesso de sangue e testosterona, algo além acontecia bem diante dos seus olhos, mas em tão pouco tempo era impossível notar.

Roier precisava entender as verdadeiras regras de onde estava, não as que foram repetidas e repetidas pelos homens de uniformes, todo epicentro do crime tinha seu próprio senso de moralidade. E se tinha certeza de algo, os policiais até podiam governar dentro daqueles escritórios e colocar medo com os imponentes atiradores de elite, mas fora das paredes, a criminalidade era quem governava. E como em toda sociedade ditadora ou democrática, sempre tinha um líder à sua frente.

Quem poderia estar à frente da rebeldia e anarquia? Que conseguiria colocar uma verdadeira ordem naqueles inúteis? Alguém ruim? Cruel? Louco? Ninguém? 
Criava teorias desde terrorismo ao crime organizado, quadrilhas ou máfias. 

Ou ele assistiu muita netflix ou realmente tinha embasamento no que falava. Talvez estivesse errado e não tivesse relação nenhuma entre as duas coisas, de qualquer jeito entender se existia organização no caos era perda de tempo, o mexicano tinha seus próprios objetivos e precisava alinhar seus proprios pensamentos. Suspirava e brincava com a maçã em suas mãos, o sentimento de perda ainda o atormentava, perda de sua liberdade e de seu maior conforto. Ele sabia que não deveria estar ali. 
Yo sé lo que debo hacer

Então cometeu seu primeiro erro, sua primeira falha de outras que o futuro reservava, que sempre seriam causadas pela mesma pessoa, ele abaixou a guarda. Tão absorto em sua própria cabeça e mal se lembrou de permanecer atento ao seu redor.
Sem perceber um preso de cabelos loiros e olhos azuis mortíferos se aproximava, transbordando felicidade e psicose para a alegria do mexicano.

— Bom dia Guapito – Roier pulou de susto e Cell riu exageradamente  – calma eu não vou te morder.

Mike simplesmente não dormiu, passou a madrugada em claro criando centenas de planos em sua cabeça, não somente por si mas principalmente por Pac. A culpa o matava, tinha total ciência que ocorreu uma traição de ambas as partes mas se odiava por ter chegado naquele ponto, odiava ter traído seu companheiro de vida e sentia que precisava consertar seu erro. Cresceram e viveram juntos a mais tempo do que podia se lembrar, o medo e a pressão causaram toda essa bagunça, mas tinha medo que esse erro entre eles fosse irreparável.
Tinha medo de ficar sozinho, de perder seu melhor amigo.

Broken HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora