Estou tão feliz. Finalmente consegui um emprego! Agora poderei ajudar minha mãe com as despesas da casa. Sei o quanto ela se esforça para manter tudo funcionando, e ter a chance de aliviar esse peso me enche de orgulho.
O trabalho não parece difícil: vou cuidar de um garoto cego. Já cuidei de pessoas antes, mas nunca de alguém com deficiência visual. No entanto, não deve ser tão complicado, certo?
Vou começar hoje, pois os pais do garoto vão viajar a trabalho e precisam de alguém para cuidar dele.
Me arrumo rapidamente, pegando uma mochila com algumas roupas e itens essenciais. Antes de sair, passo na cozinha para me despedir da minha mãe.
— Mãe, já estou indo.
Ela se vira do fogão, me analisando com aquele olhar preocupado de sempre.
— Certo, filho. Se cuide. Você está levando tudo? E não esquece a blusa de frio, porque está fazendo bastante frio.
Sorrio, já acostumado com suas preocupações.
— Claro, mãe. Estou levando tudo. Volto em cinco dias, provavelmente.
— Tchau, meu neném. Vou sentir saudades. — Ela se aproxima, deixando um beijo carinhoso na minha testa.
Reprimo uma risada e balanço a cabeça antes de pegar as chaves do carro e sair.
Chegada à casa de Nanon
O trajeto até a casa dos Suk não demora muito. Ao chegar, estaciono e caminho até a porta, tocando a campainha. Poucos segundos depois, uma senhora abre a porta com um sorriso gentil.
— Olá, eu vim...
— Ah, sim, querido. Já estávamos te esperando. — Ela faz um gesto para que eu entre. — A senhora Suk está no escritório, venha comigo.
Assinto e a sigo, observando a casa luxuosa e bem organizada. Definitivamente, essa família tem dinheiro.
Quando chegamos ao escritório, a mulher bate levemente na porta antes de espiar para dentro.
— Com licença, senhora Suk. O rapaz que vai cuidar de Nanon chegou.
— Mande-o entrar, Rosa.
Respiro fundo e entro, cumprimentando-a com um sorriso educado.
— Oi, sou Ohm.
A mulher me analisa por um instante antes de se recostar na cadeira.
— Ohm, certo. Você conversou com meu marido, não é? — Ela suspira, como se escolhesse as palavras com cuidado. — Quero te alertar de que não será fácil cuidar do meu filho.
Franzo a testa, curioso.
— Como assim?
— Quando contamos a ele que alguém ficaria com ele enquanto estivermos fora... bem, digamos que ele surtou. Acreditou que achamos que ele é um inválido, que não pode se virar sozinho. — A preocupação na voz dela é evidente. — Eu queria te pedir para fazer o possível para que Nanon não se sinta assim. Quero que ele fique bem com você aqui.
Ouço tudo atentamente e assinto.
— Entendido. Vou fazer o meu melhor.
Ela parece aliviada com minha resposta e se levanta.
— Bom, era só isso. Agora vou me despedir dele antes de sairmos.
Acompanho-a até o quarto de Nanon, onde ele está sentado na cama, brincando distraidamente com um fio do cobertor. Sua expressão é neutra, mas seus olhos — mesmo sem enxergar — parecem carregados de sentimentos não ditos.
A mãe dele se aproxima e se abaixa para abraçá-lo.
— Filho, estamos saindo. O Ohm já chegou.
Ele não esboça muita reação, apenas retribui o abraço com um "Ok, tchau, mãe".
Antes de sair, a senhora Suk se vira para mim com um olhar firme.
— Cuide bem do meu bebê, Ohm.
— Pode deixar.
Ela dá um último olhar para o filho antes de sair, e então sou deixado sozinho com Nanon.
O silêncio se instala.
Eu fico ali, parado, meio sem saber o que fazer. Nanon parece sentir minha hesitação, porque franze o cenho e vira o rosto levemente para mim.
— Por que ainda está aí?
A pergunta me pega desprevenido.
— Ah, bom... eu ia perguntar se está com fome.
Ele solta um suspiro impaciente.
— Não estou. Agora pode sair, por favor?
Fico sem graça, mas decido não insistir.
— Ah, claro. Qualquer coisa, me chama.
Saio do quarto e vou até a cozinha, decidido a preparar algo para comer. Tento não pensar muito na forma ríspida como ele me tratou. É só questão de tempo até ele se acostumar comigo.
Abro a geladeira, pegando alguns ingredientes, quando um som alto e seco ecoa pelo andar de cima.
Um estrondo.
Meu coração dispara.
O que foi isso?!
Largo tudo e corro escada acima, meu corpo tomado pela adrenalina. O som veio do quarto de Nanon.
Abro a porta sem pensar duas vezes.
— Nanon?!
E então, o vejo.
Ele está caído no chão, com a expressão tensa e o cenho franzido, como se estivesse tentando entender o que aconteceu. Seus dedos tateiam o chão ao redor, buscando apoio.
Merda.
Corro até ele, meu coração batendo forte.
— Você está bem?!
Ele suspira, visivelmente frustrado.
— Eu estou cego, Ohm. Não surtei, só caí da cama.
Ignoro o sarcasmo e ajoelho ao lado dele, ajudando-o a se sentar.
— Se machucou?
Ele hesita antes de murmurar:
— Não. Só me ajuda a levantar logo.
Seguro seus braços com firmeza, ajudando-o a se erguer. Quando ele finalmente se senta de volta na cama, percebo sua respiração levemente descompassada.
Ele pode não admitir, mas está abalado.
Fico quieto por um instante antes de quebrar o silêncio.
— Se precisar de mim... eu tô aqui.
Ele aperta os lábios e vira o rosto para o lado, como se estivesse tentando ignorar minha presença.
— Eu não preciso de ninguém.
Mas seu tom de voz não é tão firme quanto antes.
E, por algum motivo, tenho a sensação de que essa noite vai ser muito mais longa do que imaginei.

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Vozes do Coração -Ohmnanon
RomanceNanon, um jovem que após sofrer um acidente, perde totalmente a visão, então seus pais por trabalharem muito, contratam um ajudante Ohm para cuidar de Nanon. Mas e se ohm começasse a ter um sentimento por Nanon?