M U S A

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   Deslizou os dedos pelas páginas, na procura de achar mais erros. Hoje era o último dia que tinha para entregar o manuscrito de um novo livro. A Federação, sua editora, havia apressado o escritor e adiantado o prazo cerca de duas semanas.

   Ultimamente, o loiro vinha suspirando bem mais que o comum, e os suspiros vinham acompanhados de grunhidos frustados, sorrisinhos desconcertados e um humor impassível. Estranho, no mínimo. Seus colegas de trabalho e amigos tentavam descobrir se era mais um enigma ou se Q!Cellbit estava adoencendo.

R O I E R

   Q!Roier, um menino doce e carismático que conheceu graças à seu irmãozinho encrenqueiro. Era um moreno boa pinta, pele bronzeada, mexicano, com os olhos mais quentes e os lábios mais atraentes da região.

   O loiro havia caído nos braços do rapaz, completamente derretido, sem nem ao menos hesitar em se render por aquele sorriso amarelado e singelo.
 
   Por mais estranho que fosse a maneira que se conheceram, — uma das encrencas de Richarlyson com seus colegas de turma — nada nunca afetou a proximadade da relação que deveria ser conectada através dos pequeninos briguentos e catarrentos, exatamente, deveria ser assim. Para falar a verdade, nunca tinha sido. O moreno soltou diversas cantadas descaradas com seu sotaque forte ao escritor desde o primeiro momento.

"Entonces, Gatinho, ¿cómo resolvemos la intriga de mi Bobby con Richarlyson?"

  Gatinho.

"Antes de tudo, você deveria dar um jeito no seu Bobby e mandar ele parar de atormentar o meu irmão, Guapito!"

  Guapito.

E desde desse dia, nunca mais as palavras "gatinho" e "guapito" se perderam no tempo, pelo o contrário, na verdade. Passaram a trocar mesagens todos os dias, das mais formais, à mais estranhas possíveis.


  ...

- ¿Cuántas horas traerás a Richas para ver a Bobby?
(09:37)

As onze já tô ai, Guapito -
(09:39)
QUER DIZER, O RICHAS TA AI -
(09:40)

- ok?
(10:00)

você prefere chocolate ou preto? fins comerciais... -
(19:48)

...

As vezes, até marcavam encontros entre si, que dizer, encontros para as crianças, e trocavam mais cantadas, abraços e olhares transbordados de ternura e desejo, na sua forma mais pura.

E agora? O loiro não tinha mais paz. Ele queria mais. Cada vez sua sede por Roier aumentava. Estava sedento pelo o amor e carinho do moreno e despejava toda sua abstinência em páginas e páginas de seus livros.

Ansiava que escrevendo e derramando seus sentimentos nas letras despojadas, poderia aliviar a ardência continua em seu peito, a adrenalina e inquietação que corria por suas veias, e quando percebeu, Q!Roier havia virado sua musa.

Cada livro, cada capítulo, cada folha tinha uma maneira diferente de eterniza-lo. As vezes elogiava sua beleza, outra hora elogiava seus trejeitos, e de sobra, elogiava as pintinhas de seu rosto.

O olhar mais ardente e brilhante que o Sol, os lábios mais apaixonantes que Vênus e as bochechas salpicadas de poeira estelar, simplesmente maravilhoso.

A verdade era que Q!Roier era onipotente sobre si. Era seu Deus absoluto. Morreria e mataria por seu tudo. Mesmo que isso significasse sair machucado no final de tudo.

Q!Roier era sua musa e faria de tudo para o eternizar, mesmo que isso significasse nunca ter a oportunidade de ter o coração do moreno, mas poderia se saciar com milhares e milhares de páginas descartadas.

M U S AOnde histórias criam vida. Descubra agora