entre 13h28 até 13h32

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todo dia às 13h24 eu começo a sangrar. é algo bem simples e pequeno, sabe? uma mordida aqui e ali só para sentir que eu realmente estou vivo nesse mundo enquanto escrevo as coisas mais terríveis que a humanidade presenciou em meu pequeno blog. essa é minha rotina da tarde: machucar, sangrar e chorar. todos os dias.

você nunca está aqui quando eu faço isso, afinal, é hora da comida, você não presencia minha morbidez em pleno almoço e eu nunca pretendi te mostrar (a menos que machucasse a ponto de você ver, claro).

mas hoje, algo de diferente aconteceu. 13h26, você bate na porta do banheiro.

ei amor, posso entrar?

meu deus, o que eu vou fazer? eu estou nua, apenas com o meu delicado conjunto de sutiã e calcinha de flores que eu adoro usar para ver como eu fico bonita em vermelho.

foco.

o que eu vou fazer?

amor? está tudo bem?

não mais. você apareceu. que merda eu faço? tem algumas gotas de sangue e fios de cabelo no chão, eu estava fazendo arte e digitando freneticamente e ai você aparece no meu momento? meu momento sagrado?

meu deus, por que eu aceitei morar com você.

amor, eu estou ficando preocupada, está tudo bem?

pelo amor de deus, cala a boca.

um suspiro alto sai.

está sim, querida. eu estou... é... me arrumando! isso!

vai sair? eu pensei que a gente iria passar tempo juntos, até fiz um almoço especial para você!

ah, não, não, eu estou é... me depilando! isso! vou me arrumar para ser bela para você e você se deliciar ao me devorar!

ótima desculpa, eu sou muito inteligente.

(isso não explica a falta de creme, gilete e mordidas no meio da sua perna e joelho, imbecil)

ah, nossa. calma, não esperava isso. tudo bem! posso entrar?

meu deus, de novo isso? com todo respeito mas vai te foder e some por favor!

espera um pouco, vida!

pensa rápido, o que eu faço? ai deus, e se eu me cobrir, talvez ela nem veja. vou vestir um roupão e vai ter que ser suficiente.

saio do banheiro.

oi querida! desculpa te atrapalhar, eu só queria te dar um beijinho, mal vi você hoje.

isso que dá ter arrumado um emprego, não posso ficar com a minha princesa, infelizmente. você disse que fez comida?

sim! fiz o seu favorito, espero que goste! mas pode relaxar, pelo visto você está se preparando para ser minha sobremesa.

risos e um rosto vermelho são vistos, mais risos.

claro, claro, eu já desço.

dou um pequeno selar em seus lindos lábios e fecho a porta, me sentando encostado na porta.

você não descobriu nada, nem sequer desconfiou.

é loucura minha eu querer que você descubra?

talvez seja meu exibicionismo falando mais alto, adoro que me observem, não é? eu quero que você me veja sangrar. sangrar por você.

veja que linda a bagunça que eu faço pensando em você.

pensando em nós.

eu queria que você descobrisse toda a dor que eu sinto. toda a dor que eu escrevo. eu queria que você percebesse o porque de eu nunca mais usar saias e exibir minhas lindas pernas para você.

como você não me pega nessa mentira? como você nunca nota isso?

eu odeio me depilar. e você sabe.

então, por que? por que você acredita?

ou talvez finge acreditar. eu não sei.

talvez se eu fizesse uma bagunça maior você me veria finalmente.

veria a verdade nua e crua sobre o que eu faço as 13h24. veria de novo minhas belas pernas cheias de machucados e marcas que meus próprios dentes fizeram para que eu sentisse algo novamente já que você nunca mais fez isso.

finalmente descobriria a maníaca pela dor que eu sou.; a masoquista que só pensa em ser machucada o tempo todo (fisicamente e emocionalmente); a doente mulher que habita dentro da minha alma buscando por novas formas de me machucar; a criança que apronta de propósito só para que os pais voltem a bater nela.

você finalmente vai ver esse lado meu.

mas talvez seja tarde, pois quando você descobrir isso

eu já terei sangrado até morrer para sempre. 

⋆ 

"talvez a única forma de te fazer descobrir o que eu faço de verdade todo dia as 13h24 é se eu acabar de uma vez com tudo isso. acho que talvez você me odeie ou fique irritada com isso, eu sinto muito. eu gostaria de provar uma última vez a comida que você me fez ou a forma que suas mãos tocam meu corpo, mas eu não aguento mais. desculpa kkura, mas agora eu vou te mostrar como eu sei fazer sangrar. um dia todas as estrelas irão morrer, e o sol é uma delas. saiba que eu sinto muito por te machucar e te enfiar nisso

de seu solzinho não tão mais radiante,
chaewon"

hora do óbito: 13h33Where stories live. Discover now