E que saudade

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Tóquio, 16 de abril
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          Poderia até dizer que aquele não era um dia bom caso sua vida não fosse uma série interminável de dias ruins.

Todos eram iguais. Ruins. Patéticos. Frios. Escuros.

Vivia numa eterna reciclagem. Autodestrutiva. Desestrelada.

Todos os dias eram iguais.

Tem um certo momento quando se vive em prolongada melancolia, não exatamente óbvio, tampouco mensurável ou palpável, onde a tristeza se apossa do cronos. É como um ponto de virada. Quando você se dá conta que o tempo é uma sinfonia dissonante. Uma nota que se prolonga, que te prende, te envolve e te toma em inércia. Cada segundo ecoa feito uma melodia repetida e que não passa e não avança, não muda para a próxima. É quando você se dá conta que não faz mais sentido contar os dias. É quando você desiste. Se rende. E entra em piloto automático.

Em um looping. Como um vinil riscado.

E ao abrir os olhos naquele dia, Taehyung soube que ele não era exatamente diferente. Ele era, ao contrário, a matéria prima reciclada. O único dia que revivia.

Há um ano perdia Haru. Já se parecia com uma eternidade. E que saudade...

O metrô parou com uma freada brusca e inesperada que o trouxe de volta para a atmosfera. Ele estava perdido em algum lugar acima das nuvens, flutuando em gravidade negativa dentro de sua própria mente. Se desequilibrou, pego de surpresa. Não conseguiu se segurar na barra em sua frente, e teria ido ao chão se não estivesse cercado de outras pessoas. Salvo pela contenção humana. Especialmente pelo garoto de uniforme escolar ao seu lado, que o empurrou de volta com o ombro.

Foi rápido em se equilibrar de novo e acenou a cabeça com o queixo inclinado para baixo.

— Obrigado... — murmurou para ele, segurando a alça da mochila com mais força com a mão que não apertava a barra metálica.

O garoto não respondeu.

A freada significava que aquele era o seu ponto de parada e esperou que as pessoas aglomeradas saíssem em sua frente. Não queria ter o azar de atrapalhar mais ninguém.

Era quinta-feira, 08:12 da manhã, segundo o grande relógio digital do lado de fora da estação. Horário de pico.

Seguiu pela calçada que, como diariamente, estava com sua superlotação de pessoas. Tudo era o mesmo, até a ciclovia rodeada de bicicletas e a rua ao seu redor cheia de carros e ônibus em sua orquestra barulhenta, desafinada e nada apreciável. E cercado pelo trânsito de pessoas, Taehyung andou devagar até sua universidade com seus passos quase ensaiados.

Efeito Borboleta | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora