elucubrações às cinco da manhã

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pequenos pingentes aconchegantes.

você foi embora e eu fiquei com cara de bobo te esperando naquele restaurante que você ama. minha máquina de escrever vazia e meus dedos escorregadios de manteiga.

suturas não acabam até que o relógio bata à meia-noite e cinquenta e dois.

contei nos dedos engordurados a espera que esticava do lado de fora da janela os rostos palpitantes de pedestres anônimos. senti a imensa falta de suas implicações, inventando histórias banais para cada chapéu que passava apressado.

me ajude, me ajude, escorreguei para o inferno cintilante.

meu amor criou asas e comeu tudo das minhas mãos, até os meus ossos. canibalizou a minha alma e... agora? agora conto as rachaduras do chão e os grãos de sujeira dos meus sapatos.

chafurdar em sangue nem sempre traz o melhor de nós mesmos.

vejo minha musa no meio da multidão, segurando as mãos cambaleantes do homem anônimo. conta os passos e pisa nos rostos daqueles que ela abandonou antes de se aconchegar em meu colo.

as palavras desgastadas e repetitivas eletrificam o filme de terror que meus olhos encontram nas madrugadas.

chega de adjetivos, verbos, poesia verborrágica, invenções irascíveis. corte tudo e mostre o que te faz especial. sem ela ainda sou o mesmo, certo?

certo?

💗💗

pura falta de inspiração. minha musa me abandonou furiosa e não sei se uma reconciliação é possível.

musaOnde histórias criam vida. Descubra agora