P.O.V Amélia
A aterrissagem havia sido bem tranquila.
Da Bélgica até o Brasil quase sempre era uma vista bem bonita. E mesmo se não fosse, escutar o Duda roncar como quem dorme num berço era com certeza muito engraçado.
A única coisa que nunca era tranquila era a tia Carmen.
Sempre que a gente vinha pra cá, ela quase abria a conta do banco pra disputar riqueza com a minha mãe, ficava me mostrando algumas coisas caras recém chegadas no mercado, mas que ela já tinha, como se eu fosse um babuíno da bunda rosa e arranjava todo e qualquer motivo pra implicar com o meu irmão.
Por isso, era sagrado: sempre que minha mãe ficava na sala conversando com ela e resolvendo algumas coisas com a Valentina, e meu irmão também ficava por lá, jogado no sofá, tirando o juízo de qualquer um que tivesse o azar de passar por ele, eu corria pra varanda.
E daqui de cima dava pra ver o bairro todo, por mais que a mansão fosse um pouco afastada das outras casas por ser muito alta.
Chegamos tarde o suficiente para as ruas estarem paradas e a cidade coberta pelas luzes dos postes, já era noite.
Com Cássia Eller cantando nos meus fones, aquele cenário quase parecia um dos velhos livros nacionais que eu gostava.Rajar, meu gatinho de estimação, desceu do apoio da varanda e subiu no meu colo, enrolando o corpinho, se aprontando pra dormir, curtindo a brisa fresca da primavera brasileira.
O vento balançou meus cabelos suavemente e eu respirei fundo, soltando os ombros que nem percebi que havia contraído.
Meus dez segundos de paz foram quebrados pelas vozes do meu irmão e da Carmen discutindo lá na cozinha, o que me fez crer que minha mãe já havia ido embora, sem se despedir.
Soltei uma risada sarcástica e segurei Rajar, impertubável, aproximando-o do meu rosto.
"Quem sabe eu ainda sou uma garotinha
Esperando o ônibus da escola sozinha
Cansada com minhas meias três quartos
Rezando baixo pelos cantos."
Era exaustivo ter que vir pra cá. Era exaustivo ter que ouvir, conviver e conversar com a tia Carmen.
Era exaustivo coexistir com os convidados do tio José Ricardo e com a soberba deles que ocupava uma sala inteira.
Amo meu irmão, mas era exaustivo até ter que lidar com a personalidade ainda mais chata e mimada que o Duda assumia sempre que se misturava com o resto da família.
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ENDORFINA | Chiquititas, Paçoca.
Fanfiction"Você tem dinheiro o suficiente pra entupir o quarteirão, mas vai ser roubada se continuar andando assim na rua, deixa eu te ajudar." Amélia havia acabado de retornar da Bélgica com sua família e iria ficar na casa de seus tios, junto de seu irmão D...