Caio, um menino de oitavo ano chegou na escola. Era início de setembro, a primeira semana. Estava indo encher sua garrafinha da Tupperware, ansioso para encontrar seu amigo Mikhael, ou melhor, Mike.
Mike era seu amigo à mais ou menos 5 anos, ele era muito legal, e realmente muito bonito. Quando se encontraram no portão da escola, se abraçaram como se tivessem passado décadas separados. Era segunda feira, eles tinham se visto sábado.
Enquanto caminhavam juntos, eles passaram na frente da sala dos professores, e pro azar deles, saiu de lá sua professora de línguas estrangeiras: Maria Escura. O rapaz tem só uma memória marcante com ela: do dia em que enquanto passava a mão no cabelo saiu uma mecha inteira na mão dela! Não devia ser fácil ter corte químico. Lembrando disso, ele deu um sorriso quase que automático, mas não tão brilhante quanto os olhos de Mike.
- Bom dia, professora!
- Bom dia é o caralho, enxaqueca do cão, ainda vou ter que aguentar vocês de manhã, não mereço isso, eu estudei isso tudo pra que? De que valeu a pena meus 4 anos de curso na cadeia?[...]
Ela estava mais calma que o normal. Se ignorássemos o fato de que ela também tinha um cheiro muito forte de café e empadinha de frango, algo que ele comprava na padaria na frente da escola quando a merenda era biscoito com suco de água
A professora tinha saído da sala. Significava que já tinha passado a hora deles terem subido para a sala. Caio rapidamente pega na mão de seu amigo Mikhael e sobe a rampa pro segundo andar.
- Sai viado!!
- Você né? Sou a Caioreidelas no brockhaven..
- A?
- Sai dessa sou macho
- Ta bom entao
- Deixa disso, pelo menos eu te protejo..
[...]
A primeira aula era a da Maria Escura. Ela iria corrigir uma redação do mês passado. Caio foi o primeiro a ser chamado para ter o caderno vistado
- Que isso? Como você quer que eu leia isso? É o que? Alemão? Aramaico? Hieróglifos?...
- ...
- É por causa desse negócio de ser canhoto, é tudo mimimi, se você fosse gente...
- ...
- Quer saber? Desce, vai falar sobre isso com a direção
- Eu não uai kkkkkkkkj, muie escrota
Ele, contra sua vontade, desce, mas não foi procurar algum coordenador, ele foi esperar a aula acabar no banheiro. Não era um problema, todo mundo fazia isso.
Caio pensa pensa e pensa. O banheiro masculino era nojento, ele não queria ficar duas horas lá até a aula dela acabar. Imediatamente veio na cabeça dele o cheiro de café , era tudo que ele queria agora. Como ele morava no interior do Piauí, a escola não tinha verba pra por câmeras, então era fácil, era só não ser visto por nenhum adulto. Ele formulou mentalmente o caminho que teria de andar pra chegar até a sala. A parte mais dolorida era que estava sozinho. Com certeza Mike iria ir com ele. Em quase um piscar de olhos já havia chegado.
Ele não entendia como foi tão fácil, quando que o tempo começou a passar tão rápido?
Caio entrou lá, parecia até um chalé, tinha um vento gelado natural. Ele ficou com frio, não era acostumado a passar por brisas frias, provavelmente Mike estaria lá para esquentar ele.
Pensando nele, encheu os bolsos com as empadinhas e saiu da sala. No momento em que colocou os pés pra fora da sala o sinal tocou. Em questão de minutos já estava de volta na sala, ele entrou, e tratou de dividir com todo mundo que foi falar com ele.
O dia ainda não tinha acabado, a sorte não estava pra ele naquele dia, o lanche era polenta. Graças a deus ele tinha roubado as empadinhas de frango mais cedo, mas Mike ainda não estava saciado, e ele amava aipim. A escola não tinha verba para comprar milho pra fazer a polenta, então eles faziam com o aipim que plantavam atrás da escola.
Já sentados, o rapaz deu duas mexidas na comida e se deparou com um fio de cabelo enorme e ressecado, provavelmente com corte químico. Tem alguém aqui sem corte químico?
Independente da resposta, Caio foi reclamar, mas a cantina já tinha sido fechada pela falta de comida, o recreio acabou. O quarto horário era Educação física, mas ele tinha que reclamar de algo pra direção.
Chegando lá, descobriu que as três coordenadoras estavam dando aula, pois a escola não tinha verba pra contratar um professor, então ele teve de decorrer diretamente ao diretor.
Como Caio era mau educado, bateu na porta e abriu, sem esperar resposta. O Diretor estava sentado comendo doritos e vendo "No Clima do Amor", um dorama terrível e de péssimo gosto. Rapidamente, o diretor apertou control+w e apagou a guia e se endireitou. Por isso que a escola não funciona.
- Boa tarde diretor.
Caio falou com um tom irônico e uma voz levemente mais afinada que o normal.
- A educação ficou aonde?
- Não grita comigo.
Ele não tinha gritado.
- Estou com fome, queria ir na cantina buscar empadinha de frango
- Oxi fodasse, problema seu.. Você tem aula pra assistir né? Vai estudar vai
Ele levantou, foi colocar o rapaz pra fora. Suas mãos estavam sujas, então Caio saiu correndo. Sua aula já estava acabando, então, correu para o vestiário da quadra para queimar seus últimos minutos de aula.
Chegando lá, ele achou um pacote dos correios, em japonês. a única coisa que ele sabia ler era o nome do professor de matemática. Que ele lembra de ter visto sair da sala dos professores depois da Maria Escura, com cheiro de café. Oshi-Uhu era o nome dele. Ele sem pensar, abriu o pacote. Tinha vários pacotinhos de café solúvel que também tinham o mesmo cheiro que Maria Escura exalava enquanto saia desfilando da sala dos professores.
Uns minutos passaram e seu amigo Mike chegou. Juntos, chegaram na conclusão de que eles tinham algum envolvimento com a polenta de mais cedo. No outro dia, ambos chegaram mais cedo, e presenciaram Maria Escura com três sacolas do Assaí cheias de empadinhas de frango. Maria escura já tinha pintado o cabelo de novo de outra cor, era torturante ver aquele cabelo pedindo socorro e sendo negligenciado.
Os amigos decidiram olhar pela janela, o diretor também estava participando disso. Aparentemente, a escola não tem verba o suficiente para comprar merenda pros professores. Na cidade deles não tinha vigilância sanitária, não adiantaria ligar para a da capital, não valia a pena.
Mike não iria nunca mais comer na escola. Para recompensar o amigo, Caio decidiu matar aula e levar ele para comer empadinha de frango fora da escola. Eles então, pularam o muro e seguiram suas vidas.
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A Eiskolapa-ke
AdventureÉ literal um trabalho da escola, fiz em dupla com minha amiga e ela me mandou publicar 🤷♀️ Capa feita por @Dxxmwt, ela também participou do desenvolvimento criativo dessa história Caio é uma passiva tóxica que mora no interior do Piauí, ele e seu...