capitulo 4 novo

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Capítulo 4.

Era um sonho, tudo era um sonho... mas porque meu coração batia tão desesperado?

Abro meus olhos doloridos, meu rosto sentia a ardência das pequenas pedras. Apoio as palmas das minhas mãos no chão e me levanto um pouco tonta, olhei para todos os lados a procura de alguém, mas tudo o que tinha era um silencio, como se nada tivesse acontecido anteriormente.

 Era manhã. A diferença da manhã em nosso reino comparado aos outros, é que os pássaros não cantam no crepúsculo da manhã. Sabemos que é o começo de um dia pelos raios fracos e o ar ameno.

Cambaleio ao andar, os passos ilógicos queriam me derrubar a todo custo. Minhas mãos encontraram apoio nos troncos das árvores, enquanto ia rumo a minha casa. A visão estava um pouco embaçada o que dificultava meu caminhar.

Chego a espreita da pesada porta de madeira, e percebi que a mesma não estava trancada. Dentro de casa não havia o comum cheiro dos bolos assados de Faina, nem mesmo aquele calor aconchegante eu sentia no ambiente.

– Mamãe? – Chamei enquanto tentava me aquecer com minhas próprias mãos.

Não houve respostas ao meu chamado, o que me deixou intrigada. Procurei pelos quartos da casa alguém da família, mas não havia ninguém além de mim.

Novamente a cozinha, liguei as chamas do fogão para não me sentir tão sozinha, coloquei uma panela com água para que eu pudesse fazer um chá. Não tinha prática com fogão e muito menos com panelas, mas não deve ser tão difícil fazer um chá.

Na parede de madeira ficavam penduradas algumas ervas secas, escolhi a que mais era comum pra mim. Asas de borboletas, eram um tipo de folhas felpudas e normalmente com cores chamativas. Naturalmente adocicadas, essa era simplesmente a melhor escolha para se fazer um bom chá.

Enquanto a água esquentava, me encostei ao balcão, cruzei meus dedos para dar sorte e fazer com que meus pais voltassem logo para casa. Sentia muito medo e sentia no peito uma sensação de ser deixada para traz,  estava deitada no caminho como eles podem ter saído e nem notado minha presença? Algo anda muito estranho aqui, e aquele sonho me deixa ainda mais intrigada.

Sinto um bafo quente em meu rosto, ao olhar para frente, vejo um pequeno pássaro branco à espreita da porta, na mesma direção vejo entre as árvores secas uma forte luz que ia diminuindo na frequência em que andava. A luz me chamava atenção, mais do que o pássaro, já que é incomum vê-los em nosso reino.

Vou apressadamente até o quarto dos meus pais a procura de uma potente arma de batalha, de longe eu via sua luz roxa, sendo um pouco ofuscada por um pano preto. A pego com minhas mãos trêmulas, sua magia era tanta que fazia meus ossos tremerem. Fúria da noite era seu nome, uma espada de lâmina negra forjada durante cem anos, existem três desta, e uma é do meu pai, ela está prometida a nunca errar seu alvo.

Sou movida por meus instintos, e talvez aquela luz me leve a algum lugar, seja bom ou ruim, sinto no meu peito a pior das sensações, a de querer algo desconhecido.

Com Fúria da Noite pendurada em minha cintura, volto a cozinha ficando próxima ao passarinho branco. Sei que se eu passar por essa porta de uma forma ou outra sofrerei consequências, já que estou levando a coisa mais preciosa de meu pai. Papai achava que eu não sabia onde ele a escondia, mas a verdade é que eu sempre brinquei com ela quando ele não estava. Faina sempre me alertou para que eu parasse de pegar a espada escondida, porque isso poderia me causar consequências ruins.

O pássaro saiu voando antes mesmo que eu pudesse sair pela porta. Ele sobrevoava sobre uma trilha dourada que a luz havia deixado, e sem pensar muito eu o seguia.

Já estava no centro da vila, e parei por um momento para ouvir algum som familiar, mas não haviam jovens rebeldes e muito menos crianças correndo.

Tudo o que havia era um triste e solitário silêncio. No poço de água onde Emma costumava ser vista, estava o seu pesado balde de madeira.
A cidade não tinha cheiro de magia, muito pelo contrário, as ruas cheiravam a pólvora e cinzas.
Enquanto estava parada no centro da vila, sentia como se tudo ao meu redor girasse em câmera lenta, e distante ouvia uma voz que dizia " venha".

