RUIVA?

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A CENTRAL FERROVIÁRIA era simplesmente gigantesca. Imensa. Monstruosa.

Sua parte antiga contava com mais de trezentos anos e era magnificamente preservada: lampiões de metal e vidro, mosaicos e azulejos, corrimões de ferro trabalhado, arcos, escadarias, até bancas de revistas com jeito de filme de época. Os trens mantinham o estilo, chegando com apitos e fumaça, embora não fossem mais movidos a carvão. Funcionários uniformizados com quepes antiquados e jaquetas com ombreiras douradas orientavam hordas de turistas para viagens cujos destinos se mantinham desde antes da invenção dos aviões.

A parte mais nova da central era a maior e mais moderna do continente. Tudo reluzia em metal polido, polímeros de extraordinária resistência e tecnologia avançada. Os trens convencionais de alta velocidade se moviam sobre trilhos; os trens-expressos flutuavam sobre campos magnéticos de última geração. Ali havia poucos funcionários; painéis se encarregavam de qualquer tipo de orientação ou informação necessária.

Trens de todos os pontos do continente faziam conexão ali. Havia fartura de corredores, entradas, saídas, acessos, escadas, elevadores, andares, lojas, restaurantes, tudo fervilhando de gente que ia, vinha, caminhava, corria, conversava, ria ou, se tivesse perdido o trem, praguejava.

A central de trens seria um labirinto indecifrável se não fossem os já referidos painéis de orientação, mas nem mesmo os painéis eram capazes do milagre de encontrar alguém perdido no meio de tamanha multidão.

Alguém perdido... Bem, talvez não exatamente perdido, avaliou o rapaz. Porque a pessoa perdida era sua irmã, e ela tinha se perdido justamente com o safado mais cheio de pose, músculos, sorrisos e lábia que a família tivera a infelicidade de conhecer. E sua irmã e o raio do galã de araque tinham vindo na frente para a central de trens.

E agora estavam desaparecidos lá dentro.

Eles eram um grupo grande, reunindo família, amigos e agregados que haviam conhecido durante a viagem. Agora, duas das garotas e todas as mochilas e tralhas haviam ficado na plataforma de onde o trem deles partiria em quarenta minutos. O resto do grupo se dispersara pela central à procura dos talvez-desaparecidos, talvez-o-safado-tivesse-aprontado-alguma, talvez-a-irmã-tivesse-caído-na-conversa-do-insuportável, talvez-quebrassem-a-cara-dele-quando-os-encontrassem.

Mas precisavam encontrar primeiro.

Do alto da escadaria, o rapaz avaliou a plataforma muito cheia, procurando os cabelos escuros da irmã ou a pose do safado. Que droga! Por que aquela gente não parava de se agitar por um instante que fosse?! E por que aquilo estava tão lotado?!

Para a segunda pergunta, um grande painel forneceu a resposta: o trem para as principais cidades do Norte chegaria em dois minutos e partiria em cinco; o principal trem para o Leste estava programado para chegar logo depois.

Que beleza. Provavelmente escolhera a plataforma mais lotada de toda a estação para procurá-los! E o que a sua irmã e o safado estariam fazendo ali?! Nada! Aliás, o mesmo nada que estariam fazendo em qualquer outro lugar daquela central, porque o lugar do grupo inteiro era lá na plataforma de onde o trem deles partiria em exatos trinta e seis minutos!

Começou a descer a escadaria devagar, atento, sempre procurando o par no meio da multidão ondulante mais abaixo.

* * *

ENTÃO, A GAROTA passou ao seu lado. Descia as escadas numa corrida apressada, esgueirando-se entre as pessoas com rápidos com licença, me desculpe!

Num movimento instintivo, ele a olhou.

E o mundo inteiro desacelerou.

Porque ela era linda. Pura e simplesmente linda.

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⏰ Última atualização: Jun 12, 2015 ⏰

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