Nasci e passei boa parte da infância em uma pequena cidade do interior. Mas, aos 13 anos, minha família se mudou para uma cidade muito maior, por conta do trabalho do meu pai. Deixamos muita coisa pra trás, inclusive os amigos de criança. Um deles, meu vizinho, era muito próximo, eu o conhecia desde que me entendia por gente, brincávamos juntos todos os dias e frequantávamos a casa um do outro. Dele foi de quem mais senti falta. Tentamos contato mesmo de longe, eu ia à casa dele nas primeiras vezes que voltamos à minha cidade natal para passar as férias, mas o tempo nos afastou.
Após muitos anos, depois de formado e que passei a morar sozinho, resolvi visitar o lugar para ver como estava. Não mudara muita coisa, continuava uma vila do interior, o mesmo clima pacato, as mesmas famílias, os comércios. Reencontrei pessoas queridas, e durante minha passagem, perguntei desse amigo, João. Me disseram que ainda morava no mesmo lugar. Resolvi ir até lá após o horário comercial, pois ele estaria trabalhando.
Peguei o caminho de volta para minha antiga casa, fiquei por um tempo olhando a frente, o portão, o muro baixo. Muitas lembranças invadiram minha mente. Então fui tocar a campainha do vizinho. Esperei algum tempo, ninguém atendeu. Tentei novamente, quando ouvi um cachorro latir, e alguém mandando que ficasse quieto. Uma garota abriu a porta da frente, me olhando de longe, desconfiada. Não a reconheci, mas achei-a linda. Tinha cabelos lisos que abavam nos ombros, e estava pintados de roxo. Um nariz pequeno sobre uma boca também pequena, mas com lábios carnudos. Olhos de menina, doces e a pele branquinha de quem não saía muito ao sol. Perguntei se ali ainda morava João, que era um velho amigo. Ela disse que ele logo chegaria. Falou que eu podia esperar na área da frente, sentado em uma das cadeiras de varanda, o portão estava aberto. Confiança de pessoas de cidade pequena. Eu entrei e ela saiu por um breve momento para pegar o cachorro, e pude vê-la por inteiro. Era magrinha, pequena. Peitinhos marcavam por baixo de uma camiseta preta e ela usava um shorts cinza curtinhos e meias coloridas até o joelho. Uma tatuagem de anime em uma das coxas indicou que ela provavelmente já não era menor de idade. Ela entrou e trancou a porta, eu me sentei e esperei.
Quando João chegou, olhou desconfiado pro cara sentado na varanda da sua casa, mas logo me reconheceu. Eu esticara e ganhara corpo, mas ainda era o mesmo. Sorriu e veio até mim.
- Caramba, há quanto tempo bicho... - ele disse.
- Pois é, resolvi vir ver como andam as coisas por aqui.
Conversamos ali por alguns minutos. Ele trabalhava em um posto na cidade vizinha. Seus pais contiuavam a mesma coisa, mas estavam viajando. Ele me chamou para entrar e fomos até a cozinha. Ouvi a menina fechar um porta quando entramos, provavelmentendo quarto dela. Ele pegou duas latas de cerveja na geladeira e fizemos um brindes
- A antigas amizades.
Então, João gritou.
- Emily! Quer uma cerveja?
Ouvimos um "já vou" abafado.
- Desculpa perguntar, quem é essa menina? Parente sua? - indaguei.
- Rum. Não vai acreditar. Lembra do meu irmão caçula? - ele disse abaixando a voz.
- O Pedrinho?
- Exatamente.
Ele ficou me olhando até que eu me desse conta.
- O Pedrinho é essa Emily?
- Pois é.
Fiquei chocado por alguns segundos. Apesar de ver isso o tempo todo, quando é alguém próximo é uma sensação estranha. João me disse que ele se assumiu trans ainda novinho. Seus pais ficaram também em choque, mas por muito mais tempo. Mas a diretora da escola da cidade conseguiu mostrar a eles que era natural e que Pedrinho, agora Emily, precisaria de apoio. Eles aceitaram e se adaptaram. Segundo meu amigo, hoje às vezes já nem se lembravam de Pedrinho.
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Do dia em que comi o irmão de um velho amigo
Short StoryConto erótico descrevendo cenas explícitas, apenas para maiores de 18 anos. Ao voltar a sua cidade natal depois de muitos anos, um jovem visita um velho amigo, mas nem imagina a surpresa que o aguarda naquele lugar.