A luz dourada havia deixado uma espessa trilha brilhante no chão, e o pássaro branco observava tudo de uma alta árvore.
Eu simplesmente havia esquecido do ocorrido na vila, pois o pássaro e a luz me prendiam, como se fosse uma espécie de magia, porém era diferente, pois não tinha cheiro e não me deixava desnorteada.

Aquela magia parecia pura e familiar, não me causava medo e me fazia caminhar ainda mais pelo coração da floresta negra, que agora não parecia mais a famosa floresta assombrada, estava mais para uma floresta amigável e aconchegante, com aqueles rastros brilhantes no chão.

O pássaro me fazia refletir em uma antiga profecia, da época em que as águas do nosso mundo eram a única existência. A profecia dizia que quando a desesperança e destruição estivesse reinando, surgiria no meio do caos um pássaro branco mensageiro, trazendo uma mensagem de esperança e renascimento ao mundo.
Porém, ninguém sabe ao certo se isso é verdade, e também não sabem quem disse essa profecia, os grandes magos de nosso reino diziam que o próprio espírito criador havia ressoado uma canção desde a eternidade, até que alguém o ouvisse e revelasse tal profecia.

Meus pés se acovardaram de prosseguir, assim que a densidade do ar começou a se tornar pesada. Eu não via mais o pássaro e nem o rastro dourado, como se num piscar de olhos eu tivesse perdido o objetivo pelo qual estava aqui.

" Venha", era o que eu continuava ouvindo, mas eu só conseguia dar passos curtos, meu medo era maior que tudo e me prendia no chão.

Tive mais medo ainda, quando olhei para baixo e vi que afundava em uma grande poça de areia movediça. Peguei fúria da noite e tentava rasgar o chão, mas tudo era em vão, quanto mais me mexia mais me via afundada . O pássaro que antes havia desaparecido voltava com um gracioso bater de asas, ele simplesmente repousou em um alto galho, e observava enquanto a areia já estava em meu pescoço.

Talvez eu já estivesse morta, e tudo o que conseguia pensar é que eu não deveria achar normais coisas anormais, ninguém sairia de casa para seguir uma luz e muito menos um pássaro , e também sei que ninguém no meu lugar ousaria sair de casa depois de acordar de um sono causado por magia.

Meu braço erguido tentava tocar a esperança de sair daqui, pois meu corpo já estava todo embaixo daquele fluido viscoso. Estava prestes a perder o sentido quando senti meu corpo sendo puxado para fora, alguém forte me segurava nos braços, a sensação que tinha era como se fosse os braços do meu pai ou do meu irmão. Seu coração batia calmo, enquanto o meu sentia que estava parando, já que mal conseguia respirar e muito menos abrir os olhos.

Ouvia barulho de correntes de águas, enquanto tal pessoa misteriosa sussurrava palavras desconhecidas. Senti que meu corpo foi repousado no líquido gélido. A água percorria por cada canto no meu corpo, era como se as ninfas estivessem me acariciando.

Levantei quando já não havia ar algum em meus pulmões, porém com mais desespero olhava ao meu redor para ver se encontrava tal ser que me carregou nos braços. Apenas sentia uma brisa que seguia rumo às árvores secas, eu poderia ter perdido os neurônios e ficado louca, mas tinha certeza de que via aquela luz que havia perdido de vista andar a distância. A luz florescia a grama seca e as árvores prestavam reverência.

Cocei meus olhos na intenção de enxergar melhor, porém ao abrir meus olhos novamente, não vi nada além do normal, terra seca, árvores secas e paisagem deplorável, a sensação que senti em meu peito era com se estivesse sido deixada para trás, como uma órfã, o que era aquele ser, para preencher tanto meu coração em um dia tão estranho, era essa a pergunta que percorria em mim. Tal ser de magia tão pura que deixava minha alma faminta por sua presença nem que fosse só para ver mais alguns segundos seus rastros dourados e estranhos no chão.

— Não acredito! Finalmente achei alguém — uma voz masculina e doce soou atrás de mim. Eu teria ficado feliz por saber que não estou completamente sozinha , porém a luz em meu pingente de sol me mostrava que aquele ser não era alguém para ficar a mercê, pois ele emanava muito poder...

Rei LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora