Eu tenho olhos, mas queria poder enxergar.

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"Será que eu deveria mesmo perguntar para Lord Siralos, o motivo pela qual a pergunta de Ivlis desencadeou sua fúria? Parece arriscado, no entanto, meu deus se importa demais comigo, e parece que está mais aberto sobre esse assunto… Às vezes, me sinto só, sem o meu caro irmão, embora eu não concorde com Ivlis ter questionado nosso mestre, e ter arruinado os nossos momentos felizes no processo, eu ainda o amo e estou muito preocupada se ele ainda vai sobreviver sem o sol ao seu alcance; eu não consigo fingir tão bem quanto Siralos, que Ivlis nunca existiu, pois, é exatamente assim que ele agiu todo esse tempo… Como se aquelas memórias felizes tivessem sido apagadas, por mais que o pensamento de meu irmão fosse um absurdo, ainda assim me botou para pensar um pouco."

Isso era o que Igls Unth pensava, enquanto marchava por uma fortaleza dourada e se curvava diante de uma escadaria, onde no topo jazia uma grande pedra do sol brilhante, com vários tipos de estrelas sendo orbitadas pelo o que pareciam planetas minúsculos, e as mesmas orbitando este grande sol; e quem estava lá em cima era o seu deus todo poderoso, sentado em seu trono, deixando sua presença imponente ainda mais palpável na sala do trono, misturado com o calor reconfortante e o brilho extremo vindo dos astros e do corpo do ser superior, que olhou para baixo vendo a sua criação e acima de tudo sua filha.

— Lord Siralos! — Grita Igls Unth prestando respeito para o deus. — A terra do sol está crescendo cada vez mais em população, a vida está florescendo rápido e todos parecem felizes com isso.

— Hoho, essa é uma ótima notícia, não tenho dúvidas disso. — Diz a figura afeminada e brilhosa do deus logo acima, levantando de seu trono e descendo as escadas, dando para ouvir os passos ecoando por toda a sala. — Você esteve fazendo um ótimo trabalho na fortaleza, além de estar contribuindo muito para a segurança desse mundo, Igls Unth, eu estou verdadeiramente orgulhoso de você. — Complementa Siralos, com um sorriso doce, enquanto colocava sua mão quente na cabeça da serafim logo abaixo da auréola incandescente.

— Estou honrada em ouvir essas palavras, Lord Siralos, sou eternamente grata por minha posição e por seus elogios! — Indaga Igls Unth, estando realmente feliz por ter escutado aquelas palavras de seu criador.

— Imagino que esteja, mas eu consigo sentir que você veio aqui com outra intenção, não é? — Pergunta Siralos, já sabendo que Igls Unth estava reprimindo seus reais sentimentos, o que não a surpreendeu vindo de seu criador, que era o ser muito sábio. — Diga-me, minha criança, o que te aflige? Eu sei que está cheia de dúvidas, mas não tenha medo de perguntar.

Ao ter dito isso, Igls Unth, ainda curvada perante o ser divino, sentiu um pouco mais de confiança para fazer a pergunta, no entanto, estava ainda com um pé atrás visto que antes de Ivlis ser expulso ele dizia a mesma coisa, e aconteceu o que aconteceu… A anjo chefe engole a saliva, passa a língua pelos lábios, e por último respira fundo; então ela abre a boca.

— Lord Siralos, por mais que eu não concorde que Ivlis tenha te contrariado, eu queria saber a razão por trás de sua fúria para com aquela pergunta, de forma alguma eu estou desrespeitando o senhor, eu só quero saber o motivo de tanto ódio… Quero saber o que é a tal "liberdade" que Ivlis tanto pregava. — Diz Igls Unth, exitando um pouco durante sua frase.

Nesse momento ela sentiu o ambiente ficar ainda mais quente do que já era normalmente, talvez ter feito a pergunta pudesse ter sido um erro, já estava se lamentando internamente por ter tomado essa decisão equivocada; fechou com mais força os seus olhos esperando uma punição divina, mas ela sentiu o ambiente amenizar até que voltou a ser como era antes de ter feito a pergunta. Ela sentiu a mão de Siralos sair de sua cabeça, apesar de sempre estar de olhos fechados, de alguma forma ela conseguia enxergar os seus arredores, como uma espécie de visão interna, podendo enxergar os sentimentos e as expressões de outros seres, mesmo que indiretamente ela estivesse de olhos fechados para tudo, ela podia ver a expressão de calma contida no semblante do deus; a cabeça dela se ergueu para ver o rosto pálido e afeminado do deus, o reflexo da luz do sol batendo e refletindo em seus óculos de armação vermelha, fazendo também brilhar seus longos cabelos beges, esvoaçando com a brisa quente.

Maldição do sol: Eu tenho olhos, mas queria poder enxergarOnde histórias criam vida. Descubra agora