Uma certa angústia

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Sabe quando o clima pesa e a vontade é de se levantar e jogar tudo para o alto? Essa era a minha vontade. Não, na verdade, a minha vontade era de voar na cara daqueles dois ao meu lado. Por muitos momentos fechei o ponho na mesa. A cada indagação minha para o candidato, eu era confrontada pelo olhar desafiador de Theodoro e suas respostas duplo sentido. A tensão estava no ar.

- Certo. Acho que deu por hoje – levantei assim que o último candidato saiu da sala.

- Não acabamos, Maria Alice. Temos de escolher um candidato.

Olhei para o homem ao meu lado com a pior das expressões.

- Nada o que eu disser será relevante a você e SUA Lucy.

Peguei minha agenda e sai da sala sem olhar a reação do meu chefe que, provavelmente, estaria soltando fogo pelo nariz. Ouvi no fundo ele pestanejar, mas preferir não dar ouvidos.

Percorri ansiosa o caminho até chegar à minha sala. Com as pernas bambas e o coração acelerado, segurei a respiração e me sentei na poltrona à minha frente.

- Preciso beber – falei alto.

O telefone tocou assim que senti o primeiro gole de whisky descer queimando a garganta.

- Maria Alice – atendi.

- Hummmm – ouvi o deboche de Ana.

- Ana, eu não estou num dia bom. Nada de piada.

- Só porque eu disse humm? – riu – você é o centro do assunto. Todos estão comentando sobre a sua malcriação com o chefe – riu mais alto.

- Do que está falando? – levantei a sobrancelha.

- Parece que o chefe saiu irado da sala e até dispensou Lucy.

- Ele é um idiota – olhei para meu copo de whisky – eu preciso de uma boa noite de sono para saber o que fazer. Sou uma desempregada, amiga – ri sem graça. Eu estava apavorada e cada minuto nessa situação me deixava ainda mais apreensiva.

- Checou seu e-mail? – falou ansiosa.

- Ana, se eles tivessem interesse, eu já teria sido informada. Eu acho que vou preparar meu currículo e amanhã, quando eu estiver com cabeça para isso, procurarei emprego – pausei - por ora, preciso apenas descansar – falei desanimada.

- Quer que eu vá à sua casa? – perguntou animada.

- Hoje não, Ana. Talvez amanhã, hoje não – filmei mais uma vez a minha sala para registrar o momento.

Uma batida vez meu coração gelar.

- Dr. Angelis na linha – gritou a secretária do outro lado da porta.

- Diz que vou atendê-lo – gritei de volta

- Eu preciso... – fui interrompida antes de concluir a frase.

- Já sei, já sei... depois a gente se fala – então desligou o telefone.

Olhei para o teto e puxei todo o ar do pulmão. O que diria ao meu mentor que pedi demissão. Merda... eu não poderia contar a verdade, de jeito nenhum.

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⏰ Última atualização: Nov 02, 2023 ⏰

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