Mais uma vez, ele chega em casa bêbado. Olhos fundos, mãos sujas de barro e estrume, cansado de cuidar da fazenda o dia todo. Ele joga sua mochila no chão, o pano camuflado abafando o som de varias latas de comida batendo contra o cão de azulejos que um dia foram brancos e brilhantes. Ele caminha com seus pés pesados pelo corredor, marchando nervoso até a cozinha, enquanto joga seu gorro e seu colete preto no chão.
— Helena! Cadê a porra da minha comida?— Ele grita jogando seu corpo na cadeira que range em protesto.
Logo, uma jovem de entra correndo na cozinha limpando as mãos no avental. Ela aperta os dedos no ventre, nervosa, tentando se acalmar e acalmar sua filha, em seu ventre, que não para de se mover. Ela ajeita os cabelos ruivos em um coque mal feito e torto, e volta a mexer nas panelas.
— Calma, eu estou terminando, é que o Luther ficou gripado e...— O homem a interrompe jogando seu machado no chão com um baque forte, caindo tão perto de seu pé que quase corta sua pele. Sua cabeça mal pode se manter ereta depois de tanto álcool que tomou.
— Que diabos você estava fazendo que ainda não fez o meu jantar?— Ele grita.
— Eu... Eu me atrasei só um pouco.— Helena joga os últimos pedaços de carne, de coelho, na panela e limpa os dedos no avental pra pegar um copo e encher ele de água.
— Você não está em posição de dar desculpas inúteis. Teve a porra do dia todo pra fazer... essas suas coisas.— Ele faz um gesto vago apontando pro ventre dela, esclarecendo que estava falando de sua filha.— Eu estava cuidando daqueles animais por horas, tentando trazer comida pra você e para aquele lixo preguiçoso e é assim que você me trata?— ele olha em volta, nenhum prato na mesa, nenhum talher, nem mesmo as panelas estavam fervendo. A casa fede a poeira, e a pouca luz que entra, pela janela acima da pia, é fraca e está lentamente se apagando, conforme o sol se põe.
— Eu sei... Eu sei... me desculpe. O Luther está doente e o bebê também não para de chutar.— ela lhe entrega o copo com água.— por favor, estou quase terminando, Deny.
Ele joga o copo na parede atras dela irritado com a desculpa, não acreditou nela e fez questão de deixar isso bem claro.
— Não pode ser tão difícil. Você e simplesmente preguiçoso e inútil, não é? Eu dei a você o trabalho mais fácil em casa e ainda sou mais útil pra esta família do que você jamais será.— o homem a olha com seus olhos furiosos e castanho claro, se deleitando com a visão da garota magra e esguia tremendo de medo. Sua voz profunda preenchendo o cômodo. Ela coloca a mão no rosto, se segurando pra não chorar, pois sabe que se isso acontecer, a tortura vai ser maior.
— me desculpe, querido.— Sua voz soa rasgada e fina, como um cão ferido. Ela apoia na mesa quando sente uma pontada no ventre, lhe fazendo fraquejar as pernas. Ele nota seu desconforto e a preocupação em seu rosto e uma pitada de preocupação passa rapidamente pelo seu rosto. Não por pena nem por amor, mas sim por que um breve pensamento lhe passou pela mente: "se ela morrer eu fico sem comida."
— Há algo errado?— Denny olha pra ela por poucos segundos e depois volta a olhar pra tudo na casa, menos pra ela.
— É só cansaço.— A jovem responde.
A carranca brava dele só muda quando ele vê o ventre dela se mover com um chute. Um aviso disparou em sua cabeça e ele não gostou nada daquele movimento. Rapidamente, ele se levanta e cambaleia até a sala, voltando segundos depois com o telefone nas mãos.
— Sim, ela está tendo contrações.— O homem diz ao telefone e depois entrega pra ela batendo com o objeto em sua mão.
— Não é nada, não precisava incomodar o medico.— Ela se endireita, apesar da dor e arrasta os pés pro quarto tentando fugir da conversa, algo que seu marido revida segurando-a firme pelo braço, forçando-a a ficar, com um olhar severo no rosto. Denny não ia deixar ela ignorar isso.
Um tempo depois, e Helena ainda está no telefone, balançando Luther no colo tentando fazer o pequeno dormir. O homem está esparramado na poltrona, mudando os canais entediado. A jovem ouve atentamente as instruções, e explica ao medico que estava com essa dor a cada dois minutos nas ultimas horas, algo que o faz entrar em desespero e pedir que a garota vá o mais rápido possível a algum hospital.
— seria normal se estivesse sentindo isso no ultimo mês, e não no sexto.— diz o médico preocupado. Helena olha pra porta da sala e estremece, se preparando mentalmente pra pedir que seu marido a leve. Ela se despede e desliga. Depois ela arrasta os pés devagar até perto do homem e sussurra enquanto balança seu filho.
— pode... me levar ao...
— vá se arrumar.
Enquanto ela coloca as roupas em Luther, por não ter ninguém por perto pra deixar o garoto, ela olha brevemente pra tv e ouve uma reportagem que lhe chama a atenção. pessoas mortas, ruas engarrafadas, milhares de carros parados. a jovem se aproxima pra ouvir melhor, com o garotinho dormindo em seu colo, o que intensifica as dores, mas ela esta focando sua atenção em outra coisa.
— Daniel, olha isso... — helena aumenta o volume e se senta no braço do sofá pra ouvir mais atentamente. No aparelho televisivo passam cenas que parecem gravadas do inferno com pessoas morrendo e voltando a vida, corpos destroçados mas que ainda estavam se mexendo, fogo e destruição por todos os lados. Seu marido levantou a cabeça pra ver e seus olhos de arregalaram em choque e até se aproxima pra ver melhor. Os dois estavam confusos e horrorizados ao mesmo tempo, incapaz de entender o que estava acontecendo. Ele então percebe que ela esta segurando o garotinho e o pega no colo.
— Meu deus, o que está acontecendo?— A jovem sabe que ele não tem a resposta, mas pergunta mesmo assim. Os dois continuam observando aquele show de horrores se desenrolando sem entender nada do que estava acontecendo, mas assim que viu helena lutando e incapaz de desviar o olhar da tela ele teve que fazer algo pra trazer ela de volta a realidade.
— Não há tempo pra isso agora!— O homem a puxa pelo braço, afastando ela do aparelho de televisão. — podemos descobrir o resto mais tarde.
Denny puxa a jovem até a porta esperando que ela não revide. Não está forçando ela a fazer nada, mas sabe que não tem tempo a perder. Apenas correu com helena à reboque em direção a porta sem esperar pela resposta, mesmo que ela desse uma. Tudo para descobrir que em todos os lugares, não há espaço. O apocalipse havia começado. Tudo que eles podem fazer agora é voltar pra casa. O homem então suspira suavemente e esfrega a têmpora.
— Estaremos seguros em casa. Vamos entrar na sala, sentar e esperar isso passar.— Ele bate forte a porta do carro com raiva e abre a outra de traz, pegando seu filho mais velho com desdém e o puxando pelo pulso pra dentro de casa. Do outro lado, helena desce com dificuldade do automóvel e coloca sua mochila cor de rosa no ombro, arrastando os pés logo atrás deles, soltando suspiros e gemidos fracos que irritam cada vez mais o homem.
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Axel Livro 1
Science FictionDepois das revolta dos robôs, Axel tenta fugir do Red e sobreviver com sua cara metade. (Era futurista de inteligência artificial) P.s: personagens com asterisco, não são meus( roubados ou emprestados) RPG HISTÓRIAS