KALINA - Zombies

Capítulo 2

          Kalina inspirou profundamente, retendo-se à entrada do colégio. De punhos cerrados, fincava as unhas nas palmas das mãos com força para impedir que fosse assolada pelo nervosismo que sentia. O que estava a fazer ali? Após tanto tempo, estava de regresso ao lugar onde nascera... e que abandonara.

            Não exatamente no colégio mas em Seabrook. A caverna, a floresta cerrada, o conforto da sua alcateia...

            A ex-lobisomem cerrou os dentes. Não podia remoer no passado. Tinha de focar-se no presente e viver a sua vida ciente que enfrentaria as consequências das suas escolhas.

           Por mais dolorosas que elas fossem.

           Sentiu o corpo ser bruscamente atirado para a frente, fazendo-a cambalear. Um rosnado baixinho começou a crescer na sua garganta mas a bílis subiu-lhe à boca ao encarar as costas de uma figura muito familiar. Willa nem sequer se virou para trás, seguindo em frente como se não tivesse esbarrado propositadamente na prima. Os outros lobisomens seguiram-na, inclusive Wynter, que se virou para lhe deitar a língua de fora.

             Lágrimas quentes acumularam-se nos olhos castanhos de Kalina. Nenhuma caiu.

             Entrou no colégio de cabeça erguida, procurando a sala de aula onde já deveria estar. Apressou o prazo, mordendo a língua ao perceber que estava perdida. Maldita escola com três pisos.

              Voltou para a entrada principal, tentando orientar-se. O toque de entrada tocara e não havia ninguém a quem pudesse recorrer para pedir ajuda. Estava a começar a desistir quando viu algo... caricato.

            Já os vira pela escola antes mas nunca parara para os analisar de perto. Não era muito mais alto do que ela, os cabelos azuis tornando as íris ainda mais verdes, as maçãs do rosto perfeitamente anguladas, os lábios finos comprimidos numa expressão concentrada. As roupas azuis e prateadas delineavam-lhe os bíceps, tornando-o tão elegante quanto tonificado. Kalina ergueu uma sobrancelha, impressionada.

Ali estava um belo espécime de extraterrestre.

Ele estava parado. Completamente imóvel. Fitava a parede com um olhar minucioso, atento aos placares afixados como se procurasse por algo. Não parecia perturbado por estar sozinho ou por provavelmente estar atrasado para alguma aula, como Kalina.

- Posso ajudar-te?

O extraterrestre deu um salto, a mão agarrada ao peito enquanto fitava a lobisomem com um ar confuso. Parecia genuinamente assustado, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado esquerdo, o sobrolho franzido ao questionar:

- Eu... assustei-me? Isto é o que vocês descrevem como "apanhar um susto"? - estremeceu, abraçando-se a si próprio - Não gostei.

Kalina tapou a boca com a mão, tentando disfarçar o riso.

- Desculpa mas tu nunca apanhaste um susto?

O rapaz dos cabelos azuis fitou-a como se ela é que fosse um extraterrestre.

- Não. Nós estamos todos interligados e sabemos sempre onde os outros se encontram. Dificilmente somos... surpreendidos.

A morena abanou a cabeça.

- Isso é só esquisito. - pestanejou, esboçando um sorriso contido ao dizer - Então também nunca te fizeram uma surpresa? Uma festa surpresa, por exemplo?

- Não. Surpresas geram confusão e conflito. Somos anti-conflito.

Kalina Lyckensen ergueu as sobrancelhas, descrente. Antes que se pudesse conter, as palavras escapuliram-se dos seus lábios, como frequentemente acontecia:

- Vocês são aborrecidos.

           Ao invés de mostrar sinais de desagrado, o extraterrestre sorriu, encolhendo os ombros.

- Não sei o que isso significa mas se for sinónimo de "somos perfeitos" então concordo. - antes que pudesse responder, o rapaz estendeu a mão, os olhos cintilando de orgulho - Cumprimento-te como um terráqueo. Aprendi há poucas horas mas aprendo depressa, sou assim tão bom. - fez uma pausa, os dentes arreganhados num sorriso perfeito- Chamo-me A-Lan.

            Ela não respondeu. Sequer mexeu a mão.

- E eu sou uma miúda sem paciência para gente convencida. - resmungou Kalina.

            E virou-lhe as costas.