- Meu amor, diziam para mim que essa moda passou, que monogamia é papo de doido - Cebola cantarolou, deixando o lápis deslizar pela folha de papel incluindo traços ao desenho. - Mas para mim é uma honra ser cafona.
- Ainda bem que reconhece sua cafonice - Mônica resmungou, jogando a bolsa no chão enquanto se sentava de frente para o rapaz.
- Oi para você também - Cebola sorriu, desviando o olhar para a mulher em sua frente. Menezes controlou o impulso de arrumar a franja que caía no olho da Sousa. - Não deveria estar na aula?
- Você também deveria.
- É dia de laboratório - Cebola murmurou, voltando o olhar para o desenho.
- E para variar você esqueceu o jaleco - Mônica revirou os olhos, era raros as aula de laboratório que o Menezes participava, pelo simples fato de esquecer o jaleco todas as vezes. - Sabe que vai reprovar nessa matéria se continuar assim, não sabe?
- Obrigado por falar o óbvio, Sousa, nem tinha notado - Cebola olhou-a, Mônica girava o anel em seu dedo sem pausa. - O que foi?
- Nada.
- Por que está nervosa?
- Não estou.
- Está tentando mentir para si ou para mim?
Mônica desviou o olhar, atraindo ainda mais a atenção do rapaz, que seguiu seu olhar para o outro lado do refeitório.
- O que ele fez? - Cebola questionou, deixando de lado o caderno de desenho.
- O que te faz pensar que foi ele? - Mônica voltou a atenção para o Menezes, ignorando o nervosismo recente.
- Sua respiração acelerou e os movimentos com o anel também.
- Por que você me lê tão bem?
- Você é fácil de ler - Menezes mentiu, não estava disposto a revelar sua admiração pela garota. Cebola conhecia todas as suas manias e pequenos gestos, sabia quando estava nervosa e ansiosa pelo modo que girava o anel, ou quando estava muito animada demais e seu corpo todo vibrava. - Mas se não quiser me contar tudo bem, logo Magali aparece e pode desabafar com ela, mas você tem que falar com alguém sobre isso aí.
Mônica ficou quieta, observando o rapaz voltar a desenhar. Notou que a música Chico ainda soava baixinho no looping.
- Chico, se tu me quiseres, sou dessas mulheres de se apaixonar - Menezes cantarolou, fazendo-a rir.
- Que mulher apaixonante você.
- Se for zombar da minha cantoria vou te expulsar daqui, Sousa - Cebola murmurou, ainda focado no desenho.
- Eu dediquei essa música para ele - Mônica sussurrou, atraindo a atenção do Menezes, que olhou-a novamente.
- É, pode fazer a sua fumaça, encaixa perfeitamente com ele.
- Idiota - Mônica sorriu. - Não vai terminar o desenho?
- Ele não gostou? - Menezes questionou, ignorando a pergunta alheia.
- Eu não contei para ele ainda.
- Por que não?
- Posso ver o desenho?
- Não foge da pergunta.
- Não é da sua conta.
- O desenho também não é, e mesmo assim você quer vê-lo - Menezes devolveu, vendo-a bufar. - Porém, como eu sou um ótimo amigo, irei mostrar para você.
Cebola virou o caderno para ela, mostrando a silhueta de uma mulher que ainda não estava terminada.
- É lindo - Mônica comentou. - Porque tenho medo de sair de Chico e parar em Penhasco.
Menezes riu, fechou o caderno de desenho e focou-se nela.
- Maurício não é louco de soltar a sua mão.
- Não é o DC - Mônica respondeu, completamente perdida nos olhos castanho-mel que mantinham um brilho único, que sempre aparecia quando o rapaz fazia algo de que gostava.
- Não? - Menezes perguntou surpreso. - De qualquer forma, a pessoa não será louca de te soltar Moni.
- Me promete?
- Sim, e se a pessoa for louca a este ponto, nós daremos um jeito no cidadão.
Mônica gargalhou.
- Se for para repartir o amor, você reparte comigo? - Mônica questionou, focando-se no rapaz.
- Moni...
- Esqueceu o jaleco de novo Cebolinha? - Magali interrompeu o Menezes, sentando-se ao lado de Mônica, enquanto Cássio sentava-se ao lado do amigo. - Você está me deixando sem dupla e temos um trabalho para apresentar, se esquecer na próxima aula pode se considerar um homem morto.
- Pega leve com ele, Maga, o homem tá sofrendo a base de Chico - Cascão zombou, fazendo-o revirar os olhos.
- O que estavam conversando? - Magali questionou ao ver Mônica e Cebola em silêncio.
- Nada, ele estava apenas desenhando - Mônica respondeu. - Bom, tenho aula agora, vejo vocês depois.
- Pensei que só tivesse uma aula hoje - Magali comentou confusa.
- Pois é - Mônica murmurou sem graça, agarrando a alça da mochila. - Tenho reforço de uma matéria, sabe como é... exatas né, quem diria que eu usaria cálculo em jornalismo.
- Sim - Menezes falou alto e em bom tom quando a Sousa virou de costas para o grupo. - Se tu me quiseres, é claro.
Magali e Cássio olharam confuso para os amigos, que sorriam bobos um para o outro.
- O bar da cachaça vai ser nosso lar? - Mônica perguntou, vendo-o se levantar e caminhar em sua direção.
- Não é nossa cara, mas a pracinha do limoeiro pode ser nosso lar - Menezes murmurou, acariciou a bochecha da garota antes de selar seus lábios em um beijo calmo.
- O que a gente perdeu exatamente? - Cássio questionou, olhando para os amigos em completo choque.
- Eu não faço ideia - Magali respondeu, observando o casal perdido em seu próprio mundinho entre beijos e afagos. - Ela achou o Chico dela.
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Chico não me jogue do penhasco
FanfictionOnde Mônica se declara para Cebola através de uma letra de música