EU NUNCA - [Simone | Soraya]

Capítulo Único

Brasília, 01 de fevereiro de 2022.

O ambiente de trabalho no Senado Federal era agradável apesar dos pesares. Simone não poderia dizer que detestava estar ali. Ok, talvez em alguns dias ela pudesse... mas o que acontece é que todo aquele "embaralho de gentes" era sua família há quase 8 anos. Viu de tudo ali, trajetórias diferentes, opiniões diferentes, religiões diferentes, orientações sexuais diferentes... e de alguma maneira parecia que todas essas diferenças se completavam e se encaixavam fazendo com que essa "grande família" tentasse colocar tudo de lado quando a questão era trabalhar pelo interesse do povo. É claro, nem todo mundo trabalhava por isso... mas essa minoria nunca a perturbou ou a intimidou, pelo contrário, trabalhava o dobro para compensar a falta de alguns.

Outra questão importante é que como as parlamentares mulheres eram minoria nesse cenário, precisavam unir-se para ganhar voz. Isso fez com que Simone ganhasse algumas amigas para além das portas do senado.

Uma delas era Rose de Freitas, uma criatura amável e esperançosa que conquistou o coração de Simone logo nos primeiros meses. Rose era uma espécie de "mãe de todas" e tanto Simone quanto as outras colegas procuravam nela um colo de vez em quando.

Por isso, quando Rose convidou algumas parlamentares para um jantar em sua casa, nem Simone que corria de todos esses eventos foi capaz de recusar.

O convite foi feito a ela com o aviso de que outras colegas também estariam presentes, eram elas: Eliziane Gama, Leila Barros e Soraya Thronicke.

Naquele dia encerraram os compromissos com a promessa de que se encontrariam mais tarde no apartamento de Rose, Simone apesar de ser arredia a essas confraternizações estava animada em passar um tempo com as amigas papeando, fazia um tempo que não se permitia a isso.

⌘

Para a ocasião, Simone escolheu um vestido preto liso na altura dos joelhos, com gola alta e uma manga ¾, optou por alguns acessórios discretos, nos pés um salto simples mas muito elegante. Fez uma maquiagem leve já que o encontro não exigia nada muito elaborado. Por fim, jogou um kimono por cima na cor terracota.

Saiu de casa em um horário que permitia com que ela chegasse pontualmente ao compromisso. No caminho ouviu Palavras no Corpo de Gal Costa, cantarolando junto com o rádio... ao descer do carro, pescou no banco de trás uma garrafa de vinho, ela não bebia mas sabia que Leila gostava, então resolveu agradar a amiga.

Sua entrada já estava liberada na portaria, pegou o elevador e quando as portas iam se fechando uma mão as impediu.

Era Soraya Thronicke.

— Oi, Simone! Chegamos juntas... —  a loira disse oferecendo um sorriso.

—  Oi, Soraya... pois é, pontuais! —  Simone respondeu apertando o número do andar de Rose.

A loira usava um vestido parecido com o seu, porém na cor vermelha. Não usava nada por cima, isso fez com que Simone pudesse, ao longo da subida, prestar atenção nas curvas sinuosas do corpo da loira. Era uma bela bunda, já havia reparado antes, mas não teve tempo de dedicar atenção necessária. Como ainda não tinha abdicado de uns minutos da vida para apreciar aquela obra da natureza? Foi trazida de volta de seus devaneios por uma Soraya que a observava pelo espelho do elevador e fazia um barulho com a garganta para chamar atenção. O sorrisinho de canto que a loira carregava dava a certeza de que ela tinha pego Simone a observando e isso fez com que a MDBista ficasse um pouco constrangida.

—  Não sabia que você bebia Simone...

—  Ah, eu não bebo! —  Fez questão de esclarecer. —  Claro que às vezes não posso recusar uma tacinha, mas esse aqui é para a Leila. Estava guardado em casa há muito tempo e como sei que ela gosta... —  finalizou.